Dias atrás estava no banco, na área dos caixas eletrônicos, quando vi uma senhora baixinha, de cabelos brancos, muito bem arrumada e com uma linda echarpe colorida no pescoço. Seu bom gosto chamou minha atenção. "Bacana manter- se vaidosa assim, apesar da idade", pensei. Ela não tinha menos de 80 anos, com certeza.
Paguei minhas contas, retirei dinheiro e, quando estava saindo do banco, percebi que ela permanecia parada em frente ao outro caixa eletrônico, com o cartão na mão. Como não havia nenhuma atendente por perto, me ofereci para ajudar.
Uma simpatia a senhora. Depois de fazer as transações bancárias, continuamos conversando mais um pouco na frente do banco. Quando me despedi, alegando pressa porque tinha que trabalhar, ela me ofereceu carona até em casa.
- Imagina, moro aqui pertinho, são poucas quadras de distância.
- Não custa nada menina, te levo até lá.
- Onde está o seu motorista? (claro que imaginei que tinha alguém no carro esperando por ela).
- Quem disse que eu preciso de um? Sou uma ótima motorista há mais de 50 anos! -contou, cheia de orgulho.
Fiquei na dúvida se aceitava ou não. Eu queria caminhar um pouco, mas, por outro lado, fiquei supercuriosa para ver como ela se sairia na direção de um carro, ainda mais num trânsito complicado como o de Florianópolis. Decidi aceitar a gentileza.
- Se for mesmo o seu caminho, aceito a carona.
Era um fusquinha, não lembro mais de que ano, mas superbem cuidado, parecia novinho, segundo ela totalmente original. Há quantos anos eu não andava num Fusca. Quantas boas lembranças!
Foi então que ela me contou que ficara viúva há poucos meses, depois de mais de 50 anos de casamento. Claro que estava triste e que sentia falta do companheiro, mas havia decidido que aproveitaria bem o tempo que ainda tem de vida. Sempre gostou de dirigir, mas poucas vezes o marido deixava. Agora, era dona do carro que foi dele. E era dona da própria vida.
Se arruma bem bonita todos os dias e sai para passear, fazer compras, ver as amigas, ir ao cinema e ao teatro, paixões desde o tempo de menina. Vive cada dia como se fosse o último, aproveitando bem o tempo que lhe resta.
Ao chegarmos em frente ao meu prédio, agradeço a carona e, antes de descer, pergunto:
- Por acaso a senhora tem carteira de motorista?
Ela deu um sorriso maroto e me disse: "isso eu te conto quando a gente se encontrar de novo."
Ela já ia longe e eu continuava ouvindo o barulho do motor do fusquinha.
Quando me despedi, alegando pressa, ela me ofereceu carona até em casa
Viviane Bevilacqua
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