A supermodelo que estampou mais de 1,2 mil capas de revista. Que inventou um novo jeito de desfilar na passarela. A que foi chamada de übermodel.
Esta, todos sabem, é Gisele Bündchen. Mas não é essa a história que ela que escolheu contar no livro que chega nesta segunda-feira, 15, às livrarias. Misto de relato autobiográfico e reflexões, Aprendizados (R$ 44,90, editora Best Seller, 240 páginas) revela a Gisele na intimidade, desde a infância simples em Horizontina, no interior gaúcho, à rotina com o marido, o astro do futebol americano Tom Brady, e os filhos em Boston, onde mora nos Estados Unidos.
Como diz logo nas primeiras páginas, Gisele nunca se reconheceu de fato na imagem da supermodelo que conquistou o mundo. "Ela", como se refere a sua figura pública, era "uma atriz, uma performer, uma camaleoa", que podia, diante das câmeras, ser "sexy ou recatada", "uma soldada ou uma mulher atrevida". Mas bastava terminar o desfile ou a sessão de fotos que a top voltava a ser Gise, uma garota simples, nada afeita à badalação, "que gosta de andar de calça jeans, camiseta e pés descalços".
A jovem que, quando eleita a modelo do ano, em 2000, foi receber o prêmio com uma camisa hippie, jeans e sandálias, para espanto da supereditora da Vogue, Anna Wintour, que pediu que providenciassem uma outra roupa para ela. A guria que preferia comprar roupa em brechós e que trocava a poltrona na primeira classe oferecida pelos clientes por um assento na econômica – e economizava a diferença para poder comprar o primeiro apartamento.
Claro que as histórias e os pontos de vista apresentados ao longo de oito capítulos incluem um tanto da vida profissional de Gisele, que atua como modelo desde os 14 anos. Mas é sempre um olhar dos bastidores, do que o público e mesmo os fotógrafos, estilistas ou editores de moda não viam ao ter diante de si a profissional segura e talentosa com quem todos queriam trabalhar.
Com vocês a Gise que o público ainda não conhece, que busca compartilhar o que aprendeu em seus 38 anos para, como diz o subtítulo do livro, ter "uma vida com mais significado". A fama lhe deu visibilidade, mas ela se sentia uma imagem sem voz. Agora, ela dá seu recado.
Top da disciplina
"Nunca senti que aquela pessoa na passarela, ou nas revistas, ou nos comerciais de TV fosse eu", escreve Gisele, que complementa logo adiante que ser model foi sua profissão, mas não sua paixão ou identidade. Mas uma profissão que ela exerceu com total disciplina. Esta é uma das palavras-chave da top e de seus aprendizados.
Desde a infância, quando dividia as tarefas domésticas com as cinco irmãs e "passava um tempão esfregando o espaço entre os ladrilhos, até tudo ficar tão limpo que se poderia comer no chão" até quando passou a trabalhar 350 dias por ano sem se atrasar "nem uma única vez". Nas sessões de fotos, se preocupava em oferecer diferentes poses, ser cordial com todos e jamais reclamar. Mesmo se estivesse tremendo de frio em meio a icebergs na Islândia, sorria e dava o melhor de si.
Um dia na vida de Gisele
Essa mesma disciplina conduz sua rotina hoje: acordar cedo, meditar, malhar, dar o café da manhã das crianças, preparar o almoço que elas levam para a escola (pasta de grão de bico, sopa de lentilha ou arroz com feijão), deixar a cozinha como a encontrou, dar carona para os pequenos e aproveitar o momento com eles e, na volta, ouvir um podcast ou um audiolivro.
Aí começa o dia de trabalho à frente de seus diferentes projetos ambientais, em reunião com suas irmãs que hoje colaboram com ela, aprovando material para clientes ou dando entrevistas. Almoço, mais trabalho até o fim do dia, quando a noite é da família.
A make do dia a dia
"Gosto de passar pelo menos hidratante labial, uma camada de rímel e um pouco de corretivo."
Ataques de pânico
Ser uma modelo mega-requisitada cobra seu preço. Trabalhando 350 dias por ano e viajando o tempo todo, aos 23 anos Gisele sequer desfazia as malas. Não tinha tempo para cuidar do que comia, e o dia começa com café e cigarros e terminava com uma taça de vinho para relaxar e encarar poucas horas de sono.
Então, em 2003, veio o primeiro ataque de pânico, em pleno voo. Ela passou a ter dificuldades para embarcar ou mesmo para entrar em elevador. Certa noite, mal conseguia ficar no próprio apartamento e chegou a pensar que "seria mais fácil simplesmente pular". Foi a gota d'água. Buscou ajuda, mas não quis tomar os remédios que lhe receitaram. Decidiu que aquela era a oportunidade de mudar de vida. Encontrou a resposta na ioga e em uma alimentação mais natural, livre de açúcar e café. Ouviu seu corpo, diminuiu o ritmo e abraçou o estilo de vida equilibrado que segue ainda hoje.
A Saracura
A übermodel apelidada de "O Corpo" não se sentia segura da própria aparência. Mesmo quando Gisele já era famosa, pesavam os apelidos da adolescência, de quando era pelo menos 10 centímetros mais alta do que os colegas, pesava 45 quilos e vestia duas calças para disfarçar as pernas finas: "Saracura", "Oli" (por causa da Olivia Palito).
"Por maior que seja seu sucesso na vida adulta, não acredito que isso seja capaz de mudar completamente o modo como se via na infância", escreve Gisele.
Depois, vieram os julgamentos do mundo da moda. "Olhos pequenos demais." "Nariz muito grande." Para completar, Gisele tinha seios fartos, o que não correspondia ao padrão de beleza das modelos no início de sua carreira, quando imperava o tipo andrógino. Mas ela surgiu justo quando uma virada estava por vir e foi escolhida a capa da edição da Vogue Americana que anunciava a volta das curvas.
O aprendizado que ficou e que hoje ela repete aos filhos é que as palavras dos outros não te definem.
O jeito Gisele de desfilar
Gisele reinventou o jeito de atravessar a passarela, com uma passada cruzada vigorosa: "erguia o joelho alto e chutava o pé para frente". Mas, conta ela, não havia outra opção para uma mulher de 1m80cm de altura e pé 37 usando saltos altíssimos: "era simplesmente um jeito de evitar levar um tombo".
Sintonia com a natureza
Desde os tempos de colher fruta no pé em Horizontina, Gisele diz ter uma forte conexão com a natureza, presente na horta que mantém em casa e de onde tira boa parte dos vegetais que vão para a mesa, em seu estilo de alimentação, nos projetos ambientais que defende e realiza e mesmo na persistência em dar à luz os dois filhos em parto domiciliar.
Leia mais: