Quem acompanha a história — e as polêmicas — da família real britânica deve ter passado por um déjà-vu ao assistir à entrevista bombástica de Harry e Meghan Markle à apresentadora Oprah Winfrey, exibida nos Estados Unidos no último domingo (7).
Foi inevitável traçar paralelos com a trajetória da princesa Diana, mãe de Harry e William, que perdeu a vida em um acidente de carro, em 1997. Dois anos antes de sua morte, ela quebrou os protocolos e deu uma entrevista à BBC comentando "assuntos proibidos", como os bastidores da separação do príncipe Charles, as traições e seus distúrbios alimentares.
Mas as semelhanças vão além das revelações sobre o que está por trás dos sorrisos da realeza, e o próprio príncipe Harry sabe bem disso. Tanto é que, na conversa com Oprah, citou Diana mais de uma vez e afirmou ter medo que "a história se repetisse". Quer saber quais são essas outras coincidências? Veja a seguir. E se você perdeu a entrevista completa, fica a dica: o canal pago GNT exibe uma reprise neste domingo (14), às 20h.
Entrevista polêmica
Em 1995, Diana concedeu ao jornalista Martin Bashir, no programa Panorama, da BBC, uma das "exclusivas do século", segundo os próprios britânicos. Ela quebrou os protocolos de discrição da monarquia e contou tudo sobre o que passou enquanto era casada com Charles – quando o bate-papo foi ao ar, ela já estava separada há três anos. Ali, ela falou abertamente sobre a infidelidade, como sofreu com a bulimia e a depressão e o quanto se sentiu invadida com as investidas da imprensa. Lady Di também revelou que se sentia sozinha e que a família real não sabia como lidar com suas angústias.
Harry e Meghan também escolheram falar sobre os bastidores da família real na TV, em entrevista à Oprah. Assim como Diana, os dois revelaram suas visões sobre a realeza depois de abandonar a vida na monarquia. Meghan revelou que pensou em suicídio e disse que se sentia abandonada dentro do palácio, sem liberdade, da mesma forma que a sogra. A família real também teria se esmerado muito em ajudá-la nesse processo e ignorou as angústias que sentia — outra semelhança com a trajetória de Lady Di. E mais: numa comparação com William, Harry sempre foi taxado como o mais "instável" dos irmãos. Envolveu-se em um número maior de polêmicas e, assim como Diana, era considerado um membro real mais complicado de lidar.
Perseguição da imprensa
Diana sofreu com o assédio dos paparazzi do namoro com Charles até seu último dia de vida. Ela não tinha liberdade e sofria com as investidas de fotógrafos nos lugares mais inusitados. Recebeu críticas? Claro. Mas a cobertura era massivamente positiva, principalmente até o divórcio. Com Harry e Meghan, talvez a gana por fotos exclusivas não seja tão forte, porém, os tabloides não poupam espaço para os textos afiados contra a duquesa. Há uma narrativa negativa na imprensa britânica que descamba para declarações de cunho racista, fofocas e mentiras – e rendeu dois processos de Meghan contra publicações inglesas. O casal não encontrou apoio e acolhimento no palácio para combater esses ataques da mídia, não se sentiu protegido, assim como Diana. Essa relação conturbada contribuiu para eles optarem por uma vida fora da Inglaterra.
Carismática para o bem e para o mal
Diana era considera a "princesa do povo". Tinha um carisma natural, sem forçar a barra. Se conectava com os britânicos de forma ímpar e era muito querida pela população. Meghan e Harry, apesar dos ataques de parte da imprensa, eram considerados populares e carismáticos. Havia uma expectativa para que se tornassem embaixadores de sucesso nas viagens reais. Por outro lado, a sombra da história de Diana, que ofuscou o brilho de Charles, teria perturbado a realeza e causado desconforto. Meghan era uma atriz e ativista, posicionada pela luta por igualdade de gênero. E, na entrevista com Oprah, afirmou que se sentiu silenciada. Diana compartilhava do mesmo sentimento de falta de liberdade para ser quem queria. Uma mulher na realeza ainda precisa ter uma padrão de comportamento que, ao que tudo indica, não combinou muito com a espontaneidade de Diana e Meghan.
Conto de fadas (ou nem tanto)
Assim como o casamento de Diana e Charles, a cerimônia para oficializar os votos de Meghan e Harry também foi envolta na ideia do "conto de fadas". Claro, o casório de Kate e William seguiu pelo mesmo caminho, porém, há uma diferença importante: Kate já namorava o príncipe desde o início dos anos 2000. Quando subiu ao altar, estava mais preparada para o que a esperava de fato na monarquia. Diana e Meghan não tinham tanto tempo de relacionamento com seus pares e, para agravar ainda mais a situação, a atriz tinha uma vida pregressa de prestígio. As duas também levavam nas costas uma certa pressão para "modernizar a realeza" justamente em razão do carisma e apelo popular, embora tenham encontrado resistência dentro do palácio. E mais: o "conto de fadas" de Diana e Charles desandou cedo, mesmo que os dois tenham se separado nove anos depois. Os problemas de Harry e Meghan, o quadro de depressão, as angústias, surgiram logo após o casório, seguindo o mesmo padrão. A diferença é que o duque e a duquesa de Sussex estavam unidos para trilhar um caminho juntos fora do controle da monarquia.
Depressão a exclusão
Diana revelou que teve depressão pós-parto, enfrentou distúrbios alimentares, como a bulimia, e praticou automutilação em razão da angústia. Era definida como "instável" pela monarquia e não foi apoiada quando pediu ajuda – inclusive, contou que assustou a rainha e o príncipe Philip por "falar sobre a depressão e chorar abertamente". Após o casamento, Meghan revelou que sua saúde mental havia sido abalada, principalmente em razão da perda de liberdade e da relação conturbada com a família real. Ela sinalizou à monarquia que não se sentia bem, mas teve o auxílio negado porque procurar ajuda "não seria bom para a instituição". Só que, ao contrário do caso de Diana, Meghan contou com o apoio do marido, Harry.
"Separação" real
Meghan e Harry oficializaram o processo de saída da realeza em janeiro de 2020. Na mesma época, comunicaram que iriam se dividir entre Reino Unido e América do Norte. Esse movimento foi essencial para o casal se desvincular das obrigações da monarquia e tentar caminhar pelas próprias pernas. Com a separação de Charles, Diana fez um movimento parecido para se desvencilhar dessas amarras da realeza. A diferença é que ela foi rejeitada pela família real, atacada pela imprensa e precisou enfrentar essa guerra com a monarquia sozinha.