Todo verão é a mesma coisa: a gente escuta ou lê que as pessoas brancas estão "pretas/negras" (ao invés de bronzeadas) ou que estão "da cor do pecado", entre outras coisas errôneas do gênero. Talvez vocês não saibam, mas a gente se incomoda com isso, viu? Parece que agora ser negro é moda, é status. Mas assim que passar, como vai ser?
Eu acho muito delicado esse assunto, e sei que devem ter muitas caras tortas lendo isso, pois não entendem e, realmente, pra quem está do lado "de fora", pode parecer bobagem, mas não é. "Estar negro" quando convém é algo que machuca quem carrega todo o preconceito o ano inteiro por simplesmente ter a pele escura, o cabelo afro e carregar a cultura dos antepassados.
Quero falar especificamente de blackfishing, que acontece quando pessoas de pele clara se apropriam de itens da cultura afro, utilizando as redes sociais para se auto beneficiarem. A prática já foi alertada nos últimos meses entre influenciadoras americanas, e agora apareceu por aqui também.
Explico: na última semana, o caso da influenciadora Bianca Andrade alarmou o ocorrido: ela fez box braids (aquelas tranças finas, feitas desde a raiz do cabelo, que unem fibra sintética e cabelo natural) no final do ano passado e por isso já foi bem criticada e acusada de apropriação cultural. Dias depois, ela publicou uma foto com o cabelo afro (ela retirou as tranças e o cabelo ficou todo crespo), sendo novamente criticada.
O que aconteceu? A influenciadora, com seu falso cabelo afro, recebe uma chuva de elogios. Poxa, sabe? Admiro quem reconhece o erro e respeita o local de fala, mas algumas pessoas se perdem, talvez por conta da audiência. Isso porque outras meninas com cabelo afro natural são massacradas por exibirem seus fios naturais. Tem algo errado aí, não?
Situações parecidas ocorreram com outras influenciadoras – também brancas. É o caso da ex-BBB Munik Nunes:
E da modelo Isabella Fiorentino:
A aceitação da mulher negra tem sido tão lenta e difícil que realmente é um absurdo quando brancas se utilizam de particularidades afro e são aclamadas por isso, enquanto as negras estão na batalha para simplesmente ser quem são.
Não tem problema em achar cabelo crespo, cacheado, pele negra, lindos, aliás, é ótimo, é isso que queremos! Porém, você pode apreciar uma cultura sem usar os elementos associados a ela.
Enquanto tanta mulher negra sofre preconceito pela aparência, é hipocrisia dizer que somos livres e iguais para termos o visual que quisermos em conta dessa falsa liberdade.
E antes que o argumento de racismo reverso passe por sua cabeça, ele não existe! Por que a mulher negra que alisa o cabelo ou pinta de loiro, ou usa lentes de contato claras, ou faz cirurgias para amenizar os traços afro, não está se apropriando culturalmente também? A mulher negra não tem os privilégios que a branca tem, e às vezes fazem isso por adequação estética.
Ah, aproveitando: as festas de carnaval estão próximas, evite fazer blackface também! É o fenômeno de representar os negros de uma forma caricata, de ridicularização.
Duda Buchmann é blogueira que gosta de falar do mundo feminino, principalmente da mulher negra, e de inspirações que elevem a autoestima delas. Escreve semanalmente em revistadonna.com.