Estamos vivendo um período de crise financeira, como todos sabem. Muitas famílias estão sendo obrigadas a reajustar o orçamento e, às vezes, é difícil para a criança entender porque não ganhou aquele brinquedo ou a roupa da coleção nova lá do shopping. Mas é importante que as crianças entendam desde cedo a valorizar o dinheiro. Como fazer isso? Vamos conferir algumas dicas.
Uma criança pode ser educada financeiramente recebendo ou não mesada. Esta é o primeiro ponto para a professora e economista-chefe da Fecomércio, Patrícia Palermo, Ser educada significa receber uma série de informações que a ajude a se relacionar com dinheiro, a valorizá-lo, a ponderar escolhas e a perceber que há custos e benefícios envolvidos. Se você der a mesada e simplesmente não disser nada ao seu filho, pode ser que ele também aprenda quase nada. Porém, se você der mesada e conversar com ele sobre o assunto, vai ser como fazer um curso com direito a estágio.
Como tudo, uma boa conversa é indispensável:
# Explique para o seu filho de onde você tira o dinheiro que dá a ele. Ele precisa entender que a origem do dinheiro é o trabalho e o esforço.
# Explique que dinheiro tem fim e que, portanto, devemos fazer escolhas e sempre que escolhemos algo, abrimos mão de outras coisas.
# Antes de dar a primeira mesada para o seu filho, converse com ele sobre sonhos “materiais” que ele possa ter: um brinquedo, um jogo, algo que ele gostaria muito de comprar. Informe para ele quanto custa. Defina o valor da mesada e informe para ele quanto tempo deverá economizar para comprar aquilo que ele deseja adquirir (lembre-se de que a maioria das pessoas só consegue poupar porque tem um objetivo claro). Não se esqueça de dar alternativas ao seu filho, por exemplo: “Se você poupar tudo, em quatro meses você compra seu brinquedo, porém se você gastar R$ 5 todo mês da sua mesada vai demorar quase seis meses”.
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# Dê uma quantia mensal ou semanal que propicie que seu filho compre alguma coisa. Se você der R$ 1 por semana, ele vai demorar um mês para comprar um picolé de fruta e uma vida para algo mais interessante! Se você der R$ 5 por semana, em um mês ele ganha R$ 20 – uma quantia que dá pra começar a pensar em gastar versus poupar. Explique no que ele pode gastar e com o que ele pode continuar contando com você.
# Trate a mesada como uma remuneração. A mesada precisa funcionar como remuneração de alguma atividade desenvolvida pela criança. Busque não premiar o comportamento – lembre-se de como você é remunerado na sua vida: pelo seu trabalho! Ninguém ganha dinheiro por ser educado com vizinhos e amigos ou porque almoçou tudo que colocou no prato. Uma dica é atribuir uma responsabilidade à criança no cotidiano da casa: esticar a roupa de cama, estender as tolhas depois do banho, checar se os banheiros tem papel higiênico, regar as plantas… Estudar e respeitar professores e colegas precisa ser entendido como algo que a criança está fazendo para o bem dela, e não para os seus pais.
# Respeite a data de pagamento – evite adiantar ou postergar. Lembre-se: apenas institua a mesada se você for capaz de pagá-la. Se você não tiver condições, isso não impede de educar seu filho financeiramente: falar de dinheiro precisa deixar de ser um tabu nas famílias.
# Estimule seu filho a fazer um diário de ganhos e gastos. Compre uma cadernetinha e explique a ele que é importante anotar o quanto ganhou, o quanto gastou e em que gastou. Fazendo isso, ele sempre saberá quanto tem de dinheiro disponível.
# Para crianças com menos de 12 anos, é muito importante dar dinheiro fisicamente. Nesse período, noções mais concretas de ter ou não ter dinheiro são muito relevantes. Porém, para adolescentes é muito interessante a ideia de mesadas eletrônicas em que o adolescente já pode aprender a se comportar em relação aos bancos e às transações por meios magnéticos, tão comuns em nossa sociedade.
# Saiba que seus filhos vão fazer escolhas de que vão se arrepender. Isso faz parte do aprendizado. Quando gastarem suas economias num brinquedo que deixam de brincar logo ou em álbuns de figurinhas que abandonam pela metade, não perca a oportunidade e questione: será que valeu gastar aquilo que você se esforçou para ganhar com algo que te deu tão pouca satisfação? Faça-o entender que compras feitas de impulso muitas vezes são motivos de arrependimento.
# E, por fim: não subestime seu filho. Explique com palavras simples, mas sempre explique. Você irá se surpreender com os resultados!
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Vanessa Martini é mãe do Theo e jornalista. Tem um blog, o Mãezinha Vai Com As Outras, onde divida a rotina e os aprendizados da maternidade. Escreve semanalmente sobre o assunto em revistadonna.com.