Uma nova iniciativa de consumo consciente na moda está despertando o interesse de quem quer comprar (cada vez) menos e ainda se manter estilosa. Você sabe o que é um armário compartilhado? É como se fosse um brechó, só que, em vez de comprar, você aluga as peças.
E não é um serviço apenas para ocasiões como casamentos ou formaturas, que é uma prática cada vez mais comum. Vale para o dia a dia, para o trabalho, para um evento diurno no final de semana e até uma festinha na sexta à noite.
Porto Alegre tem ao menos três projetos assim: o Me Empresta, o Otra Vez, e a Nolita Dress Store. Apesar de algumas diferentes entre eles, todos foram criados em torno da ideia de acervo compartilhado.
Conheça um pouco sobre cada um deles:
Me Empresta Poa - @me_empresta_poa
Rua Paulino Teixeira, 85, bairro Rio Branco, Porto Alegre
Michele Zavadil teve a ideia de ter um acervo compartilhado ao viajar para Londres e perceber que por lá essa é uma prática bem comum. Como já era dona de uma marca de roupa, que trabalha com resíduos da indústria, aproveitou para usar o mesmo ponto físico para as duas finalidades - o aluguel de peças do acervo e a venda das roupas autorais. Começou pegando itens de suas coleções que não eram vendidos e doações de amigos estilistas para construir o armário que tem hoje.
O Me Empresta oferece planos mensais, com valores que variam de R$ 50 a R$ 150, e cada plano dá direito a um número de peças por mês. O mais em conta garante três, por exemplo. A partir do momento que a cliente faz a assinatura no site (o pagamento pode ser realizado com cartão), ela já pode agendar para retirar as peças – sempre com horário marcado.
O projeto de Michele ainda oferece um trabalho de consultoria, pois ela ajuda a cliente na montagem dos looks. Se a roupa não estiver limpa no ato da devolução, é cobrada uma taxa da lavagem. As peças podem ser retiradas em datas diferentes dentro do mês, mas não acumulam de um para o outro.
A ideia deu tão certo que o projeto foi selecionado em um edital público do RS Criativo, um programa do governo do Estado voltado para startups. Foram 16 empresas escolhidas para se capacitarem e desenvolverem seus negócios.
– Ainda vai demorar um pouco para a grande massa realmente ter uma postura de escolher marcas sustentáveis para consumir. Mas eu acredito sim, que esse é o futuro da moda – comenta Michele.
Otra Vez - @otra.vez.poa
Rua Duque de Caxias, 288 - Centro Histórico, Porto Alegre
Bruna Stephanou é socióloga e trabalha criando projetos, principalmente voltados para moda sustentável. Dona de um brechó desde 2017, acabou por perder o interesse em vender e decidiu encarar o desafio de ter um armário compartilhado como objeto de estudo. Foi assim que surgiu o Otra Vez, proposta que, segunda ela, constrói junto ao público a noção de "reaproveitamento de recursos e compartilhamento de roupas":
– Eu foquei na economia circular e criativa. Esses são os pilares do negócio.
Os planos mensais variam de R$ 60 até R$ 210, sendo que o mais barato dá direito ao aluguel de seis peças, e o mais caro de 16.
Não é necessário lavar a roupa antes de devolver, pois eles possuem uma parceria com uma lavanderia do bairro. E se você não quiser ir até lá, o aluguel pode ser feito virtualmente via Pedal Express - uma empresa de entrega de bicicleta.
Sobre a resistência de aceitação do público, Bruna afirma:
– O meu trabalho é ainda mais complexo porque eu tenho que convencer as pessoas que vale a pena, tanto pelo dinheiro poupado, quanto pela questão da sustentabilidade.
Nolita Dress Store - @nolitadresstore
Rua Mostardeiro, 157, sala 806, bairro Rio Branco, Porto Alegre
Fabiane Vieira é formada em design de moda e teve a ideia da Nolita Dress Store há cerca de dois anos, em função de uma necessidade própria. Precisava encontrar um vestido de festa, mas não encontrou seminovos para vender e os modelos que tinha em brechós eram muito antigos.
– Foi aí que eu pensei em fazer algo focado em vestidos de festa, um item que a gente usa tão pouco, muitas vezes só uma vez e não quer repetir, e aí fica estocado no armário, fazendo volume – conta.
No início, recebia vestidos de amigas para fazer a revenda. Com o tempo, percebeu o potencial do aluguel. Hoje, a Nolita atua das duas formas.
Se a gente continuar produzindo e consumindo nessa escala absurda, não sei onde vamos parar.
FABIANE VIEIRA
designer de moda e proprietária do Nolita Dress Store
Fabiane garante que há uma curadoria criteriosa com as peças antes de elas entrarem em estoque.
– Buscamos vestidos em bom estado de conservação e atuais.
As peças mais antigas ela doa para brechós beneficentes.
Fabiane conta que o objetivo principal é dar um novo sentido às peças que ficam paradas no guarda-roupa. Algumas clientes oferecem seus vestidos para alugar – e é uma possibilidade de elas mesmas usarem o modelo novamente, sem que ele fique parado quando isso não acontece.
– Isso é muito bacana! De não precisar do vestido agora, mas saber que pode deixar ele em um lugar em que ele vai continuar rendendo e não só ocupando espaço no armário. E quando precisar, ele está lá – explica Fabiane.
Fabiane critica o consumo desenfreado e faz o alerta:
– Se a gente continuar produzindo e consumindo nessa escala absurda, não sei onde vamos parar. Não existe outro caminho para o nosso planeta que não o reaproveitamento e uma consciência maior.