Postei uma foto no meu perfil do Instagram em que apareço tomando a vacina contra a covid-19. Na legenda, de poucas palavras, deixei claro que era a terceira dose. Recebi muitas curtidas e alguns comentários, entre eles o de uma moça que perguntou: “Martha, você já tomou a terceira dose?”
Dias antes, havia postado sobre o lançamento do meu novo livro no Rio, em fevereiro próximo, e disse na legenda: “Não há outras cidades confirmadas. Quando houver, avisarei”. De novo, muitas curtidas e alguns comentários, entre eles: “E Goiânia?”, “Curitiba quando?”.
Não sou louca de desconsiderar: é carinho, eu sei. Mas é também um sintoma. Houve um tempo em que as pessoas liam livros, muitos deles extensos, divididos em dois ou três volumes. Depois veio a era tecnológica e com ela a impaciência: leituras rápidas, cultura do aperitivo. E agora nem isso: a criatura passa os olhos por duas linhas e não registra nada.
Ninguém mais quer perder tempo, é o argumento de defesa. Mas não me convenço. A falta de foco, sim, é que nos faz perder tempo: somos obrigados a repetir as perguntas, repetir as respostas, voltar aos mesmos assuntos duas, três, cinco vezes. Estamos nos comunicando miseravelmente, trocando mensagens cifradas por WhatsApp, com preguiça de dar uma informação completa, de prestar atenção nos detalhes, de facilitar o entendimento. Agimos como aquelas telefonistas estressadas que atendiam um cliente enquanto deixavam outros sete pendurados (na saudosa época em que não falávamos com robôs).
Essa pressa toda pra que mesmo? Dizem que é o tal do fear of missing out, ou em bom português, “medo de ficar por fora”. Em vez de a pessoa se dedicar uns minutinhos a concluir o que está fazendo – uns minutinhos!! –, ela some e já está em outra e depois outra e ainda outra interação, que serão igualmente capengas. Isso é medo de ficar por fora? A pessoa já está em órbita e não percebeu. Fica batendo de porta em porta e não entra em lugar nenhum.
Adentre, amigo. Puxe uma cadeira e sente. Converse. Pergunte pela família. Olhe nos olhos. Cinco minutos de atenção não arrancarão pedaço. Fique o suficiente para demonstrar que se importa com seu interlocutor. Cale-se e escute. Nutra esses preciosos cinco minutos, para que eles não se dissolvam por inanição.
Ninguém mais quer perder tempo, é o argumento de defesa. Mas não me convenço. A falta de foco, sim, é que nos faz perder tempo: somos obrigados a repetir as perguntas, repetir as respostas, voltar aos mesmos assuntos duas, três, cinco vezes
Ando bem tonta com a esquizofrenia cibernética, com o parcelamento de informações, com a falta de cuidado e de concentração. Ninguém mais se esforça minimamente para estabelecer uma conexão verdadeira. Agora virou moda dizer que fulano tá on, sicrana tá on. Balela. On a gente estava quando se importava. Agora estão todos off, desligados crônicos, vivendo a falsa ilusão de uma vida plena. On está aquele que consegue pausar.