Samara Felippo está exigindo a expulsão de duas alunas acusadas de praticar racismo contra sua filha de 14 anos na escola de alto padrão Vera Cruz, localizada na zona oeste de São Paulo. Conforme a atriz e a instituição de ensino, as duas meninas do 9° ano teriam pego o caderno da jovem, que é negra, arrancaram páginas e escreveram uma ofensa de caráter racial em uma folha. Posteriormente, o objeto foi deixado no setor de achados e perdidos.
— Sim, pedi expulsão das alunas acusadas pois não vejo outra alternativa para um crime previsto em lei e que a escola insiste relativizar. Fora segurança e saúde mental da minha filha e de outros alunos negros e atípicos se elas continuarem frequentando escola. Não é um caso isolado, que isso fique claro. Só quero que não convivam no mesmo espaço, onde poderão futuramente humilhar novamente e ofender e cometer outros atos de racismo — disse em entrevista ao portal g1.
A atriz relata que sua filha quis conversar com as duas colegas para tentar compreender o motivo por trás da agressão.
— Foi ela quem pediu uma reunião com as garotas. Ela foi super bonita, digna, forte e empoderada. Para tentar olhar na cara delas, entender o motivo daquele ato tão agressivo, tão violento e explicar para elas que isso é crime, que ela sabe que isso é crime — relatou.
Samara afirma que desde a infância de suas filhas, ela se dedica a trabalhar o conceito de "letramento no racismo" com elas.
— Desde sempre eu nomeei o racismo. Eu disse que o racismo poderia, infelizmente, visitá-las na vida delas. E eu acho que quando ela se prontificou para querer estar com as meninas, em uma sala, para entender o motivo que aquelas meninas tinham feito aquilo, eu perguntei na hora se ela estava forte para isso. E ela disse sim — completou.
A Escola Vera Cruz foi procurada por e-mail no sábado (27), mas não retornou até a publicação da reportagem.
A atriz registrou um boletim de ocorrência e declarou que ainda não decidiu se vai retirar sua filha da escola.
— Ainda estou digerindo tudo e talvez nunca consiga. Cada vez que olho o caderno dela ou vejo ela debruçada sobre a mesa refazendo cada página dói na alma. Choro. É um choro muito doído. Mas agora estou chorando de indignação também — contou.
Suspensão por tempo indeterminado
Em um comunicado enviado às famílias e obtido pela reportagem, o Vera Cruz afirma que, ao recuperar o caderno, a filha de Samara procurou a professora e a orientadora da série.
"Imediatamente foram realizadas ações de acolhimento à aluna, de comunicação a todos os alunos da série, bem como a suas famílias. Desde o primeiro momento, mantivemos contato constante com a família da aluna vítima dessa agressão racista, assim como permanecemos atentos para que ela não fique demasiadamente exposta e seja vítima de novas agressões. Na circular enviada a todas as famílias no mesmo dia, solicitamos que todos conversassem com seus filhos sobre o ocorrido, e na terça-feira, dia 23 de abril, duas alunas do 9º ano e suas famílias compareceram à Escola, responsabilizando-se pelos atos", diz a carta do colégio aos pais.
Conforme o colégio Vera Cruz, as alunas foram convocadas a devolver as folhas arrancadas do caderno e a serem oficialmente informadas sobre as sanções que seriam aplicadas, incluindo a suspensão por tempo indeterminado.
"A suspensão se encerrará quando entendermos que concluímos nossas reflexões sobre sanções e reparações, que ainda seguimos fazendo — fato também comunicado a todas as famílias diretamente envolvidas. Ressaltamos que outras medidas punitivas poderão ser tomadas, se assim julgarmos necessárias após nosso intenso debate educacional, considerando também o combate inequívoco ao racismo", completa o comunicado.
Outros episódios
Samara relatou que sua filha já havia enfrentado episódios de preconceito anteriormente, mas que somente agora o "racismo se materializou".
— Antes, ela queria não enxergar. Doía ver, só queria fazer parte de uma turma e era excluída de trabalhos, grupos, passeios, aceitava qualquer migalha e deboche feito pelas mesmas garotas, e seu nome sempre era jogado em fofocas. Lembro de um caso do carregador que sumiu numa festa e a única acusada foi ela.
A atriz expressou ainda seu desejo de iniciar um debate sobre o que uma escola deve fazer para ser reconhecida como antirracista, à semelhança do que é proposto pelo Vera Cruz.
— Tem algumas coisas na escola que eu não concordo. A política de cotas que eles adotam vai só até o quinto ano. Então, um adolescente negro que vai para a escola no sétimo, no oitavo, no nono ano, não vai se sentir representado, vai ser um ambiente hostil, majoritariamente branco. Eu quero levantar um debate assim: o que é uma escola antirracista de qualidade? — indagou.