Semana da Pátria de 1978. Eu tinha 17 anos e recebi do colégio um Diploma de Mérito por uma redação chamada “Meu Brasil”. Não lembro uma linha sequer. Terei sido ingênua ou surpreendi as freiras com ideias provocantes? Jamais saberei. Na dúvida, deixo aqui uma versão atualizada do assunto, 44 anos depois.
Meu Brasil.
Meu? Este país é de milhões de pessoas diferentes que, em comum comigo, têm apenas a necessidade urgente de se encantar. Estamos todos fartos de lidar com a inércia e o desespero. Ou não é desesperante assistir à propaganda eleitoral?
Desde a pré-história, os mesmos slogans vazios, os mesmos jingles bobinhos e dezenas de rostos maquiados para o próprio velório. O país da criatividade e da inovação, que sempre atraiu o olhar do planeta, consome-se em um conservadorismo acovardado. Não se atreve a realizar sua sina de gigante, é o legítimo “só tem tamanho”.
Cadê a audácia que caracteriza os que triunfam? O Brasil ainda se contenta em ser uma promessa, estratégia adolescente de enganar a si mesmo. Ser uma promessa é mais cômodo do que ser um fracasso, pensam os que nem tentam sair do lugar.
Mas muitos aniversários se passaram e o mundo agora nos convoca a debater, a participar da construção do futuro. Não temos mais a prerrogativa de ser tão tolos. Fracasso é se agarrar à barra das calças do pai, não enfrentar os desafios do crescimento, brincar de acampamento dentro do quarto, protegidos pelo faz de conta. Brasilzinho, escuta a tia: o erro ensina, o sofrimento fortalece. Não perde a chance de virar gente grande, vai.
Que independência pretendemos celebrar, se ainda nos apegamos a ideias ultrapassadas e evitamos as discussões que pautam a vida moderna? Não precisamos de um tutorial de valores, sabemos muito bem a importância da honestidade e do trabalho. Temos é que ganhar impulso para nos alinharmos às transformações mundiais, e isso se alcança com volúpia, com foco, defendendo sentimentos e preceitos fundamentais, e não com heroísmo de soldadinho de chumbo e ameaças infantis.
Quem teme mudanças refugia-se no blábláblá, se camufla em meio a gangues para fingir que é forte, quando deveria experimentar a verdadeira bravura: amadurecer. Todo adulto fala em nome de si mesmo, encontra sua própria voz. Uma nação independente é formada por indivíduos emocionados com a nova era que lhes coube viver, e não por uma massa de subordinados.
O próximo ou próxima presidente irá errar muitas vezes. É do processo civilizatório. Só não pode repudiar o conhecimento e temer a expansão. Quem só olha para trás, pleiteia a simpatia sonolenta dos nostálgicos, a fim de evitar avanços com os quais não sabe lidar, nem quer aprender. Foge à luta. Não é o meu Brasil.