Samara Felippo prestou depoimento, nesta terça-feira (30), na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, em São Paulo (SP), sobre o caso de racismo sofrido pela sua filha de 14 anos na semana passada. A menina, que é negra, teve o caderno rasgado e rasurado com frases racistas escritas por duas colegas da escola de alto padrão Vera Cruz, na zona Oeste da capital paulista.
Segundo o g1, a atriz contou que a filha quer permanecer na escola e no momento está sendo acolhida pelos amigos. Além disso, ela relatou que foi procurada apenas por uma das famílias das duas meninas agressoras.
— Eu tive um pedido de desculpas de um lado só. Vão retirar uma das meninas, é o que tenho certeza. A outra não tenho certeza se vai sair ou não, mas acredito que sim — disse a atriz.
Samara contou que a filha já tinha sofrido racismo em outras situações no ambiente escolar:
— É reincidente, é recorrente. Desde o ano passado, de um episódio que um carregador some e a acusada é minha filha. Isso tudo são pequenas camadas do racismo que crianças pretas passam todos os dias veladamente.
Abalada com a dimensão do caso, a artista, que chegou a pedir a expulsão das estudantes, tem esperança de que possa realmente alterar a estrutura das escolas e da sociedade como um todo:
— Eu estou muito assustada com a repercussão disso tudo, e ao mesmo tempo muito feliz. Porque se tivesse uma mãe preta indo denunciar isso na escola, não estaria fazendo esse barulho como está sendo feito. Ela teria que lutar dez vezes mais para ser ouvida.
Segundo o g1, Vera Cruz é uma das escolas mais tradicionais e caras da capital paulista. A mensalidade custa cerca de R$ 4.928,00 para alunos do 9° ano e R$ 5.344,00 para estudantes do Ensino Médio.
Após o episódio, as duas estudantes foram suspensas e a instituição emitiu um comunicado às famílias:
"Imediatamente foram realizadas ações de acolhimento à aluna, de comunicação a todos os alunos da série, bem como a suas famílias. Desde o primeiro momento, mantivemos contato constante com a família da aluna vítima dessa agressão racista, assim como permanecemos atentos para que ela não fique demasiadamente exposta e seja vítima de novas agressões.
Na circular enviada a todas as famílias no mesmo dia, solicitamos que todos conversassem com seus filhos sobre o ocorrido, e na terça-feira, dia 23 de abril, duas alunas do 9º ano e suas famílias compareceram à Escola, responsabilizando-se pelos atos.
A suspensão se encerrará quando entendermos que concluímos nossas reflexões sobre sanções e reparações, que ainda seguimos fazendo — fato também comunicado a todas as famílias diretamente envolvidas. Ressaltamos que outras medidas punitivas poderão ser tomadas, se assim julgarmos necessárias após nosso intenso debate educacional, considerando também o combate inequívoco ao racismo."