Fique em casa, fique em casa. Alguém acha que isso não interfere na nossa respiração? Tem muita gente sentindo falta de ar sem ter sido contaminada pela covid-19. Eu mesma, outro dia, acordei no meio da noite me sentindo sufocada.
É por isso que as pessoas, contrariando as recomendações das autoridades, fogem para parques, para as margens dos lagos, para qualquer lugar onde haja vegetação, água e muito, muito ar, este ar que não respiramos direito por trás das máscaras, o ar que nos falta diante desta pandemia interminável que bagunçou nossas vidas.
Não estou incentivando rebeliões, nem pense nisso. Usar máscara é incômodo (já nem acho tanto), mas é preciso usar mesmo assim, e saia de casa o mínimo possível, só quando for necessário, mantendo distanciamento das pessoas que encontrar. Continuam sendo essas as regras de comportamento civilizado e preventivo. Enquanto a vacina não chega, paciência, paciência e paciência, nesta ordem.
Mas bendito aquele que conta com uma rota de fuga. Se você tem uma tia que vive numa chácara, visite-a e leve um bolo de presente. Se ela reconhecer você (“como cresceu!”), mude-se para a casa dela, provisoriamente.
Se namora alguém que mora na beira do rio, peça-o em casamento (estou brincando, Pedro). Se você tem um sítio ou um refúgio no meio do mato, fique lá com seus livros e discos, volte a acampar. Possui seis metros quadrados de jardim? Serve. Uma casa na praia? Não humilhe. Eu seria capaz de matar para estar na frente do mar neste exato instante.
Quase invejo o presidente por ouvir tantos “Fora! Fora!”
Quase invejo o presidente por ouvir tantos “Fora! Fora!”. Não consideraria um xingamento, e sim um incentivo amoroso.
Em vez de restaurantes fechados, que se volte a fazer piqueniques sobre a grama. Em vez de lojas de roupas e salões de beleza, consumir flores nativas e lavar nós mesmas o nosso cabelo. Está com saudade das avenidas barulhentas e lotadas? Antes o céu silencioso e lotado de estrelas: as verdadeiras luzes necessárias, longe das luzes produzidas.
Não me faz falta igreja se conto com árvores, dunas, riachos e colinas, que são a representação máxima de Deus, o seu verdadeiro templo, onde ele convoca a todos, de qualquer religião, incluindo os sem religião.
Se você tem um naco de ar livre a seu alcance, e seu trabalho (ou ausência de trabalho) permite, pegue a estrada, se mande. Durma a céu aberto, caminhe sobre o verde, mergulhe e dê muitas braçadas até os pulmões rebentarem de prazer pelo reencontro com sua natureza humana, finalmente em harmonia com a natureza ambiental.
O oceano é vasto. As montanhas são enormes. Há campos a perder de vista. Habitemos de forma mais bem distribuída este planeta que teima em se confinar nas metrópoles infestadas de gente.