Após a repercussão, a bailarina e atriz Carol Nakamura voltou a falar sobre a decisão do filho adotivo, Wallace, 11 anos, de voltar a morar com a mãe biológica. Em novas sequências de Stories publicadas na noite desta terça-feira (31) e na madrugada desta quarta-feira (1º), ela relatou com detalhes como ela e o marido, Guilherme Leonel, conheceram o menor em uma ação social no lixão de Gramacho, o maior da América Latina, e como se deu a relação entre eles até o momento em que ele foi embora.
— Eu tinha preparado uma festa para 150 crianças com o intuito de estimular a educação, então só entrava quem estava com nota boa ou praticando algum esporte. Só que, um dia antes, o ator Pablo Morais doou cem cestas básicas e eu fui levar, já que não era o suficiente para todo mundo da festa, no Morro da Colina, que fica no lixão de Gramacho. Foi lá que eu conheci o Wallace. No dia seguinte, que foi a festa, ele estava no portão do lado de fora, e eu perguntei onde ele ia passar o Natal. Ele respondeu que ia passar na minha casa. Pedi autorização para a avó dele, que na época era viva. Levei ele e mais dois irmãos, que a mãe me implorou, porque o pai tinha falecido recentemente e ela queria que eles saíssem um pouco desse lugar para ter uma distração, digamos assim — começou contando ela.
Na conversa com o menino, então com nove anos, ela diz ter descoberto que ele nunca havia frequentado a escola. Decidiu, então, conversar com a família.
— Eu já sabia da falta de alfabetização, da falta de estrutura, falta de saneamento básico. Só que assim, normalmente, as crianças tinham passado algum momento da vida na escola. E o Wallace nunca tinha ido, isso me comoveu. No dia seguinte, fui no Morro da Colina falar com a avó dele. Falei: vó, tem que colocar a criança na escola. Só isso, porque colocando a criança na escola já vai ser uma vida difícil, sem colocar vai ser impossível. Ela falou que tinha vários problemas, vivia internada, que não tinha condições de levar ele na escola e que a mãe dele não tinha aparecido. Na hora, eu só pensava na falta de oportunidades. A criança tem direito à educação, pelo menos é assim que deveria ser. Eu falei: posso levar ele na escola, só que ele vai ter que ficar lá em casa. Ela falou: sem problemas, se você me prometer trazer ele para me visitar — relatou.
Wallace, então, foi morar com Carol e Guilherme. Na início, chamava os dois de "tios". Foi matriculado na escola e seguia visitando tanto a avó quanto a mãe, que reapareceu.
— Todo mundo aqui na rede social cobrando quando ele ia me chamar de mãe, sendo que ele só ia chamar se ele quisesse, quando quisesse, porque eu nunca ia pedir isso para ele. Depois de um tempo, ele começou a chamar. Matriculei o Wallace na escola, conforme o combinado. Levava ele todo final de semana para o lixão de Gramacho para visitar a avó. A mãe dele apareceu e entrou em contato comigo, pediu também, só que a mãe foi morar em Magé e a avó era em Gramacho, então tinha que ficar circulando entre Gramacho e Magé na hora que eles decidiam ver a criança. Durante esses três anos eles nunca vieram para cá sem que eu fosse buscar.
Carol, então, argumenta que as visitas de Wallace à família podem ter tido algum tipo de interesse, uma vez que ela levava compras quando ele ia.
— Às vezes, a avó queria que ele dormisse lá no lixão de Gramacho. Por mim, eu não deixaria. Eu deixaria visitar, mas dormir nunca. Mas como não tenho documentação, não tenho o que fazer. Para ele não passar necessidade, eu levava compras. Só que o que começou a acontecer? O que era todo final de semana passou a ser toda semana. Tipo: "Ah, estou com saudade do Wallace, tem que trazer ele". Por quê? Porque eu levava compras. Falei: Guilherme, vamos fazer o seguinte. A gente vai levar o Wallace e não vai levar compras porque essa frequência está prejudicando a escola. O que eles não entendem é que o Wallace não pode faltar porque durante a semana existe uma rotina de aula. O Wallace está quatro anos atrasado, e ele ainda tinha professora particular. Ou seja, passei a não levar mais as compras. Aí, rapidinho, as visitas diminuíram — disse ela.
Foi quando ela disse ter começado a notar uma mudança no comportamento de Wallace.
— Ele começou a entender que eu só tinha uma guarda provisória, que foi vencida, e só tinha a promessa de uma guarda, de fato, efetiva. Guarda que eu deveria ter desde o início. Eu pedi, foi prometido várias vezes e nunca foi concluído. Quando ele sacou isso, viu que poderia manipular a situação. Tirava uma nota baixa na escola, a gente chamava atenção de alguma forma, (ele falava): "Quero ir para a casa da minha mãe". Só que, nisso, ele ficava 15 dias na casa da mãe faltando aula. Uma criança que está quatro anos atrasada não pode faltar aula. Então, as coisas foram se complicando muito. A avó dele morava em uma casa que não tinha parede de concreto, então eu dei todos os blocos. Quando eu voltei para levar o cimento, cadê os blocos? Eles venderam. Vocês não têm ideia do quanto é complicado — desabafou.
Por fim, contou como o filho comunicou a decisão de voltar a morar com a família biológica e explicou que segue tendo contato com ele.
