O estilista gaúcho Rui Spohr morreu às 6h10min da manhã desta terça-feira (3o), em Porto Alegre, aos 89 anos. A informação foi confirmada no início da manhã pela neta do estilista, Antônia Spohr.
Rui tinha Mal de Parkinson, doença degenerativa que afeta os movimentos do corpo. Segundo a família, a causa da morte foi broncopneumonia. O estilista estava internado no Hospital Mãe de Deus desde a última quinta-feira (25).
O velório de Rui foi aberto ao público na sala de exposições do Theatro São Pedro. Depois, a despedida foi restrita a uma cerimônia fechada para familiares e amigos mais próximos. O corpo dele foi cremado no Angelus Memorial Crematório.
Rui deixa a esposa Dóris Spohr, a filha Maria Paula Spohr e a neta Antônia Spohr Moro.
Quem foi Rui Spohr
Um dos mais respeitados estilistas do Rio Grande do Sul, Rui nasceu em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, em 23 de novembro de 1929. Foi o primeiro gaúcho a se profissionalizar em moda na França, em meados dos anos 1940.
Batizado Flávio Henneman Spohr e destinado a ser padre ou militar pela parteira que o trouxe ao mundo, mudou de nome para assinar suas primeiras criações. Filho de uma tradicional família de origem germânica, decidiu muito cedo que a moda era mesmo o seu mundo.
Durante um estágio forçado na fábrica de calçados do pai, percebeu que não poderia dedicar-se a qualquer atividade que envolvesse processos repetitivos, sem criatividade, sem arte. Nos momentos vagos na fábrica, desenhou seus primeiros vestidos.
Aos 22 anos decidiu que, para fazer moda, precisava estudar em Paris. E para lá ele foi. A família, em princípio, protestou. Mas logo viu que Rui não se daria por vencido e resolveu apoiar a aventura no Exterior.
Vivendo em Paris, tornou-se fluente em francês, conheceu boa parte da Europa e trabalhou com Jean Barthé, o maior chapeleiro da França. Estudou na mesma escola que Yves Saint Laurent e Karl Lagerfeld.
Com saudades de casa, passou dificuldades sem o apoio de seu país para concluir os estudos, além da fome durante uma longa greve dos Correios que o impediu de receber o dinheiro enviado pela família para o seu sustento. Ao final do curso na Chambre Syndicale de la Cuture Parisienne, decidiu voltar para o Brasil.
Em vez de ir para as capitais do centro do país, como São Paulo ou Rio de Janeiro, o jovem costureiro optou por Porto Alegre.
– Eu acertei muito em ficar aqui. Minha família conhecia muita gente e até hoje tenho muitas conexões aqui. Nunca me arrependi. – comentou em entrevista à Revista Donna em 2013.
Em seu retorno, Rui iniciou o curso de Belas Artes na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e abriu um ateliê no Centro da Capital. Foi nessa época que conheceu Dóris.
- Não seria ninguém sem ela - declarou o estilista, que começou a carreira como chapeleiro.
Casaram-se no começo do terceiro ano de trabalho. Dessa união, nasceu sua filha, Maria Paula Spohr.
Como não havia desfiles de moda em Porto Alegre, também não havia modelos. Com a intenção de desfilar suas criações, Rui recrutava moças da sociedade. Uma das mais queridas foi Lucia Curia, descoberta em um bonde por Dóris e que chegou a trabalhar na Maison Chanel, em Paris.
Logo o ateliê do Centro ficou pequeno para o talento de Rui. Com a queda nas encomendas de chapéus, Rui finalmente entregou-se às costuras e passou a atender em seu antigo casarão da Rua Miguel Tostes.
Ao longo dos anos, o estilista consagrou-se como um verdadeiro ícone da moda no Estado. Na mesma entrevista, fez um balanço da vida:
– Em um dia como esse, em que faço uma releitura da minha vida, me sinto pleno. Penso como foi bom, como foi lindo, como foi boa a nossa vida. Foi muito difícil, mas foi muito bom.
Me sinto pleno. Penso como foi bom, como foi lindo, como foi boa a nossa vida. Foi muito difícil, mas foi muito bom"
RUI SPOHR
em entrevista à Donna em 2013
Quando completou 60 anos de carreira em 2016, Rui foi agraciado pela Câmara Municipal com título de Cidadão de Porto Alegre. No anos seguinte, entrou para a Academia Brasileira de Moda e anunciou o afastamento da alta-costura para se dedicar a projetos pessoais e ao Instituto Rui Spohr, viabilizado por Dóris e dedicado à preservação do acervo da marca da estilista.
Com sua aposentadoria como estilista, ele passou a se dedicar ao seu outro hobby desde os anos 1970: a pintura. No casarão onde residia no bairro Cristal, na Zona Sul de Porto Alegre, Rui mantinha um pequeno ateliê. A cada sábado, ele recebia orientações do artista plástico Hô Monteiro, professor que o acompanhava há 10 anos.
Entre as pinturas que assina desde a década de 1970, a figura feminina é protagonista. Na maioria das obras, é possível identificar traços lembrando o rosto de Dóris.
– Ela é a mulher da minha vida – explicou Rui.