A artista plástica Zoila Muntané tem cerca de duas mil Barbies. Sua coleção inclui edições exclusivas e, agora, uma nova versão cadavérica dedicada ao Dia dos Mortos, criticada por "monetizar" a maior tradição cultural do México.
Com vestido rosa e enfeites típicos das comemorações de 1º e 2 de novembro, a segunda edição do famoso brinquedo "comemora o México, sua festa, seus símbolos e sua gente", segundo a Mattel, fabricante da boneca. Trata-se de uma adaptação da "Catrina", ou "Calavera Garbancera", criada pelo cartunista José Guadalupe Posada em 1912.
Sociólogos afirmam, contudo, que essa Barbie transformada em um esqueleto elegante, com características da famosa pintora mexicana Frida Kahlo, é apenas mais um caso de "apropriação cultural" para fins comerciais.
— (A Barbie Catrina) está relacionada a fluxos migratórios que agora são muito mais marcantes — explica a socióloga Librada Moreno, acadêmica da Universidade Nacional Autônoma do México. — (Essa boneca é) fruto de uma hibridização cultural, entre o que existe do outro lado da fronteira (nos Estados Unidos) e o que está aqui — completa.
Os críticos da "apropriação cultural" alertam para o risco de distorção de tradições, símbolos e outros elementos transformados. Um ponto de vista que pode se chocar com a liberdade criativa.
Moreno lembra que, nos Estados Unidos, onde vivem 36 milhões de mexicanos - ou seus descendentes -, cada vez mais se incorporam as tradições do vizinho latino-americano.
Sucesso da Disney
Para o sociólogo Roberto Álvarez, essa celebração "deveria ser um tema solene", mas se tornou um evento comercial nos Estados Unidos desde o grande sucesso do filme da Disney Pixar Viva: A Vida é uma Festa (2017) e, anteriormente, com 007 contra Spectre (2015), da saga James Bond.
A Barbie Dia dos Mortos é a quarta edição desta boneca inspirada no México. Antes, foram lançadas as bonecas Catrina, de 2019, e outras duas dedicadas à jogadora de golfe Lorena Ochoa e à Frida Kahlo. A boneca da pintora não pôde ser vendida no México porque a família de Kahlo considerou que a imagem da boneca não correspondia à da artista.
A nova versão da Barbie
A Barbie do Dia dos Mortos, que custa em torno de 72 dólares, usa neste ano um vestido de renda rosa, e seu rosto pálido é detalhado em cores brilhantes. Em 2019, ela se vestiu de preto.
Seu criador, o mexicano-americano Javier Meabe, diz que buscou "criar mais consciência sobre a festa" - que, segundo as lendas indígenas, marca o retorno do morto ao mundo dos vivos para ser homenageado com oferendas em casas e túmulos.
Considerado o festival mais representativo do México, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) declarou o Dia dos Mortos Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, em 2003.
Desde seu lançamento em 1959, Barbie vendeu mais de 1 bilhão de cópias de seus muitos estilos e profissões.