Quando Daniela Junco engravidou, passou a questionar qual o propósito do seu trabalho. Era como se ouvisse o bebê perguntar: mãe, o que você faz é tão sensacional que vale a pena me deixar em casa e sair para trabalhar?
“Não” foi a resposta a que chegou a então empresária dona de uma agência de comunicação.
Dessa conversa imaginária nasceu a B2Mamy, aceleradora de startups comandadas por mães. O projeto veio para dar sentido à carreira de Daniela e de outras 7 mil mulheres que já passaram pelas capacitações oferecidas em São Paulo. Neste mês, a iniciativa chega a Porto Alegre, com o painel Maternidade e Carreira: Empreendedorismo, Inovação e Tecnologia, que ocorre nesta terça-feira (10), das 18h às 22h, no Tecnopuc (Av. Ipiranga, 6.681).
Na primeira fase de presença na capital gaúcha, a ideia é promover cursos de curta duração, informa Daniela. Na sequência, ainda em 2020, também devem ser oferecidos os programas de aceleração de empresas. As capacitações são voltadas a mulheres que queiram empreender ou desenvolver novas habilidades que possam contribuir para suas carreiras, independentemente da área. As alunas aprendem desde conteúdos técnicos, como metodologias ágeis para desenvolvimento de projetos, até habilidades como criatividade e senso crítico.
Porto Alegre faz parte da expansão da empresa, inaugurada em 2016 em São Paulo e que hoje está presente também no Rio de Janeiro, em Alagoas, Cuiabá e Brasília. Em cada região que chega, a B2Mamy procura uma parceira local para levar sua cultura de compartilhamento de informação, inovação e acolhimento de mães, afirma Daniela.
Aqui, a community partner é Ana Homem, fundadora da Workamamy, uma plataforma colaborativa que auxilia mulheres a voltar ao mercado de trabalho. Seu projeto é resultado do período em que esteve em São Paulo, em 2018, fazendo um dos programas de aceleração da B2Mamy.
O que importa é responder com segurança e não ter medo de se afirmar como uma profissional capaz, porque é comum sentir-se insegura nessa fase.
ANA HOMEM
Fundadora da Workamamy
Hoje empresária, Ana faz parte dos 48% de mulheres afastadas do emprego em até dois anos depois da licença-maternidade. Segundo pesquisa da FGV de 2016, a maior parte das situações se dá sem justa causa e por iniciativa do empregador, caso da gaúcha, demitida quando seu terceiro filho recém havia completado um ano.
- O processo de reinserção no mercado costuma ser dolorido. A mulher vai nas entrevistas e é constrangida com perguntas sobre quem vai ficar com seus filhos para ela trabalhar - diz Ana.
Na Workamamy, uma conversa inicial gratuita busca entender as necessidades da mãe que está repensando sua carreira. O objetivo da startup, diz Ana, é orientar as candidatas sobre como se comportar em processos seletivos e conectá-las com outros profissionais que possam ajudar nesse momento de transição profissional, como recrutadores por exemplo:
- Orientamos as mulheres a ter firmeza quando surgirem perguntas sobre maternidade. Não há resposta certa, o que importa é responder com segurança e não ter medo de se afirmar como uma profissional capaz, porque é comum sentir-se insegura nessa fase.
Para vencer a insegurança no retorno ao mercado de trabalho, Ana recomenda que as mães ressaltem, nas entrevistas de emprego, aptidões que chegam com a maternidade e podem ser úteis no desenvolvimento profissional da mulher, como a habilidade de negociar, a empatia e a organização.
Espaço de aprendizagem colaborativa
Os programas de aceleração da B2Mamy recebem mulheres cujos negócios estão em diferentes estágios, desde aquelas que têm apenas uma ideia no papel até empresárias que queiram expandir suas marcas.
Desde setembro, o projeto deixou de funcionar no campus do Google, em São Paulo, e passou a promover seus cursos e eventos em um espaço próprio, a Casa B2Mamy, que Daniela define como um ambiente de colearning. A empresária descreve o lugar como um espaço de aprendizagem colaborativo onde também se pode trabalhar - e levar os filhos se necessário, já que a casa oferece o serviço de cuidadoras.
- Queremos criar uma comunidade de educação, onde o protagonismo é da mãe. Em dois meses da Casa, já promovemos 50 eventos, e mais de 1.600 pessoas passaram por aqui - afirma Daniela, que planeja inaugurar 12 novas casas B2Mamy até 2025 Brasil afora.