Acredito que a amamentação seja uma das maiores (se não a maior) preocupação das mamães. Principalmente as de primeira viagem. Quando rola papo entre a mulherada, lá está o assunto na pauta. Apesar do ato de amamentar parecer uma coisa instintiva, não é com todo mundo que acontece assim. Muitas mães sofrem no início e chegam a pensar em desistir. Veja as dicas da Rosane Baldissera, nutricionista consultora internacional em lactação, para tornar esse momento tão especial entre mães e filhos o mais prazeroso possível.
1. Amamentar dói?
Definitivamente amamentar não dói. Se está doendo, é porque algo errado está acontecendo. A dor na amamentação é um sinal de que alguma coisa não está indo bem, e os motivos podem ser inúmeros. Nas primeiras semanas após o parto (principalmente as duas primeiras), é comum que algumas mamães sintam uma certa sensibilidade no mamilo. Porém, quando a sensibilidade passa a ser um desconforto tão grande, uma dor insuportável, onde se pensa em desistir de amamentar, com certeza essa mamãe precisa de apoio, de ajuda de um profissional especializado, para que seja diagnosticado e tratado o problema.
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2. O que é a pega "correta" do seio?
É quando a mãe não sente dor durante a sucção do bebê, o bebê mama com a boca bem aberta, com o lábio inferior virado para fora, o queixo do bebê toca a mama, as bochechas ficam cheias, bem redondinhas.
3. Existe algum método para fazer o bebê ter essa pega correta?
Existe sim uma técnica. Amamentar não é algo instintivo, deixou de ser há muito tempo. Mãe e bebê precisam aprender a amamentar e a mamar, e para isso acontecer, exige técnica, paciência e tempo. A pega do bebê precisa ser feita não somente no mamilo, mas na maior parte da aréola (parte escura do seio ao redor do mamilo), para evitar a dor na amamentação. Quando o bebê pega somente o mamilo, a dor é inevitável, e a consequência são as temidas fissuras.
4. Nos primeiros dias de vida é necessário acordar o bebê para mamar?
A maioria dos bebê não precisam ser acordados para mamar, pois eles acordam e sinalizam que estão com fome em um intervalo de 2, 3 ou 4 horas (contando sempre do início da mamada anterior). Se o bebê dormir por mais de 4 horas, deve sim ser acordado, incluindo à noite (principalmente nos primeiros 15 dias, até que tudo esteja certo com a amamentação e com o ganho de peso do bebê). Uma boa regra é que o bebê deve mamar no mínimo de 8 vezes em 24 horas.
5. Quanto tempo deve durar cada mamada? E qual deve ser o intervalo entre elas?
Não existe tempo certo pois cada bebê tem seu ritmo. Existem recém nascidos (até 1 mês) que mamam em 20 minutos e ficam satisfeitos, enquanto outros precisam de 1 hora. Isso vai depender da velocidade com que o bebê mama. Bebês que costumam descansar muito durante as mamadas ou dormir, precisam ser estimulados e demoram mais até ficarem satisfeitos. O importante é deixar o bebê mamar até que ele largue o seio sozinho (alguns não largam o seio quando ficam satisfeito, mas param de sugar e dormem), e mostre sinais de saciedade. O intervalo entre as mamadas é muito variado e também depende de cada bebê. Normalmente é de duas a três horas, contando do início da mamada anterior.
6. Existe problema em deixar "livre demanda" das mamadas?
Bem pelo contrário! A livre demanda significa deixar o bebê mamar quantas vezes e pelo tempo que ele desejar, sempre que ele sinalizar que está com fome, sem fixar horários. Bebês que mamam sem rigidez de horários apresentam melhor ganho de peso do que aqueles que são amamentados em horários e tempo rígidos.
7. Quais os cuidados devemos ter com os seios nesse período?
Durante o período de amamentação, deve-se usar sutiã firme, confortável e adequado ao tamanho do seio. Deve cuidar a técnica de amamentação para que o bebê não machuque os mamilos, e sempre tirar o excesso de leite quando a mama está muito cheia (alguns bebê não conseguem dar conta de todo o leite produzido). Além disso, não precisa lavar os mamilos antes de amamentar e durante o banho não deve usar nenhum produto que resseque o mamilo e aréola, como sabonetes, nem esfregar com toalhas ou buchas.