— Por diversas vezes, tentei buscar uma explicação: por que o Wallace quis morar com a mãe biológica? Ele falou na minha cara, várias vezes, que lá ele solta pipa, anda descalço, não tem hora para dormir, toma banho quando quer. Para uma criança, é o paraíso. Por mais que eu explicasse o quanto isso seria ruim para o futuro dele, ele não me dava atenção. Um dia, ele falou que pensou muito e tomou uma decisão, que ia morar com a mãe dele. Eu fiquei buscando uma resposta, mas as respostas vieram nas minhas pesquisas. As crianças que são adotadas bebês, muitas procuram sua origem, sua família, quando crescem. E outras, que são adotadas maiores, elas voltam mesmo. Pelo menos tudo que eu li, que eu pesquisei... Tem crianças que não, que realmente decidem. Mas a maioria fica nesse conflito — opinou. — Tenho contato com Wallace. Falo com umas 200 pessoas até chegar no Wallace. (...) Tenho notícias, ele está bem, está feliz, e é isso.
Em defesa do filho
Mais tarde, na madrugada desta quarta-feira (1º), Carol apareceu de novo nos Stories para pedir que os seguidores não critiquem a atitude da criança "em hipótese alguma".
— Independente de ele estar morando comigo ou não, ele continua sendo meu filho. Na minha cabeça, no meu coração. Ele é um pré-adolescente que não teve educação, não teve regra na infância, então é óbvio que não se acostumou com isso. Por favor, não julguem nunca a atitude dele — pediu ela.
Em seguida, deixou claro que "não é contra a adoção, independente de sua experiência".
— É frustrante não morar mais com o Wallace? É frustante. Porém é muito gratificante uma criança que chegou na minha casa sem saber ler, sem saber escrever, não estava falando corretamente, hoje sabe ler, sabe escrever, está na escola. Ou seja, é claro que valeu a pena. Se eu tivesse vindo no mundo de novo, eu faria tudo igual, eu não mudaria absolutamente nada. A escolha de ele estar com a família biológica dele... Ele ama a mãe dele, a mãe dele tinha saído de uma internação, é óbvio que ele ficou sensibilizado. Tem o fator regras e disciplina, que ele nunca tinha lidado, é claro que isso também pesou para que ele tomasse essa decisão. Hoje eu já falei com ele, já falei com a mãe dele, ela é super grata, graças a Deus, ela reconhece todas as coisas. Então, por favor, não julguem, isso é chato, é bobo — disse ela.
Por fim, reforçou que não se arrepende de ter acolhido Wallace e disse que, apesar de não entender, aceita a decisão dele.
— Adoção é um ator de amor, de carinho, de empatia, de compaixão, de solidariedade, de Deus. Adoção é a coisa mais linda que pode acontecer na vida, independente da parte difícil. O fato do Wallace ter escolhido ir embora não quer dizer que eu me arrependa, só quer dizer que estou triste. Só isso, mais nada. Nunca me arrependi, nunca vou me arrepender. Eu, realmente, ainda tenho dificuldade de entender, porque eu não vivi como ele. Minha vida, minha infância foi diferente. Então, eu tenho dificuldade do entendimento, talvez eu nunca entenda. Mas eu aceito — concluiu.
Críticas na internet
Desde que expôs a situação em suas redes sociais, o nome de Carol Nakamura está entre os assuntos mais comentados. No Twitter, foram várias as críticas ao modo como ela lidou com a adaptação da criança.
"Eu, que fui adotado ainda bebê e quero ser pai adotivo, acho no fundo um p*ta desserviço essa história da Carol Nakamura pra molecada que está esperando na fila pra ser adotada, sabe? Adoção é um gesto de acolhimento e amor e não tem nada a ver com esse lance de exposição", publicou o jornalista William De Lucca.
"'Safado', 'sem vergonha', 'dificilmente terá um futuro'. A forma como a Carol Nakamura e o marido se referem a uma criança de 12 anos que quis voltar a viver com a mãe é muito cruel", opinou a também jornalista Lívia Laranjeira.
A influenciadora Gabi Oliveira, que é mãe de dois filhos adotivos, também se manifestou sobre o assunto.
"Eu fui ver os stories da Carol Nakamura e só piora. Fala que o menino estava safado, malandro… Além disso, detonando adoção tardia tirando uns dados não sei de onde. Sendo que a maior parte dos problemas que ela enfrentou você aprende sobre eles no CURSO PREPARATÓRIO PARA ADOTANTES. Todo mundo que me acompanha sabe que eu não romantizo em nada o processo de adoção. Já falei várias vezes sobre as dificuldades de adaptação. Mas sabe o que me ajudou nesse processo? O CURSO PREPARATÓRIO PARA ADOTANTES E A EQUIPE TÉCNICA QUE TEM EXPERIÊNCIA EM PROCESSOS ASSIM", postou ela.
"Sobre escolas, uma coisa que repetem várias vezes no curso e nos grupos de pretendentes à adoção é que, ao adotar uma criança maior, você não deve diretamente focar em colocar a criança NA MELHOR ESCOLA, mas sim numa escola que ela vai se sentir confortável e acolhida. E eles falam isso por terem experiência em casos de adoção tardia e saberem que é necessário primeiro que a criança se sinta confortável, segura e amada pra depois pensar em 'correr atrás do tempo perdido' em relação aos estudos. Até em relação à terapia eles me falaram isso.Conversaram e me explicaram que primeiro as crianças precisavam confiar em mim e só depois era pra eu começar a buscar terapeutas pra eles. Pediram pra eu esperar pelo menos seis meses antes de iniciar. O processo legal tem seus problemas? Tem. Mas também tem muita ajuda e direcionamento", concluiu.