Quando o casamento de Aline Poulsen, 38 anos, chegou ao fim, organizar e dividir as responsabilidades sobre os dois filhos com o ex-companheiro parecia uma missão impossível. "Como não sobrecarregar ninguém e viabilizar que ambos estejam a par da rotina e da agenda dos filhos?", "como manter uma comunicação saudável com o ex-cônjuge?" e "como fazer com que o fim da relação não afete as crianças?" foram algumas das inquietações enfrentadas pela gaúcha, que decidiu usar sua experiência pessoal para criar uma solução para pessoas que passam pelo mesmo momento.
Para auxiliar no dia a dia de uma mãe divorciada nasceu o Zelle, aplicativo pago para celular que promete facilitar a organização de pais que dividem a guarda dos filhos.
— Comecei a sentir dificuldade em me comunicar com o meu ex e queria passar por aquele momento sem afetar a parentalidade que tínhamos ali. Procurei por alguma ferramenta que pudesse ajudar nessa nova organização, mas não encontrei nada no Brasil — conta Aline, que usou os problemas enfrentados por ela como base para a criação do aplicativo.
Contando com funcionalidades como agenda de compromissos compartilhada entre os responsáveis pela criança, guarda de documentos e informações de saúde e educação, troca de mensagens separadas por tópicos, inclusão de conexões familiares e criação de uma rede de contatos comum, a plataforma vem de uma ideia que surgiu há quatro anos, mas foi lançada apenas em julho de 2021. Os primeiros testes e protótipos, porém, começaram em 2019, quando a arquiteta resolveu dar uma guinada na vida profissional e convidou os amigos Daniel Romani, 45 anos, e Marília Rochedo, 39, ambos da área de tecnologia e também pais, para abraçarem o projeto com ela.
Incubado no Centro de Empreendimentos em Informática da UFRGS, o Zelle atualmente tem cerca de dois mil assinantes e já foi parar até mesmo nos termos de um acordo de guarda compartilhada. O número de pais alcançados pela plataforma é celebrado pela idealizadora, mas são os depoimentos enviados pelos usuários do aplicativo que fazem a gaúcha embargar a voz.
— Costumava me questionar sobre o porquê de estar passando por determinadas situações difíceis e nunca entendia, até o lançamento do aplicativo. Recebendo os feedbacks das pessoas, compreendi que precisei passar por muitas coisas para que tivesse essa ideia, levasse adiante e pudesse ajudar, de alguma forma, outras pessoas. Isso deu um sentido para tudo o que vivi. Hoje, encaro como um propósito de vida — conta Aline, emocionada.
Como funciona
O aplicativo está disponível para Android e iOS e pode ser acessado mediante assinatura - que custa R$ 14,90 ao mês, R$ 77,90 no plano semestral e R$ 119 no anual. Os primeiros 30 dias são gratuitos para novos usuários, e uma assinatura permite o cadastro de até seis filhos ou dependentes e 10 conexões familiares – ou seja, com a assinatura feita por uma pessoa, outras 10 podem utilizar as ferramentas do aplicativo.
O tipo de informação que cada conexão adicionada pode acessar é controlada pelo detentor da assinatura. Assim, por exemplo, mães ou pais que têm filhos com pessoas diferentes podem incluí-las na plataforma e limitar o acesso apenas às informações do filho em comum. O mesmo vale para avós e outros familiares que sejam incluídos na conta.
Mas, apesar de ter sido criado a partir da experiência da guarda compartilhada, o Zelle traz benefícios para todos aqueles que são responsáveis pela criação de uma criança, garante Aline. Conforme a empreendedora, o aplicativo vem sendo usado para a organização de casais que criam os filhos juntos, mães e pais solo e até mesmo por filhos adolescentes, que utilizam a plataforma com autonomia para compartilhar suas rotinas com os pais.
— Um filho na rotina de duas pessoas, independentemente da relação de conjugalidade, sobrecarrega bastante. O aplicativo vem para ajudar as pessoas a promoverem o bem-estar das suas famílias, sejam casadas, separadas ou mães e pais solos — explica Aline.
Para a empreendedora, o app também colabora para afastar o mito cultural de que apenas a mãe precisa "saber de tudo":
— O aplicativo ajuda a mãe a se libertar dessa pressão de que ela é quem precisa se responsabilizar por tudo sobre os filhos. Ela consegue enxergar que pode, sim, dividir as tarefas e que não precisa ficar cobrando ou perguntando se a outra pessoa sabe de determinada coisa, porque está tudo ali, com fácil acesso.
Vale a pena conhecer também
Benditas Mães
A plataforma foi criada por duas gaúchas e funciona como uma rede de conexões para mães, com espaço para debates e catálogo de serviços relacionados à maternidade.
BabyCare
Voltado para pais de bebês, o app permite criar um diário para identificar a rotina da criança, além de registrar sintomas de saúde e o crescimento do pequeno.
- Disponível para iOS e Android
Mamajobs
A plataforma gratuita funciona como um banco de currículos de mães e busca conectar candidatas com empresas que aderiram ao formato de vagas flexíveis.
Maternativa
A ferramenta, focada em maternidade e mercado de trabalho, oferece cursos, workshops e uma série de outras atividades.