Você talvez já tenha ouvido falar sobre o blackfishing - a modinha da vez de "ser negra" no verão, como se fosse um botãozinho que você liga e depois desliga quando a estação terminar. É neste período do ano que ganha espaço também outra prática inconveniente: o chamado blackface, que surge em todo Carnaval. Como o nome entrega, blackface é quando a imagem do negro é caricata e ridicularizada.
Como surgiu o blackface?
Se você não está familiarizada com o termo ou com a prática dele, vou explicar. O blackface surgiu no século 19, nos Estados Unidos, como prática de atores do teatro que se pintavam com carvão de cortiça para representar personagens afro-americanos. Isso acontecia porque os negros não podiam participar de manifestações artísticas. Infelizmente, a prática se popularizou, tendo espaço no teatro europeu e até na televisão. Os negros eram retratados de maneira debochada e bastante exagerada.
Essas sátiras com a imagem do povo negro foram praticadas por mais de 100 anos, até finalmente serem reconhecidas como racismo e (quase) eliminadas das artes. Infelizmente, ainda é possível encontrar personalidades da mídia que fazem uso dessa ridicularização - foi o caso de um personagem de Paulo Gustavo há alguns anos ou de vídeos de youtubers, como a Kéfera. Alguns se retrataram, outros não.
Mas é justamente na época de folia e bloquinhos que o blackface retorna com força. Pelas ruas, encontrarmos pessoas fantasiadas de "Nega Maluca", colocando uma peruca afro, passando batom vermelho de uma forma extravagante e pintando o corpo e o rosto de preto.
E por que está errado?
Assim como a blackfishing, pintar-se e vestir-se de negro por conveniência é um ato de racismo. Ainda mais sabendo da história do povo negro e da imagem de marginalização, preconceito e inferioridade ainda existentes.
Na última semana, o termo volta à tona depois que uma maquiadora paulista fez um vídeo de maquiagem para o Carnaval inspirado na personagem Nega Maluca. Bruna Martorelli publicou em suas redes sociais um tutorial se transformando em uma mulher negra - sendo ela branca, loira e de olhos claros. Mesmo sendo alertada, ela bloqueou as críticas e manteve a postagem. Depois da repercussão negativa e possíveis denúncias às plataformas sociais, o vídeo foi apagado.
O que não faltam são fantasias para o Carnaval. Vamos curtir este período tão divertido do ano da melhor maneira possível sem machucar ou ferir ninguém?
Duda Buchmann é blogueira que gosta de falar do mundo feminino, principalmente da mulher negra, e de inspirações que elevem a autoestima delas. Escreve semanalmente em revistadonna.com.