Quem disse que enfiar várias pessoas dentro de uma casa seria fácil? O BBB pode até parecer uma colônia de férias, mas a troca de conhecimentos e vivências entre os participantes às vezes vai além do entretenimento: as discussões nesta edição do programa, por exemplo, têm trazido alguns ensinamentos importantes para os fãs do reality.
Calma, antes de torcer o nariz, deixa eu fazer minhas considerações.
Apesar da futilidade, há ali uma experiência antropológica interessante. E com quase uma semana de programa no ar, já temos diálogos que eu gostaria muito de compartilhar com vocês. Preciso dizer, antes de tudo, que adoro o programa e acredito que este seja o com maior número de negros em todas as edições (alguém me corrige se eu estiver errada, por favor). Confesso que ainda não tive muito tempo para assistir, mas, com a velocidade dos comentários nas redes sociais, é difícil ficar imune aos acontecimentos da casa.
Dois momentos me chamaram a atenção. Lições básicas que, apesar de óbvias, muita gente ainda não se dá por conta (ou não aceita). A participante Gabriela Hebling, paulista, negra, 32 anos é quem se destaca com suas posições. Em um papo com duas participantes, Gabriela precisou esclarecer alguns pontos essenciais sobre racismo. As duas mulheres brancas afirmaram que haviam sofrido racismo em razão de sua cor, seu cabelo e olhos claros. Gabriela, junto de outra participante negra, Rízia, esclareceu que aquilo não poderia ser racismo. Na verdade, poderia ser uma injustiça ou preconceito, mas o termo específico "racismo" é utilizado para mostrar o sistema de opressão do poder branco, por questões históricas – ou seja: as duas deveriam ter antepassados escravizados.
Em outro momento, duas mulheres conversavam sobre produtos capilares, falando do cabelo de outra participante, que era cacheado, até que uma quarta se manifestou dizendo que seu cabelo também era "ruim" por não ser liso. Gabriela logo alertou que aquela afirmação era errada, e que adjetivar um cabelo negro assim era uma atitude preconceituosa.
Que bom que alguns termos equivocados estão sendo desconstruídos por lá, afinal, os índices de audiência do programa pelo país são altos. No final das contas, diálogos assim em rede nacional são vitórias no combate ao preconceito que insiste em existir.
Duda Buchmann é blogueira que gosta de falar do mundo feminino, principalmente da mulher negra, e de inspirações que elevem a autoestima delas. Escreve semanalmente em revistadonna.com.