Por Madeleine Müller, ex-modelo, professora do curso de Design de Moda da ESPM
Ao parar na frente do Rui pela primeira vez, aos 17 anos, minhas pernas tremiam tanto que ele riu e me disse: “Sou exigente, mas não mordo”, e em seguida abriu um daqueles sorrisos que só o Rui tinha. Por mais de 20 anos desfilei para ele e, mesmo aos 50, ele me chamou pra vestir novamente o famoso vestido vencedor do Agulhas de Ouro, que eu usei tantas vezes em fotos ou desfiles.
Mas por que eu? E ele respondia:
“O vestido te escolheu”. Jamais esquecerei as lições de moda, de arte e de vida. O Rui era um poço de cultura, mas também tinha um humor maravilhoso, era espirituoso e fazia as modelos rirem nos momentos tensos. Quem o conhecia sabia desse lado bem-humorado e piadista. O Rui tinha carisma. Eu me sentia em casa em seu ateliê – de modelo, passei a produtora e seguia remexendo em seu acervo. Depois, professora, levava os alunos de moda para ouvirem o Rui, e essa palestra valia por um curso inteiro de moda! Sua elegância atemporal e seu amor pela essência do bem-vestir se resumia nisso: o Rui vestia as mulheres de si mesmas, ele valorizava o que cada uma tinha de melhor, sua essência. O meu vestido de roletê está lá pendurado ainda, lembrando seu passado de glória. O Rui estará sempre nele.
Foi o Flavio que se foi, não foi o Rui, ouvi muito isso em seu velório. O Rui ficou porque o Rui deixou seu legado. Ele é eterno. Rui é Rui e sempre será.