A primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, disse não gostar do título que designa esposas de chefes do Poder Executivo no Brasil. Em entrevista à revista Vogue publicada neste domingo (1º), quando seu marido, Luiz Inácio Lula da Silva, assume o terceiro mandato como presidente da República, ela disse que preferia que fosse usada alguma outra expressão:
— Primeira-dama é o quê? Dama? É uma coisa tão patriarcal. Já quebrei a cabeça tentando encontrar um substituto. Já me chamaram de primeira companheira, que também não gosto. Companheira é uma coisa muito do PT. Sou a Janja.
Janja também falou sobre sua características pessoais e como se expressam em sua atuação política.
— Sou deste jeito: muito expansiva. Converso, canto, danço sozinha em casa. Não vou ser diferente porque tenho que ser a mulher certinha do presidente da República. Tenho uma história de vida que me dá condições para discutir algumas coisas. Se tem pessoas que acham que eu não estou no meu lugar, ok, não tem problema. Podem fazer críticas. O que precisa ter é diálogo e respeito com quem pensa diferente — afirmou ela, fazendo referência aos ataques machistas que recebeu na época da campanha.
— Em primeiro lugar, quem decide o que, como e com quem eu falo sou eu. Em segundo lugar vem a pessoa que poderia ser atingida por isso, que é meu marido. Ele me dá total liberdade. Sei muito bem quais são os meus limites.
Conhecida por sua influência na campanha eleitoral, Janta já pensa nos assuntos que estarão na sua pauta nos próximos anos, como a menopausa.
— A saúde pública precisa olhar mais para as mulheres na menopausa. É uma coisa que preciso falar com o (ministro da Saúde, Alexandre) Padilha — afirmou ela ao relembrar os sintomas que enfrentou no período.
Valorização da moda nacional
Outro ponto sobre Janja que vem chamando atenção é seu interesse pela moda nacional. No casamento com Lula, ela usou um vestido desenhado por Helô Rocha feito com bordados das mulheres de Timbaúba dos Batistas, na região do Seridó, no Rio Grande do Norte. Helô também é o nome por trás do look que será usado na posse.
— Queria vestir algo que tivesse simbolismo para o Brasil, para os estilistas, para as cooperativas e e para as mulheres brasileiras — explicou Janja.
Quando concedeu uma entrevista ao Fantástico, logo após a eleição, apostou em uma camisa de seda brasileira branca com estampas vermelhas que remetem à cor do tingimento do pau-brasil. A camisa, assinada pelo estilista Airon Martin, da Misci, esgotou depois do programa.
— Fiz questão de usá-la porque carregava um simbolismo, tanto da história de vida do estilista como da cultura popular, da produção da seda nacional, que é usada na França e a gente nem sabe — disse. — A moda não é só um aspecto muito importante da cultura brasileira como é um motor da economia. Estou conhecendo mais sobre esse assunto. Tenho conversado com estilistas, aprendido bastante. Quero carregar os estilistas brasileiros aonde for. Mostrar para o mundo, abrir portas de comércio, de oportunidades. Se puder contribuir, vou ajudar.
Machismo dentro de casa
Sincera, Janja assume que o marido às vezes tem atitudes machistas dentro de casa.
— São pequenas bobagens que ele acaba fazendo dentro de casa, mas, para um homem de 77 anos vindo da estrutura machista, é difícil de desconstruir. Se eu preciso de alguma coisa, levanto e pego, não peço para ninguém. Às vezes, ele diz: Amor, pega uma coisa para mim. Eu respondo: Você tem duas mãos. Tem nove dedos, mas tem duas mãos. Dá para pegar — contou, aos risos.
Protetora
Além de ativa na vida política do marido, Janja também é surperprotetora no que diz respeito às ameaças contra Lula.
— A vida dele é o que mais importa. Sou a chata da segurança, meto o bedelho. Se alguém tiver que tomar uma facada ou um tiro, sou eu.