O príncipe Harry voltou a falar sobre a falta de empatia de membros de sua família com ele e a esposa, Meghan Markle, em uma nova série documental dedicada à saúde mental que estreia nesta sexta-feira, (21) na Apple TV+. Intitulada The Me You Can't See ("O eu que não podem ver", em tradução livre), o programa foi coproduzido por ele e a apresentadora Oprah Winfrey.
— Achei que minha família me ajudaria, mas todas as demandas, os pedidos, os sinais encontraram um silêncio ou uma total indiferença — explicou Harry sobre as dificuldades que ele e a esposa tiveram antes do nascimento do filho Archie.
Ambos afirmam ter sofrido problemas psicológicos. Meghan até disse que pensou em cometer suicídio em 2019.
Na série, Harry diz que tinha vergonha de pedir ajuda à família "porque, como muitas pessoas da minha idade, eu sabia que não dariam o que eu precisava". Ele ainda critica o pai, príncipe Charles, novamente, acusado de indiferença para com os filhos.
— Quando eu era mais jovem, meu pai disse a William e a mim: "Era assim para mim, então será a mesma coisa para vocês" — revelou Harry, de 36 anos, sobre a agressividade dos tabloides britânicos que esfregam as mãos com rumores e escândalos da família real.
— Não faz sentido — continuou o duque de Sussex. — Não é porque você sofreu que seus filhos também deveriam sofrer. Deveria ser até o contrário (...) Faça de tudo para transformar as experiências ruins que você viveu em algo positivo.
Lembranças de Diana
No programa, Harry também recordou as lembranças difíceis que carrega sobre a perseguição que a mãe, Lady Di, sofreu por parte da imprensa - e como isso o afetou.
— Sempre quis ser normal, ao invés de ser o príncipe Harry, apenas ser Harry. Era uma vida enigmática e, infelizmente, quando penso em minha mãe, a primeira coisa que me vem à mente é sempre a mesma coisa: ela no carro, com cinto de segurança. Meu irmão (príncipe William) no carro também, e ela dirigindo e sendo perseguida por três, quatro, cinco carros com paparazzi. (...) Ela quase não conseguia dirigir por causa das lágrimas, não havia proteção. Um dos sentimentos que surgem é o desamparo. Ser jovem demais, ser um cara jovem demais para poder ajudar uma mulher, no caso, sua mãe. E isso aconteceu todos os dias até o dia em que ela morreu — recordou ele, sobre a partida precoce de Diana, em 1997, quando Harry tinha apenas 12 anos.
Em seu desabafo, o príncipe conta que, entre seus 28 e 32 anos, encarou uma "época de pesadelo", e relembra ter sofrido com ansiedade e ataques de pânico.
— Estava mentalmente confuso. Toda vez que colocava um terno e gravata, tendo que fazer o papel, e dizer, "certo, cara séria", olhar no espelho e dizer "vamos". Antes mesmo de sair de casa eu estava encharcado de suor. Estava em modo de luta ou fuga. (...) Estava disposto a beber, estava disposto a usar drogas, estava disposto a tentar e fazer as coisas que me faziam sentir menos como estava — revelou.
— Mas comecei a perceber: "Ok, não estou bebendo de segunda a sexta, mas eu provavelmente estou bebendo o equivalente de uma semana em uma noite de sexta ou sábado. Eu bebia sozinho não porque apreciava aquilo, mas porque estava tentando mascarar algo".
Perseguição a Meghan
O príncipe voltou a falar sobre como percebia "a história se repetir" em relação à Meghan, que passou a ser alvo dos paparazzi.
— Nós somos seguidos. Fotografados, perseguidos, assediados. O clique e os flashes das câmeras fazem meu sangue ferver. Isso me deixa com raiva e me leva de volta ao que aconteceu com minha mãe e o que eu passei quando era criança. E não estou falando apenas a mídia tradicional, mas também as plataformas de mídia social. Eu me senti completamente desamparado — desabafa.
Na entrevista concedida em março à Oprah, Meghan havia admitido que chegou a pensar em suicídio. Em seu depoimento, Harry abriu o jogo sobre como se arrepende da forma como lidou com as angústias da esposa - ele recorda de um episódio específico, quando participaram de um evento de caridade em 2019:
O clique e os flashes das câmeras fazem meu sangue ferver. Isso me deixa com raiva e me leva de volta ao que aconteceu com minha mãe e o que eu passei quando era criança
PRÍNCIPE HARRY
— Ela estava completamente sã, mas no silêncio da noite, esses pensamentos a perturbavam. A única coisa que a impedia de fazer isso (o suicídio) era o quão injusto seria para mim depois de tudo o que tinha acontecido com minha mãe ser colocado em uma posição de perder outra mulher em minha vida, com um bebê dentro dela, o nosso bebê. Estou um pouco envergonhado da maneira como lidei com a situação (naquele dia). Por causa do sistema em que estávamos presos e das responsabilidades e deveres que tínhamos, demos um abraço rápido e depois tivemos que mudar os ânimos e entrar um comboio com escolta policial para ir até o Royal Albert Hall para um evento de caridade. Não havia a opção de dizer "não" — diz.
Terapia
Na série, Harry também conta como a terapia, que iniciou há mais de quatro anos, lhe permitiu "quebrar o ciclo" e não reviver o que seu pai e principalmente sua mãe sofreram. Foi a relação com Meghan que o levou a buscar uma solução para os problemas psicológicos que o atormentavam desde a morte de sua mãe Diana, em 1997, quando tinha 12 anos.
— Eu sabia que se não começasse a terapia para melhorar, perderia essa mulher com quem me vejo passando o resto da minha vida — diz ele.
— A terapia me permitiu enfrentar tudo — afirma Harry na série, na qual participam várias personalidades que contam sobre seus problemas mentais, como o jogador profissional de basquete DeMar DeRozan ou a cantora Lady Gaga.
Racismo
No programa, Harry voltou a falar sobre as acusações de racismo contra um membro da família real, que teria questionado sobre a "cor de pele" que o filho dele e de Meghan, Archie, teria ao nascer. A revelação foi feita em março, na polêmica entrevista do casal à Oprah.
— Meu maior arrependimento é não ter assumido uma postura mais rígida no início do meu relacionamento com minha esposa e não ter reclamado do racismo quando aconteceu. A história estava se repetindo. Minha mãe foi perseguida até a morte enquanto ela estava em um relacionamento com alguém que não era branco e agora veja o que aconteceu — afirmou.
O príncipe não acusa novamente sua própria família de racismo. Anteriormente, ele disse que um parente estava preocupado com a cor da pele de seu filho antes de ele nascer. A acusação abalou o Palácio de Buckingham. O príncipe William assegurou que os Windsors "não são uma família racista".