Na publicidade brasileira, enquanto algumas marcas dão um passo para frente em diversidade, respeito e consciência, outras dão dois para trás. No início desta semana, a Perdigão lançou sua campanha de Natal. O vídeo está causando polêmica por mostrar uma família negra no papel de necessitada e uma família branca na posição de provedora.
A ação gira em torno do fato de que quando uma família compra um chester da marca, outro é doado para uma família que não tem. A porta-voz da família Silva agradece pela oportunidade de “ter uma ceia de Natal que eles apenas imaginavam”, enquanto o senhor branco da família Oliveira explica como funciona a doação do alimento e como isso pode ajudar outras pessoas que não têm as mesmas condições deles.
Para mim, a ação foi extremamente infeliz. A propaganda é carregada de racismo e velhas trivialidades.
Assista:
Vamos analisar os estereótipos racistas:
Família negra (Os Silva):
- Mulher negra sozinha como porta-voz: ausência de figura paterna;
- Casa humilde, com decoração simples;
- Todos sentados com um semblante de gratidão pela celebração do Natal dos sonhos com um Chester à mesa.
Família branca (Os Oliveira):
- Homem branco como porta-voz: família estruturada, no estilo "margarina";
- Casa com mais abundância na decoração;
- Família solidária, afinal, proporcionou um Natal especial à família negra.
São clichês que a população negra já cansou de ver e tanto fala para ser mudado (principalmente na mídia, onde deveria tratar a realidade e incentivar a evolução de estruturas da sociedade e não reforçar estereótipos ultrapassados). Cadê a consciência racial?
A vulnerabilidade social foi tratada da maneira mais superficial possível. Obviamente que em 30 segundos de comercial não há tempo nem possibilidade de ter uma profundidade, mas então, melhor nem entrar por esse viés, né?
Homem branco como provedor de um Natal alegre para uma família negra? Sério? Nem toda família negra é miserável. Chega de estereótipos raciais! A gente não aguenta mais!
Se toda a comoção que rola na mídia por mais diversidade, representatividade negra, LGBTQI e feminina não é suficiente para campanhas assim não irem mais ao ar, o que está faltando? Equipes preparadas? Profissionais dessas minorias para abordar um conteúdo melhor? Provavelmente. Só sei que, do jeito que está, não há como evoluir.
Após a repercussão negativa do comercial, a Perdigão emitiu um comunicado: “A Perdigão lamenta que a campanha publicitária de Natal tenha ofendido qualquer um de nossos consumidores. Nunca foi essa a nossa intenção. Falar de generosidade é, para nós, uma forma de união e agradecimento a todos os nossos consumidores, que há três anos colaboram para o Natal de mais de 6 milhões de pessoas, independente de cor, gênero, raça ou religião. É nisso que acreditamos".
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Duda Buchmann é blogueira que gosta de falar do mundo feminino, principalmente da mulher negra, e de inspirações que elevem a autoestima delas. Escreve semanalmente em revistadonna.com.