8. Se eu der (eventualmente) leite do peito na mamadeira existe o perigo do bebê não querer mais mamar no peito?
Depois que o bebê aprendeu a mamar bem ao seio (em torno de 4 semanas), e se a mamadeira for eventual, não existe perigo que o bebê largue o seio. Porém, se a mamadeira for utilizada diariamente, ele pode preferir a mamadeira.
9. Quando sei que o bebê está mamanda o suficiente? E quando deve (se for o caso) iniciar um complemento?
O bebê está mamando suficiente quando está com um ganho de peso adequado, que é em torno de 15 a 30g por dia. Fora o peso, o bebê demostra sinais de saciedade após as mamadas, fica tranquilo, não chora, não fica procurando o seio para mamar, muitas vezes sai dormindo do seio. Quando isso não acontece talvez seja necessário o uso de complemento. Porém, é necessário descobrir o motivo do não ganho de peso do bebê (que muitas vezes não é complicado e fácil de ser resolvido) e evitar o uso das fórmulas. No caso de usar complemento, esse não deve ser oferecido na mamadeira, pois o bebê pode largar o seio. Deve-se oferecer o complemento na sondinha, copinho, seringa ou colher.
10. Dar de mamar faz o peito "cair"?
Um dos primeiros fatores que levam uma mulher a não querer amamentar mesmo antes de querer ter um filho é a afirmativa que os peitos caem depois de amamentar. Não é a amamentação que faz os peitos caírem. O fator essencial para que o seio da mulher se modifique é o genético (se sua mãe tem seios flácidos você também tem maior propensão de ter, independente da amamentação). Outro fator é o número de gestações (quanto mais filhos você tem, maior é o risco de seus seios ficarem mais flácidos), isso porque os seios crescem durante a gravidez e o “estica e volta” faz a pele não voltar como antes.
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11. Quais os alimentos que devem ser evitados para não causar cólicas no bebê?
Nenhum alimento deve ser excluído da alimentação, pois cólicas são normais nos primeiros três meses de vida do bebê. A mãe deve ter uma alimentação bem variada, sem exageros, quanto mais natural melhor, para que o leite seja completo em nutrientes. Existem inúmeros estudos científicos sobre o assunto, mas nenhum deles conseguiu comprovar a relação alimentação e cólicas no bebê. Os únicos alimentos que devem ser consumidos com moderação durante a amamentação, pois podem deixar o bebê mais agitado, é o café preto, chimarrão, chocolate, chá preto e verde.
12. É possível engravidar durante a fase de amamentação?
Sim, é possível engravidar durante a amamentação quando a mulher não segue os critérios do Método de Amenorréia Lactacional (LAM). Esse método consiste em utilizar a amamentação exclusiva como opção inicial de planejamento familiar. Age impedindo a ovulação, porque o aleitamento produz transformações na velocidade que se libera os hormônios femininos. É efetivo quando o bebê tem menos de 6 meses, a amamentação é exclusiva (o bebê não recebe nenhum outro líquido ou alimento, nem mesmo água, além do leite materno) e a mulher tem ausência de menstruação.
13. Tenho muito leite e preciso retirar de vez em quando. Como devo fazer o armazenamento?
O leite retirado (ou ordenanhado, como dizem) deve ser refrigerado por até 12 horas ou mantido no congelador por até 15 dias. Deve ser armazenado, de preferência, em frascos de vidro com tampa de plástico esterilizados. Para oferecer ao bebê, o leite deve ser descongelado e levemente aquecido em banho-maria (pois no micro-ondas há muita perda de nutrientes).
14. E se eu quiser doar, como devo proceder?
Para doação do leite materno é preciso entrar em contato com o Banco de Leite da sua cidade para receber orientações adequadas quanto a retirada e conservação do leite. Em Porto Alegre, os Bancos de Leite que aceitam doações são do Hospital Fêmina, Materno Infantil Presidente Vargas e Santa Casa.
Eu liguei para o Hospital Presidente Vargas e eles recebem o leite doado de segunda a sexta-feira, no Banco de Leite do sexto andar. É importante ir lá, conhecer o local, fazer um cadastro (que é responder algumas perguntinhas básicas como ser ou não fumante, último histórico de doenças, etc) e receber as orientações de armazenamento. Bacana, né? Se amamentar já é um momento lindo, então imagina podendo ajudar outras pessoas?
Vanessa Martini é mãe do Theo e jornalista. Tem um blog, o Mãezinha Vai Com As Outras, onde divida a rotina e os aprendizados da maternidade. Escreve semanalmente sobre o assunto em revistadonna.com.