Vivendo há mais tempo no Rio de Janeiro do que na terra onde nasceu e permaneceu até os 18 anos, Porto Alegre, hoje Sheron Menezzes se define como uma “cariúcha”: um tanto gaúcha, outro tanto carioca e apaixonada pelas duas vertentes.
Foi a possibilidade de uma carreira nas novelas da TV Globo que levou seu talento para longe do Rio Grande do Sul, embora ainda resistam características como o sotaque — que se mostra toda vez que ela conversa com gaúchos — a saudade do churrascão de domingo e o desejo de iguarias como a chuleta e a sopa de capeletti, que faz os parentes levarem na mala toda vez que a visitam lá para cima.
A partida de Sheron e toda a trajetória de trabalho como atriz que se sucedeu deste então estão sendo especialmente celebradas agora. Neste 2023 em que completa 21 anos de carreira, é só ligar a TV para vê-la brilhando na novela das 19h como Sol, sua primeira protagonista em novelas.
Essa conquista, maturada por duas décadas, já começou a ser comemorada com os fãs no Instagram da artista assim que os primeiros teasers de Vai na Fé foram divulgados:
“Esperei 20 anos por esse momento e agora meu coração não consegue caber no meu peito. Ele tá explodindo de amor e orgulho. ORGULHO de mim. Orgulho de todos que me apoiaram (...)”, escreveu ela.
A estreia como protagonista vem aos 39 anos, quando está prestes a entrar nas décadas dos “entas”, lembra ela. O fechamento do ciclo dos 30 a tem instigado a fazer um balanço de como chegou até aqui, avaliando a profissional e a mulher em que se transformou. O saldo, garante, é positivo.
— Nesses últimos 10 me tornei uma pessoa que, lá atrás, não sabia que poderia ser. Isso porque a maturidade traz muitas conquistas emocionais, psicológicas e físicas para a gente. Me sinto uma mulher muito melhor preparada, mais bonita internamente e fisicamente, me sinto bem. E é a primeira vez que faço uma personagem da minha idade. Sempre fiz muito mais jovens. Acho que cheguei bem até aqui, estou satisfeita — afirma em entrevista à Donna, por áudio.
Vai na Fé tem superado índices de audiência dos outros programas da noite da emissora e a personagem Sol (apelido para Solange), uma mulher evangélica, bailarina e backing vocal, marca a segunda vez consecutiva em que o horário das 19h está tendo uma mulher negra como protagonista de novela. Isso porque a trama sucedeu Cara e Coragem, liderada por Taís Araújo. Para Sheron, o atual protagonismo das mulheres pretas na tela passa uma mensagem:
— O recado é de que é possível e sempre foi, só faltava oportunidade — pontua.
Embora o papel principal seja novidade, faz tempo que os holofotes estão voltados para a porto-alegrense, deixando-a gravada especialmente na memória afetiva de alguns conterrâneos. Isso porque durante a adolescência, quando já trabalhava como modelo, Sheron conquistou o título de Primeira Princesa no concurso Garota Verão de 2000, aos 16 anos.
Pouco depois, aos 19, veio a estreia na TV, no elenco de Esperança, onde viveu a criada apaixonada por literatura Júlia de Silve. Daí para frente, o currículo foi sendo composto pelos papéis em novelas como Belíssima, Babilônia, Novo Mundo e outras, além de trabalhos no cinema, no teatro e no streaming, como foi o caso da série Maldivas.
A conciliação delicada entre trabalho, maternidade e vida pessoal aparece no Instagram de Sheron, seguido atualmente por 4,4 milhões de usuários. Ela é esposa do empresário Saulo Bernard, com quem tem o filho Benjamin, cinco anos.
A parceria do casal começou há 12 anos, mas o casamento oficial ocorreu só no ano passado, em uma cerimônia realizada na praia de Saquarema, no Rio de Janeiro. O matrimônio, a dinâmica familiar, a relação com o seu corpo e a carreira são alguns dos temas que Sheron detalha na conversa a seguir.
