Os direitos das mulheres estão regredindo no mundo, alertam as associações e entidades de proteção aos direitos femininos. Porém, também há muitas mobilizações para combater as discriminações e violência de gênero.
Em um panorama da situação até este início de 2023, algumas iniciativas ganham destaque, como os movimentos feitos pelas feministas especialmente no ano passado para defender o direito ao aborto – seja ele inexistente, ameaçado, ou questionado em muitos países.
Um exemplo emblemático é a virada nos Estados Unidos. A Suprema Corte revogou em junho a sentença "Roe versus Wade" de 1973, que garantia o direito à interrupção voluntária da gravidez. Desde então, cerca de 20 estados proíbem, ou limitam a prática.
Na Europa, esse direito foi enfraquecido na Hungria e na Polônia. É também "consideravelmente prejudicado" na Espanha e na Itália, onde muitos médicos se recusam a praticá-lo, de acordo com o coletivo Aborto na Europa, as mulheres decidem.
A Colômbia deu, por sua vez, um passo adiante ao descriminalizar até a 24ª semana de gravidez. Isso colocou o país entre os mais avançados da região neste sentido.
Alerta no Afeganistão
Inúmeras Organizações Não-Governamentais alertam sobre a degradação dos direitos das mulheres no Afeganistão, desde o retorno dos talibãs ao poder, em agosto de 2021.
"O cenário é sombrio", declarou a Anistia Internacional, que exorta a comunidade internacional a elaborar "uma estratégia sólida e coordenada" para "pressionar" o regime islâmico.
O Talibã multiplicou medidas para tirar as mulheres do espaço público e proibiu as meninas de terem acesso ao ensino médio e à universidade.
"As mulheres que protestaram pacificamente contra essas regras opressivas foram ameaçadas, detidas, presas, torturadas", denunciou a Anistia.
Revolta iraniana
"Mulheres, vida, liberdade": elas estão no centro dos protestos sem precedentes que abalam o Irã desde a morte, em setembro de 2022, da jovem Mahsa Amini. A curdo-iraniana de 22 anos morreu três dias depois de ser presa pela polícia da moral por não usar o véu corretamente.
As mulheres jovens têm sido a ponta de lança dessas manifestações. Algumas delas tiraram e queimaram o véu, colocando sua integridade física em risco. Esses protestos resultaram em um movimento generalizado contra o regime islâmico.
As autoridades "aplicaram de forma violenta códigos de vestimenta discriminatórios para as mulheres" e "recorreram à força excessiva e mortal contra os manifestantes", de acordo com a ONG Human Rights Watch.
Ucrânia, uma guerra "devastadora" para as mulheres
Desde a invasão russa da Ucrânia, as mulheres vivem no exílio, ou enfrentam um dia a dia marcado pela violência. A guerra tem "repercussões devastadoras" para mulheres e meninas ucranianas, alerta a ONU Mulheres.
Em um relatório recente, destaca um "aumento alarmante da violência baseada em gênero, relações sexuais em troca de alimentos e sobrevivência (...) e casamentos de menores". Várias organizações denunciaram o uso do estupro como "arma de guerra" pelas forças russas.
Apesar da guerra, a Ucrânia ratificou no ano passado a Convenção de Istambul, o primeiro tratado internacional que estabelece limites legais para impedir a violência contra as mulheres.
Avanços
Apesar do revés de seus direitos em certos países, as mulheres despontaram em outras áreas, como Matemática, Astronomia e Justiça. A ucraniana Maryna Viazovska conquistou a medalha Fields no ano passado, junto com outros três matemáticos. Ela é a segunda mulher a alcançá-la desde a criação dessa distinção, em 1936.
A nova promoção da Agência Espacial Europeia inclui três homens e duas mulheres: a britânica Rosemary Coogan e a francesa Sophie Adenot.
No México e no Brasil, duas mulheres presidem dois tribunais supremos: Norma Lucía Piña e Rosa Weber lideram, respectivamente, a maior autoridade judicial de seus países. E, na Espanha, uma lei pioneira na Europa foi aprovada em fevereiro, permitindo a licença médica menstrual.