O racismo no mundo da moda virou, mais uma vez, tema de debate nesta semana, depois das polêmicas envolvendo a comemoração dos 50 anos de Donata Meirelles, diretora de estilo da Revista Vogue. A festa de Donata foi particular, mas respingou em sua figura pública e, nesta quarta-feira (13), a socialite pediu demissão do cargo.
A Revista Vogue Brasil prestou uma nota de esclarecimento, dizendo abominar qualquer situação racista. Quem acompanha o mundo fashion, sabe que vez ou outra marcas e publicações aparecem se desculpando por algum comportamento racista - o mais comum deles é o blackface, quando alguém cor clara pinta o rosto de um tom mais escuro e simula características de pessoas negras em uma fantasia, reforçando estereótipos que os ativistas buscam desconstruir . Relembramos aqui algumas das polêmicas racistas na moda.
Vogue Brasil e o tema África Pop em seu Baile de Gala de 2016
Todo ano, a Revista Vogue organiza o tradicional e mega concorrido baile de gala, onde recebe apenas as celebridades mais influentes - contando, inclusive, com nomes internacionais. Em 2016, a revista decidiu homenagear a África. Com o tema Pop África, recebeu personalidades, profissionais do mundo da moda, fotógrafos e outros ilustres com looks que tentavam unir características do continente e moda. A festa rendeu uma grande polêmica por causa da apropriação cultural apontada por ativistas e internautas. Entre os convidados, teve quem apareceu usando cabelo crespo como acessório, muitos turbantes em pessoas brancas e o famoso blackface, com mulheres brancas utilizando maquiagem para ficarem com a pele mais escura.
Gucci e o suéter acusado de blackface
Essa polêmica aconteceu logo antes das comemorações do aniversário da diretora da Vogue, Donata Meirelles. No começo do mês, um suéter com balaclava da Gucci rendeu muito nas redes sociais. À venda tanto no site quanto nas lojas físicas. Na divulgação, uma modelo branca usa a blusa preta que tem uma gola que chega até a metade do rosto e uma boca desenhada, com a abertura para a boca de quem está usando a peça foi acusada de blackface. A marca se retratou e retirou a peça de circulação, além de divulgar uma nota pedindo desculpa, além de garantir que todas as peças foram recolhidas e que a label estava se esforçando para transformar o incidente em um momento de aprendizado.
Dior e o antissemitismo de John Galliano
Chefe de Criação da Dior, John Galliano foi demitido em 2011, depois de protagonizar um episódio antissemita. O tabloide inglês The Sun publicou um vídeo amador em que o estilista aparece gritando "Eu amo Hitler" e outras ofensas contra judeus. Na época, testemunhas ouvidas pela polícia disseram, ainda, que ele agrediu verbalmente o cliente de um bar por ser de origem asiática. De acordo com pronunciamento do executivo-chefe da marca, a laber condenava firmememente o discurso de John Galliano, que "contradiz totalmente os valores defendidos por Christian Dior".
Estampas de escravas da marca carioca Maria Filó
Em 2016, a carioca Maria Filó virou assunto nas redes depois de uma consumidora chamar a atenção para o fato de que a estampa de uma das peças era a imagem de mulheres negras servindo brancas. Tâmara Isaac postou em uma rede social um texto que viralizou, depois de visitar uma loja da marca em Niterói, no Rio de Janeiro. Na época, a marca enviou nota se desculpando e se comprometendo a retirar as peças das lojas.
Farm e a estampa do Brasil Colônia
A Farm não aprendeu com o episódio envolvendo outra marca carioca, a Maria Filó. Na coleção de verão de 2017, a label trouxe uma estampa que retratava uma cena no Brasil no século 19. A movimentação em torno da estampa começou depois que um blogueiro carioca percebeu que a cena retratava pessoas negras como escravas. A marca apagou as fotos da estampa de todas as suas redes sociais e postou um pedido de desculpas, afirmando que a peça seria removida das lojas.
Prada com personagens macacos
Foi no final de 2018 que a grife italiana Prada virou assunto pelo racismo contido em uma de suas coleções, a Pradamalia. Entre os produtos estão chaveiros, conjuntos de brincos e pingentes de colar, todos com os macacos de rosto escuro e grandes lábios vermelhos que deram a cara da colaboração entre a marca e a 2x4 New York. O problema é que os bonecos eram parecidos com as caricaturas racistas feitas de pessoas negras do passado, o que gerou repercussão. A grife emitiu um pedido de desculpas, dizendo que o design era uma fantasia, sem intenções de racismo. Disse, também, que retiraria os objetos e personagens de circulação, afirmando abominar todas as formas de racismo.
Gigi Hadid acusada de blackface na capa da Vogue Italia
Quem já viu Gigi Hadid sabe que, além da pele branca, a modelo é loira e tem olhos azuis. Não foi o que apareceu na capa da Vogue Italia de maio de 2018, que mostrava a modelo com a pele mais escura que o usual. Na época, tanto Gigi quanto a publicação se pronunciaram sobre as fotos clicadas pelo fotógrafo Steven Klein por causa da repercussão negativa e da acusação de blackface. De acordo com a revista, a ideia era contar uma história de moda praia com um bronzeado estilizado e disse entender que as imagens tenham causado debate, pedindo desculpas pela ofensa causada. Gigi também se desculpou, mas lembrou que o seu controle em uma sessão de fotografias é inexistente.
Design blackface dos sapatos da Katy Perry Collections
Essa semana, a Katy Perry Collections, label de moda da popstar americana, foi acusada de blackface em uma de suas mais recentes coleções. Entre os itens lançados, estão sapatos estampados com "rostos" de olhos grandes e lábios vermelhos exagerados. A maior polêmica fica à cargo do mocassim na cor preta, interpretado como blackface. Depois que os fãs se revoltaram nas redes sociais, as peças começaram a ser retiradas das lojas de departamento em que estavam sendo vendidas.