Camila Maccari, especial
Talvez você até estivesse esperando pela notícia de que seria desligada da empresa. Ou a informação veio do nada e pegou você completamente desprevenida. Em ambos os casos, uma demissão pode trazer aquele sentimento desagradável de fracasso que chega de mansinho e insiste por um tempo – o que, de acordo com a coach de carreira Fernanda Costa, é completamente normal:
– Somos seres sociais e, quando somos "descartados", o sentimento é de não pertencimento, de não sermos adequados o suficiente. Tudo isso é natural e faz parte do processo de ruptura, mesmo levando em conta que uma demissão pode ter mil motivos: redução de custo, incompatibilidade de valores, novas expectativas sobre a vaga, mudança de gestor ou diretoria, remodelação de setor, entre outros. Definitivamente, falta de competência não é o único motivo pelo qual as pessoas são demitidas.
Mesmo assim, faz parte deste momento experienciar a tristeza e o luto. Para a psicóloga e coach Karine Sellmer, dar um tempo a esses sentimentos é indispensável para você se refazer e ficar pronta para um próximo passo.
– O momento é de aceitar essa tristeza, se for o caso, e se questionar. Se não estava claro que ia acontecer porque, às vezes, as pessoas sabem que estão para ser demitidas e se a justificativa não ficou muito clara, está nas suas mãos descobrir o que pode ter acontecido, entender se você estava feliz, se seguia entregando um bom trabalho. Sempre vale saber se existe algo que possa ser feito diferente no futuro.
Tudo isso sem culpa – embora, sabemos, o sentimento seja uma pedrinha insistente no sapato. Ainda mais, como lembra Karine, no cenário atual, com a reforma trabalhista e a mudança nas formas de trabalho.
– É preciso entender também esse novo contexto e perceber que, muitas vezes, por melhor que fosse o seu trabalho, manter-se naquela posição não estava nas suas mãos. Se o cenário mudou e a estabilidade de um emprego não é mais coisa garantida, é preciso começar a agir a partir dessa realidade – explica Karine.
Donna reuniu dicas das duas especialistas para quem acabou de passar por uma demissão e não sabe quais os próximos passos:
Repense sua vida profissional
Muitas vezes, a demissão faz com que você perceba que não estava mais satisfeita profissionalmente. Para Fernanda Costa, vale pegar papel, caneta e bolar uma nova rota de ação que passe por várias perguntas e respostas: "É isso que quero continuar fazendo? Como está o mercado e os salários para a minha área de atuação? Que curso posso fazer para me atualizar? Que tipo de empresa quero buscar? Aonde quero chegar? O que preciso fazer para que isso aconteça?".
Assuma a sua situação
Tudo bem viver um período de luto – perder um emprego é, no fim, uma perda. Mas, de acordo com as coaches, a autocomiseração e a vergonha não vão ajudar você a conquistar uma nova posição. É hora de fazer contatos e se colocar à disposição. Anunciar que você foi desligada e que está buscando um novo trabalho. E, em uma próxima entrevista, Karine explica que a honestidade é fundamental.
– Diante do cenário de reestruturações, é muito comum as pessoas serem demitidas, mas certamente isso faz com que o RH se questione. Se você tiver clareza de por quê saiu, pode falar sobre isso de uma forma positiva. É mais fácil contar que a empresa quis enxugar o quadro, por exemplo, mas nem sempre é a verdade. E, se não for, tudo bem, você pode ser sincera. Está tudo bem em dizer que foi demitido porque, naquele momento, não conseguiu fazer determinada entrega, ainda não tinha as habilidades, mas que lidou com isso depois de identificar o problema.
Faça um balanço das suas finanças
Se você conta com o dinheiro da rescisão, pode se organizar para ficar um tempo sem uma renda fixa. Karine Sellner sabe que nem todo mundo pode contar com esse luxo mas, se tiver a possibilidade, a coach indica colocar as contas na ponta do lápis e aproveitar o tempo disponível até encontrar uma vaga que realmente faça sentido para você.
– O dinheiro dá a liberdade para colocar aquele autoconhecimento em prática. Em muitos casos, a questão financeira faz necessário aceitar o primeiro emprego que aparece. Se não for o caso, saiba exatamente o que você quer e não aceite algo que vá contra isso – afirma.
Aproveite o tempo de ócio
Estabeleça uma rotina ativa no período em que estiver entre trabalhos. A dica de Fernanda é investir em cursos de atualização na sua área – vale buscar o que tem disponível gratuitamente na internet, por exemplo.
– Você se organiza para buscar uma nova vaga ou, quem sabe, até procurar alguma atividade paralela nesse meio tempo, para levantar um dinheiro extra e poder fazer tudo com mais calma – sugere.
Invista no networking
Você já deve ter ouvido muitas vezes sobre a importância de uma boa rede de contatos para o sucesso profissional. São as pessoas que você conhece que podem ajudar você a conquistar uma nova posição. De acordo com Karine, o networking é crucial nesse período, mas você deve ter em mente que cultivar essa rede é importante em todos os momentos:
– Vai desde a rede construída no LinkedIn, as pessoas com quem você teve trocas profissionais e até os colegas do antigo emprego. No último caso, vale ressaltar que é uma relação que se constrói apenas quando você fez um bom trabalho. Mesmo que a sua saída tenha sido por alguma incompatibilidade dentro da empresa, vale sempre sair bem, não fechar aquela porta.
Busque ativamente
Fernanda afirma que, na hora de partir para a procura ativa, um currículo atualizado, moderno e objetivo é o primeiro passo – é por isso que é recomendado investir no seu LinkedIn. Vale também se cadastrar em plataformas de busca de emprego e acessá-las diariamente. Além disso, mantenha-se na vitrine:
– Participe de palestras, cursos, workshops. Além de aprender, você interage, conhece mais pessoas e pode ficar sabendo de oportunidades por aí.
Adeque-se
Pode ser que a vida de carteira assinada que você conhecia não seja uma realidade próxima. Karine relembra que as leis trabalhistas mudaram e que é preciso se adequar para seguir no mercado.
– Pense nisso como uma virada de página. Existe um novo formato e, às vezes, você vai ter que cair de paraquedas e se adequar. Sair de um emprego com carteira assinada para uma vida de autônomo exige equilíbrio financeiro, já que os ganhos nem sempre são contínuos e, muitas vezes, significa mais trabalho. Se for o caso, é importante entender essas alterações na sua rotina e seguir a partir daí – ensina.