A noite do próximo sábado (16) será especial para mim e para milhões de mulheres negras brasileiras. Pela primeira vez, uma mulher negra estará na bancada do jornal mais tradicional e com maior audiência do Brasil. A jornalista Maria Júlia Coutinho, carinhosamente conhecida por Maju, assumirá uma cadeira do Jornal Nacional, da TV Globo.
O programa já tem 50 anos no ar e Maju será a primeira negra a compor a bancada. Demorou, não é? Na década de 1970, a jornalista Glória Maria marcou época ao se tornar a primeira repórter negra a entrar ao vivo na atração. Realmente, demorou até outra mulher negra aparecer no jornal mais importante do país.
Mas por quê? Competência ou incredibilidade?
Em 2017, Maju entrou no rodízio da bancada do Jornal Hoje, programa de notícias da tarde da TV Globo - e a internet vibrou. Ela continuou sendo a "garota do tempo", mas sabendo que tinha muito mais a oferecer. Levou dois anos até a jornalista entrar como apresentadora do jornal da noite. Não sabemos como é o caminho, os bastidores, mas já não via a hora disso acontecer.
A presença de uma mulher, negra, jovem (Maju tem 40 anos) em um dos programas mais tradicionais da TV aberta é um passo gigantesco. A família inteira verá uma mulher negra passando as mais importantes informações do Brasil e do mundo! Isso é incrível e eu estou radiante com a notícia. Eu penso nos sorrisos das crianças, mães, avós negras observando uma igual em um local tão importante. É como sempre digo, a representatividade é algo que nos conforta e nos dá esperança de buscar caminhos melhores, de realizar sonhos e faz com que a gente se sinta acolhida.
Às vezes, parece chato essa rotulação de "primeira a fazer isso", "primeira fazer aquilo", mas as portas se abrem, a dificuldade diminui, é um espaço novo e se torna uma possibilidade para tantas outras que achavam que não conseguiriam mesmo tendo toda capacidade para tal.
Desde que Maju Coutinho apareceu em nossas televisões há 12 anos como repórter, tenho certeza que nasceram muitas Majus no coração de quem agora almeja uma carreira no Jornalismo. Além da habilidade, o carisma fez com que muitas pessoas torcessem por ela, assim como eu.
A Maju já foi alvo de diversos ataques de racismo na internet, mas segue firme por uma causa maior. Somos todas Maju e espero que ela se sinta acolhida em mais um momento de renovação.