O comediante Marcelo Adnet foi o convidado da noite desta quarta-feira (15) do programa Saia Justa (GNT). Em entrevista a Pitty, Astrid Fontenelle, Mônica Martelli e Gaby Amarantos, contou mais detalhes de tudo o que anda acontecendo em sua vida após revelar que sofreu abusos sexuais na infância.
O humorista revelou em entrevista à revista Veja que o crime aconteceu primeiro quando ele tinha sete anos e depois aos 11, e deixou traumas.
Em live direto da casa dele, no Rio de Janeiro, Adnet contou que demorou 25 anos para comentar sobre o assunto e só falou depois que um dos agressores, que não era de sua família, morreu.
— Muitos anos depois consegui verbalizar para a família. Falei com minha mãe há poucos anos sobre isso, porque eu não queria ferir meus pais, pois eles não tiveram culpa. Queria poupá-los dessa chateação — disse.
Adnet revelou que no primeiro abuso, aos sete anos, ele chegou a ter sorte de os pais e os avós voltarem para casa no momento em que o agressor estava consumando o ato.
— Depois, no episódio aos 11 anos, eu já sabia o que aquilo era. São várias camadas de dor e complicação. Hoje posso falar com tranquilidade, pois tive tempo para assimilar — disse.
O comediante comparou o seu caso com o momento em que vivemos.
Teria vergonha de dirigir bêbado, de avançar sinal vermelho, de não pagar impostos. Não tenho vergonha de ter sido vítima de abuso.
MARCELO ADNET
— Senti que é quase uma pandemia, que a gente não encara esses problemas porque é tabu. Se é tabu vamos enfrentar o tabu e falar. Apesar das camadas de proteção ao abusador e as camadas cruéis de internet, existe uma rede de proteção a quem fizer denúncia — afirmou.
Adnet fez questão de incentivar que as pessoas que estejam passando por algo similar contem a alguém e pediu que denunciar seja algo normalizado nesses casos. Na entrevista à Veja, o humorista afirmou que fez terapia para superar o trauma sofrido.
A Marinha do Brasil informou, por meio das redes sociais, que abriu um procedimento interno para averiguar a denúncia de que um membro da corporação fez ataques contra o humorista. O artista foi alvo de comentários na web após revelar que sofre abuso sexual na infância.
Adnet disse no Saia Justa que, apesar dos ataques "baixos e cretinos" que recebeu após revelar os abusos, às vezes ele ria de pena de quem o atacava. E contou também que a quantidade de carinho e apoio foi muito maior.
— Para o menino, quando ele é abusado, dizem que é baitola, veado, que tomou porque gostou. Claro que existe o medo do ataque homofóbico. As pessoas usam dessa carta tão baixa como forma de constranger a vítima — opinou.
Na entrevista, ele afirma não se arrepende de ter contado pelo que passou.
— Teria vergonha de dirigir bêbado, de avançar sinal vermelho, de não pagar impostos. Não tenho vergonha de ter sido vítima de abuso.
O humorista terminou o papo pedindo para que o governo adote ensinamentos de educação sexual desde a infância para que todos possam entender melhor o próprio corpo e a perceber quando algo de diferente acontecer.
— A única resposta que vamos ter é se tornar isso uma iniciativa pública, que educação sexual aconteça. E hoje vamos na contramão disso com essa política de não falar do assunto. A criança pode se sentir mais a vontade de falar com professor do que com pais — finalizou.
COMO DENUNCIAR
- Brigada Militar - pode ser acionada pelo 190 em qualquer cidade do RS
- Polícia Civil - Basta ir à delegacia mais próxima ou repassar a informação pelo telefone. É possível utilizar o Disque Denúncia pelo 181. O Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca) em Porto Alegre atende pelo telefone 0800-642-6400
- Disque 100 - recebe denúncias sobre violência contra criança e adolescente em todo o país
- Conselho Tutelar - as denúncias continuam sendo verificadas. Em Porto Alegre, as 10 microrregiões atendem das 8h às 18h. É possível consultar o endereço e telefone de cada uma nesse link. Entre 18h e 8h, o atendimento é realizado no plantão centralizado (Rua Giordano Bruno, 335). Da mesma forma, aos sábados e domingos, o serviço atende das 8h às 20h e das 20h às 8h, também no plantão centralizado. Em casos de emergência é possível ligar para os telefones (51) 3289-8485 ou 3289-2020