No ano em que completa 60 anos de vida e 42 de carreira, a atriz Marisa Orth comemora o primeiro monólogo do currículo, Bárbara, peça que já passou por diversas capitais brasileiras, inclusive Porto Alegre. Em conversa por vídeo com Donna, a paulistana conta as novidades da vida pessoal e profissional e descreve o monólogo como uma experiência "maravilhosa, mas exigente". Praticamente sozinha no palco, ela narra a luta contra a dependência de álcool vivida pela jornalista Barbara Gancia, escritora da autobiografia A Saideira, que dá origem ao espetáculo.
— Acho que eu já estava preparada para isso, fico feliz de fazer agora este monólogo. Mas dá medo mesmo, só tem eu para falar (risos). Sou meio nervosa sempre, cada experiência tem um medinho específico e nessa teve bastante. Só que graças a Deus, já estou mais experiente e não levo mais os meus medos tão a sério — afirma.
Marisa ganhou notoriedade interpretando personagens como Nicinha, de Rainha da Sucata (1990) — sua estreia em novelas, Magda, de Sai de Baixo (1996-2002) e Mortícia Addams em A Família Addams (2012 e 2022), papel que inaugurou sua vida no teatro musical, uma das suas maiores paixões.
Em 2023, a artista assumiu o desafio de mediar o programa de entrevistas Dois em Cena — Encontro de Gerações. A atração estreou em 28 de agosto no canal Viva, trazendo uma troca entre atores experientes e iniciantes.
— O brasileiro gosta de arte dramática, de novelas, e nesse programa, rola um papo sobre coisas tipo "beijo técnico com língua ou sem?", e também sobre carreira, "você se acha bom?", "o que acha que falta nos atores hoje?", "o que melhorou?" E aí vem junto a vida, vamos falando da situação do país, de preconceito, das barreiras. É lindo e emocionante, tem choro e tem gargalhada para caramba — descreve.
Entrevista com Marisa Orth
Nesse momento, o que mais curte fazer?
Eu sigo procurando o meu estilo, são 40 anos de carreira e sigo procurando a minha turma. Estou vivendo um monte de coisas, tenho brincado que vai acontecer uma coisa nova na minha vida, vai ser a primeira vez que eu vou ficar velha, isso é novidade (risos). Tem uma mudança grande no mercado, um monte de televisões novas entrando, internet, tem o teatro onde estou vivendo um momento muito animado. Sempre tive muita sorte de ter convites legais. Queria fazer mais teatro, cinema. Queria fazer tudo.
Como avalia a experiência em Sai de Baixo?
Magda é uma herança, ganhei patrimônio. Aquela pobre do Arouche me deu muita coisa, me deu amor, é impressionante como as pessoas amam a Magda, sou grata a isso. Tive medo, claro, temia não conseguir mais ser vista em outros papéis, o que não tem ocorrido, então agora posso amar muito ela. Magda me fez amar a comédia profundamente e me fez ficar casca grossa para caramba. O serviço era difícil: entrar, lembrar, dar a piada, ser graciosa, fazer a pirueta e brincar com três ou quatro dos maiores improvisadores do seu tempo, ali na sua frente, sabendo que aquilo vai passar na televisão e ter um sucesso esmagador. Você acha mole?
Magda era chamada de burra. O teatro faria uma Magda hoje?
Ah, tem esse papo do politicamente correto, né, as pessoas misturam um pouco, não percebem que é exatamente uma crítica. Eu concordo e acho que Miguel Falabella também concorda que é um absurdo um homem que age com a mulher como Caco Antíbes agia com a sua mulher.
Fora dos palcos e das telas, como tem sido os seus dias?
Adoraria dizer que velejo, que frequento um clube de xadrez, mas não. Eu fico deitada vendo TV, o mais parada possível, zapeando, tentando revirar as minhas coisinhas, passando um creminho. Esse tem sido o meu lazer porque trabalhei tanto no ano passado que dei mais valor para isso. Gosto um pouco de cozinhar bobeiras, geralmente carboidratos, doce, farinha, açúcar. Pasta, crepe, lasanha, pão, bolo, pudim.
Tem rotina para o corpo?
Tenho, sempre tive. Às vezes, fico um tempo sem treinar, mas volto. Agora, como eu peguei um papel legal na série Body By Beth, da Warner, em que sou uma dona de uma academia, estou treinando para caramba. Faço balé clássico e, dependendo da época, faço aula de canto, fonoaudiologia, pilates. Eu me cuido, vai uma grana na manutenção.
Você tem um filho de 24 anos. No que que a maternidade te mudou?
Fiquei mais responsável, amorosa, melhorei como atriz. Você inaugura uma ala nova do coração, é muito louco. Você se emociona mais e entende mais os bichos, vê no olho deles o olho do bebê, é bem bonito. A sua vida se engrandece muito, mas tudo é desafiante em criar uma pessoa. Até porque não é você que cria, você tem de cultivar, criar condições. João é uma pessoa muito especial, muito peculiar, maravilhoso, difícil, inesperado, uma figura.
Ele mudou algumas das suas verdades absolutas?
Muitas. Ele me mudou bastante, principalmente recentemente, adulto. É muito difícil ter filho, quem disse que é fácil nunca teve. Não tem manual, cada fase é um novo desafio. E tem um problema de protagonismo também, você acha que ele é seu filho e ele acha que você é a mãe dele, entendeu? Ele é o sujeito da frase dele e eu sou sujeito da minha. Isso complica as coisas, mas você aprende muito com as diferenças.
Ao longo dos anos, você vem sendo classificada como comediante, sex symbol, entre outros títulos. Como esse olhar faz você se sentir?
Acho que lidei e lido bem com isso, acho divertido. Me sinto no controle, não me sinto abusada. Sempre foi útil para mim e não me impediu de ser outras coisas também. Não foi tão calculado isso, quando eu vi que estavam me chamando de sex symbol, eu fiquei: "Ué, não é assim com todo mundo?" (risos). Eu achava que era.