Uma das principais vozes do rap nacional, Negra Li quer mostrar ainda mais quem é a Liliane de Carvalho. Mãe de dois filhos - Sofia, de 11 anos, e Noah, três -, a cantora se separou pouco antes da pandemia, mesma época em que completou 40 anos. As experiências e os aprendizados dessa fase estão refletidos em suas novas músicas, que já estão chegando ao mercado e vão compor o próximo álbum.
No bate-papo a seguir, a artista fala de seus novos projetos e reflete sobre representatividade, às vésperas do Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, neste domingo (25).
Você viveu um período turbulento recentemente: se separou, teve a pandemia... Como esses desafios influenciaram você?
Depois de superados, os desafios podem trazer experiência. No meu caso, trouxe um autoconhecimento que antes não havia experimentado, como viver comigo mesma e ter tempo para mim. Isso me ajudou a ficar firme e me recompor.
A chegada aos 40 foi um período transformador para você?
Para mim, não foi problema, estava ansiosa para chegar aos 40. Foi uma data muito esperada. Naquele mesmo ano eu havia me separado e, de certa forma, isso fez com que eu pensasse o quão importante era chegar aos 40 anos naquele momento. Não tenho problemas com idade. Quero envelhecer, e envelhecer bem é o meu desafio, gosto de me cuidar para que eu fique bem e com saúde. Chegar aos 40 foi libertador. Realmente, é a idade da loba.
Você sempre lidou bem com seu corpo e com sua autoestima?
Na maioria das vezes, me dei bem. Quando mais me libertei foi ao colocar prótese nos seios. Apesar de gostar deles, achava que eram muito pequenos, parecia que faltava algo. Foi uma das fases em que mais sofri comigo mesma. Coloquei prótese aos 25 anos e, depois disso, soube lidar com minha autoestima, mesmo quando estava fora do peso. Depois da gravidez da Sofia (com a cantora, na foto abaixo), por exemplo, demorei três anos para voltar ao físico que gosto. Mas não me preocupei, procuro não pirar com essas questões.
Na sua nova música, Comando, você fala de uma mulher que tomou as rédeas da própria vida e que celebra conquistas. Novos espaços têm sido ocupados pelas mulheres na sociedade, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Existe uma diferença gritante da época em que eu era criança. Melhorou, e conseguimos ter a esperança de um futuro melhor, com mais representatividade. Ainda há um grande caminho a ser percorrido, mas atualmente está sendo criada essa consciência para termos um plano de mudança para esse sistema. A mulher negra ainda está na base da pirâmide, ainda ganha menos do que o homem, seja ele branco ou negro, e ainda ganha menos do que a mulher branca. Essa diferença continua enraizada na sociedade. Me encho de esperança quando vejo essa mudança atingindo a nova geração. Com a minha filha, por exemplo: através do pensamento dela, da forma como ela enxerga o mundo e das oportunidades que ela tem, já consigo prever um futuro melhor, com mais igualdade nas questões de raça, social e gênero.
Você está preparando uma série de novos singles que serão lançados ao longo do ano. Como foi tocar esse projeto em um período tão complicado?
Foi ótimo! Foi o que me ajudou nesse período, ainda mais longe dos palcos, sem poder fazer shows presenciais. Me dedicar a esse novo projeto amenizou essa falta da rotina frenética que eu tinha antes da pandemia. Está sendo muito gratificante lançar essa série de singles. Iniciamos com Comando e o próximo está chegando em breve, e é bem diferente. Cada música tem sua peculiaridade, trazem muito de mim, sobre o que penso e estou vivendo. Sobre o próximo lançamento, só posso adiantar que é um feat e terão outros feats para esse álbum. Não vejo a hora de poder dividir com todos sobre a próxima música!
Com a série do Instagram Só Uma Tacinha, você tem falado dos mais diversos assuntos nas suas redes sociais, como sexualidade. Como tem sido o retorno do público?
Ótimo! É uma oportunidade para me aproximar dos meus fãs e conseguir entendê-los melhor. Com a falta de shows, pude criar e gravar alguns episódios, falando sobre mim, sobre minha vivência, compartilhando histórias, falando de sexo e de como me redescobri como mulher. Por eu ter vindo do rap, isso me afastou um pouco e eu precisava me humanizar mais, mostrar que além da Diva do Rap sou uma mulher, mãe, garota, cheia de dúvidas de autoconhecimento, que está florescendo. As pessoas se surpreenderam quando falei de sexo, ninguém imaginava. Nem pensava que um dia criaria um conteúdo falando de sexo com tanta naturalidade, mas tomei coragem e me surpreendi.
Você se sente menos cobrada em ser a “mulher do rap” forte e consegue transparecer mais a personalidade da Liliane?
As redes sociais ajudaram a nos humanizar, a mostrar nosso dia a dia de cara limpa, sem maquiagem, o discurso fora do palco. As pessoas foram entendendo que o meu papel não era apenas através das minhas letras de rap. Tenho outras funções, sou atriz, mãe em tempo integral, e isso transpareceu mais a Liliane, uma mulher multifacetada.