Em julho, a atriz Karen Junqueira revelou que foi estuprada pelo pai de uma amiga aos 12 anos. A informação foi compartilhada em um relato publicado pela revista Claudia. Nesta terça-feira (26), em entrevista ao portal Universa, Karen voltou a falar sobre o assunto.
O caso de uma menina de 10 anos do Espírito Santo que engravidou após ser estuprada chamou atenção do país nas últimas semanas, e os protestos de diversos grupos contra o aborto legal que seria realizado na garota atingiram a artista.
— Quando fundamentalistas religiosos chamam uma criança de assassina, a gente não tem que repensar as estruturas da sociedade? Como expor uma vítima e proteger o abusador? — questionou.
À publicação, Karen reforçou a importância da informação como chave para a mudança deste cenário.
— Fui acordada no meio do sono e alguém veio arrancar minha intimidade. Uma intimidade que eu nem sabia ainda para o que era direito. Hoje, temos a comunicação a nosso favor. Na minha época, não tinha internet e a informação era limitada — refletiu.
Karen só contou para a mãe o que aconteceu quando o pai morreu. As duas, então, fizeram pacto de silêncio. A atriz entende que a mãe agiu de acordo com a sociedade da época.
— Meu pai era muito rígido e eu fiquei com medo de qualquer coisa ser culpa minha. Uma das primeiras coisas que uma pessoa abusada sente é culpa. Culpa e vergonha. Hoje, não tenho mais vergonha — afirmou.
Ela ainda discorreu sobre este sentimento de culpa, que é tão presente nas vítimas de abuso sexual.
— Existe um sentimento de culpa e a gente confunde religiosidade com certo e errado. É preciso olhar a culpa onde está, sendo laico. Eu fui a vítima, mas a culpa vem. Você pode perguntar para quem foi abusada: em 90% dos relatos que recebi após o depoimento, está presente o sentimento de culpa — disse ela.
A atriz percebeu que tornar sua história pública poderia ajudar outras mulheres.
— A diferença é que, se eu falar, eu posso ajudar uma pessoa, fazer diferença para ela. Graças a Deus eu tive acesso a terapia, mas e quem não pode? E quem não tem educação ou acesso à informação? Se uma mãe ler e ficar ciente, já é um ganho — disse.
Ela contou que, depois de vir a público e contar sua história, recebeu muitos relatos de mulheres que passaram por situações semelhantes.
— Percebi que, quando se fala, quem passou por isso se identifica e fala também. Recebi relatos de pessoas que nunca contaram o que passaram para o marido, que nunca tiveram coragem de contar para os pais. Esconderam o estupro quando perguntadas pelos companheiros sobre como perderam a virgindade: "Foi um namoradinho", disseram. Recebi até caso de estupro pelos irmãos — relatou.
Por fim, Karen reforçou a importância de optar por não se calar.
— Eu só queria mostrar para alguém que passou pela mesma coisa que o caminho não é o silêncio porque precisa existir justiça. Cada vez que a gente fica em silêncio, a gente está dando espaço para a impunidade — concluiu.