Qual a sensação de interpretar a sua primeira protagonista em duas décadas de carreira?
É uma grande responsabilidade fazer uma protagonista, porque acredito que ela é o leme da embarcação. Então, a gente coloca uma energia que se espalha e irradia, no caso da Sol, para toda a equipe e o elenco. Fazer minha primeira protagonista 20 anos depois é a cereja do bolo. Um bolo lindo que venho cozinhando há muitos e muitos anos, fazendo papéis muito bons e de muito destaque, mas que não tinham o título de protagonista. Então, sim, é muito importante esse título para mim.
Que caminho você trilhou para garantir esse reconhecimento?
Trilhei o mais saudável, que é o do estudo, do aperfeiçoamento, do reconhecimento das suas falhas e das conquistas também. Então é saber olhar o seu trabalho, entender onde pode melhorar e buscar como fazer isso. Estar sempre fazendo o seu melhor.
É desafiador interpretar uma personagem que canta e dança?
É um dos papéis mais desafiadores que já tive, justamente por isso: porque tenho que cantar e dançar, além de interpretar, que é meu ofício. Sempre amei cantar, mas é algo que não está na minha zona de conforto, porque tenho vergonha. E, sobre dançar, já fiz Dança dos Famosos, sim, mas não é uma coisa que vem de mim.
Durante o programa, ensaiávamos coreografia e tínhamos um professor, enquanto que, na novela, a dança faz parte da Sol. É muito natural para ela, mas não é pra mim. Preciso realmente me empenhar para fazer de uma maneira bonita, mas é bom, porque gosto de desafios e de fazer algo que não é comum para mim.
A personagem é evangélica. Já a Sheron tem alguma relação com a fé?
A fé da Sharon são fés, são muitas. Sou uma mulher de fé, acredito no bem e na lei do retorno – o que você emana volta para você. A gente tem que estar sempre fazendo o bem para as pessoas, faço tudo o que me disserem que tenho que fazer, desde que não faça mal a ninguém. E acho que a Sol é muito linda e incrível na religião dela, que tem caminhos muito bonitos, e os autores retratam nela o que há de melhor naquela religião. Estou muito feliz de saber que a Sol entra no coração de muitas e muitas pessoas através da fé que ela tem na vida mesmo.
O que lhe motiva nesses 21 anos de carreira?
O que me motiva é saber que estou trabalhando no que amo. Muitas pessoas que não trabalham com o que gostam, mas por necessidade. Acho que a maioria dos brasileiros trabalha porque precisa, porque tem uma família. Sou privilegiada. Não tem motivação maior.
Quais são seus rituais de beleza no dia a dia?
Como trabalho muito e a gente tem que se maquiar, montar os personagens e essas coisas, no dia a dia, gosto de estar natural, não usar maquiagem, estar mais leve para deixar a pele respirar e reservar a montação para os meus momentos trabalho. Meus rituais são acordar, fazer o skincare, passar protetor solar. Disso não abro mão. E deixar a vida me levar até a hora do trabalho.
Depois de mais de 10 anos juntos, você e Saulo decidiram se casar no ano passado. Por quê?
Eu e o Saulo fazemos 12 anos juntos esse ano, com um filho lindo, e decidimos oficializar. A gente sempre foi “casado”, não sei explicar por que decidimos casar, só sei que a gente fez e foi um dos melhores momentos da minha vida depois do nascimento do meu filho.
Foi incrível poder celebrar o que a gente vem construindo há anos. O respeito, o companheirismo. E dividir isso com nossos amigos íntimos e as pessoas que nos acompanham foi tão lindo, que pensei: “Por que a gente não fez assim antes?”.
Mas aí, depois a gente parava, conversava e falava “porque era agora o momento”. Então, só sei que a gente decidiu e que estamos felizes assim. Nossa família é muito incrível e só posso dizer que sou uma mulher muito feliz.