"Nasce uma mãe, nasce uma culpa. Nasce uma mãe de gêmeos, nasce uma culpa dobrada". Assim como "você não está sozinha", esse é um dos slogans que norteiam a plataforma Me Two, focada no universo de gêmeos e múltiplos. Inicialmente, o projeto começou como um grupo de WhatsApp com 10 mães, que trocavam experiências e angústias que criar filhos na mesma fase de desenvolvimento trazem.
— Uma das formas de amenizar essas dores é falar sobre elas — explica a mestre em Direito Elisa Scheibe, co-idealizadora da plataforma e mãe dos gêmeos Martin e Franco, de oito anos, na abertura do evento realizado no Salão Beauty Line, localizado dentro do Donna Beauty Pompéia, no Espaço Unisinos Unitec, na noite desta quinta-feira (24).
O bate-papo reuniu mães de gêmeos para um debate sobre saúde mental, equilíbrio e autocuidado na maternidade gemelar com o psiquiatra Cristiano Belém. Foi a primeira reunião presencial da Me Two desde que a pandemia se agravou no país. Muitas das participantes aproveitaram o momento para desabafar sobre dificuldades e anseios que ganharam força no período de isolamento. Privação de sono, culpa materna, romantização da maternidade, divisão desigual de tarefas, carga mental e ansiedade foram alguns dos tópicos recorrentes da noite.
— Que bom ver que é tudo igual — brincou uma das participantes após um dos relatos.
Na conversa, quem tinha filhos mais velhos aconselhava as mães mais novas.
— Depois que eles completaram três anos, minha vida voltou para mim — garantiu uma das mães.
Trabalho em dobro
Se cuidar de um filho só (ou mais de um com idades diferentes) já é uma missão pra lá de desafiadora, encarar a responsabilidade de criar duas crianças ao mesmo tempo também se multiplica.
— Realmente não tem comparação com ter um filho só, assim como não tem comparação com ter trigêmeos — pontua Elisa. —Uma grande dificuldade é entender que, às vezes, você não pode fazer as coisas no automático. Precisa olhar para cada serzinho com as suas demandas pessoais, suas vidinhas separadas.
Pensando justamente nas demandas específicas que a maternidade gemelar apresenta, a Me Two tem como objetivo ser um espaço para que mães de gêmeos encontrem acolhimento e identificação em outras mulheres que vivem ou viveram as mesmas situações que elas. Por meio de cursos, workshops, produtos e conteúdos nas redes sociais, a plataforma busca apoiar e capacitar as famílias para lidar com os desafios e as delícias de ter filhos gêmeos ou múltiplos.
— Depois de tanta troca, tanta conexão, entendemos que precisávamos levar isso para mais mães. Brincamos que, ao pesquisar "gêmeos" no Google, aparecia o signo de Gêmeos, e nada sobre como educar e criar filhos múltiplos — explica Elisa sobre a expansão da Me Two.
Você não está sozinha
Compartilhar experiências com outras mães que vivenciam uma rotina parecida com a sua, como as convidadas fizeram na noite desta quinta, ajuda as mulheres a diminuírem as autocobranças e o sentimento de culpa.
— No momento em que elas falam sobre isso com outras mães que estão em uma situação semelhante, elas estão se validando. A simples validação traz um grande alívio, ajuda a diminuir as emoções negativas — frisa o psiquiatra Cristiano Belém, que participou do papo.
Achar que pode dar conta de tudo sozinha (inclusive das emoções) é uma das muitas dificuldades enfrentadas pelas mães de gêmeos, diz Elisa.
— Quando a gente se dá conta de que, na verdade, precisa de ajuda, a maternidade gemelar fica um pouco mais leve — afirma.
A farmacêutica Vanessa de Almeida Sieben Rocha, também co-idealizadora da plataforma, acrescenta:
— Temos um slogan na Me Two: aqui você não está sozinha. Justamente para acontecer essa identificação entre as mães de gêmeos, para elas verem que os problemas não acontecem só com elas.
No final da noite, Elisa e Vanessa fizeram a "dinâmica da teia", passando um fio de barbante de mãe para mãe, para mostrar que todas estão juntas não somente nas dúvidas e ansiedades, mas também nas delícias de criar gêmeos.
— Somos superpoderosas — resumiu uma das mães, que tem dois bebês de cinco meses.