É a combinação única entre conforto e um estilo inconfundível que faz de Reinaldo Lourenço um dos principais nomes da moda nacional. Considerado o rei da alfaiataria no país, o estilista é especialista em criar peças-desejo que mesclam referências masculinas e utilitárias, mas também mantêm uma dose certeira de glamour.
Em setembro, Reinaldo esteve em Porto Alegre para um almoço com clientes promovido pela multimarcas Scalia, que revende as peças do estilista com exclusividade no Estado. Donna aproveitou a passagem dele por aqui para bater um papo sobre os rumos da moda e como consumimos as tendências atualmente. Slow fashion, sustentabilidade e o futuro das fashion weeks também entraram na pauta.
Em seus mais de 30 anos de carreira, como você vê a evolução da forma como consumimos moda? Acha que estamos mais atentos à moda e menos às roupas?
As pessoas estão dando mais valor à moda. Mas, por outro lado, acho que tem muita coisa ruim. Não acho que a moda esteja em um bom momento, a moda já foi muito mais criativa.
Você já disse, em entrevistas, que há muita roupa no mundo, que as pessoas buscam hoje por experiências.
O modo de consumo mudou. As pessoas estão mais preocupadas com viagens, com cultura, com experiências gastronômicas, e com roupa também. Por isso temos que fazer um trabalho que vá mais além de ser criativo, com um conceito de moda, um produto que dê desejo. O grande segredo da moda é o desejo.
Tem muita roupa no mundo, as pessoas compram sem necessidade e é mais coisa que sobra. Prefiro fazer uma roupa com qualidade, que dure mais tempo, e acho mais contemporâneo como consumo".
REINALDO LOURENÇO
Diversos estilistas lançaram coleções com fast fashion, como você fez com a C&A. Hoje, as pessoas também têm mais acesso aos conteúdos de moda, principalmente pelas redes sociais. A moda está mais democrática?
Sim, mas essa democracia tem um lado positivo e um negativo. O negativo é que tem muita roupa no mundo, as pessoas compram sem necessidade e é mais coisa que sobra. Prefiro fazer uma roupa com qualidade, que dure mais tempo, e acho mais contemporâneo como consumo.
Temos falado cada vez mais do slow fashion, de não seguir tanto as tendências…
Hoje conta mais a individualidade, o gosto pessoal.
E como você vê tendências de consumo como a moda sustentável?
É o futuro. Temos que ser sustentáveis, sim, apesar de o Brasil não estar preparado para essa iniciativa.
Nas ruas, temos visto cada vez mais looks com a pegada alfaiataria combinadas com outras peças mais street, como tênis e camiseta. A alfaiataria ficou mais pop?
Ai, graças a Deus, né? (risos) Amo fazer alfaiataria, sempre fiz, e acho que você pode usar tênis até com vestido.
No seu último desfile, você buscou referências em Miami, resgatou o néon e falou sobre art déco. E agora, dá para adiantar algo da próxima coleção?
Vai ser um desfile que mistura o masculino e o feminino. As mulheres precisam olhar para o lado masculino. Elas são mais empoderadas hoje e podem estar com uma roupa linda de babados, mas podem estar com um blazer também.
Você é um dos estilistas que se mantém firme no line-up da SPFW. Como vê a importância de estar em uma semana de moda em tempos em que tantas marcas optam por apresentar suas coleções de maneira solo?
Eu gosto, acho importante a cada seis meses mostrar as minhas ideias, a minha coleção. Acho importante.
Aliás, como você vê a relevância das semanas de moda hoje?
O desfile ainda vai ser uma grande plataforma para se mostrar roupas, produtos de moda.
Mudou a forma como recebemos o conteúdo de moda, não é? Antes era exclusivamente das revistas, e hoje temos também as blogueiras, as redes sociais...
Você tem que tomar cuidado para saber de onde recebe. Porque quando você olha para tudo, você acaba não olhando para nada, entende?
Vivemos um momento em que a informação vem de todos os lados. Como é para você filtrar o que é relevante?
É relevante para mim o que eu gosto, olhar para dentro de mim. Temos que olhar mais para nós mesmos.
Que tipo de roupa as mulheres querem hoje?
As mulheres querem conforto. Todos nós, os homens também.
Qual seu maior ensinamento às mulheres que desejam ser elegantes?
A primeira coisa que temos que ver é o conceito de elegância, que mudou. Nos anos 1950, havia um jeito de enxergar a elegância, hoje, é outro. Hoje elegância pode ser você estar usando um vestido estampado, rodado, franzido, mas com tênis. A elegância hoje é mais descompromissada. A mulher não pode parecer que se arrumou muito. Às vezes, as roupas são muito decoradas, a pessoa está muito maquiada, faz um cabelão, isso deixa velho, sabe? Hoje tem que parecer que a gente não está preocupado em se vestir. Tem que ser uma coisa mais descontraída, mesmo em um look de festa, um look mais importante.
O que torna uma mulher poderosa e com estilo?
Personalidade, só isso. O poder está dentro de nós.
Que dica você dá para quem ainda não encontrou seu próprio estilo?
Tem gente que não vai encontrar nunca e tem gente que encontra. É muito pessoal, é um dom.
Para encerrar, o que distrai você depois de um dia cheio?
Ficar na minha casa. Adoro ficar no meu quarto lendo, dentro do meu universo. Me relaciono com muitas pessoas, converso muito, tenho muitos funcionários, muitas festas para ir. Fico feliz quando posso ir para a minha casa.