Chegou a minha vez. Tão logo acabou a exclusividade das comorbidades e, já não era sem tempo, os professores começaram a ser imunizados, eu sabia que não demoraria muito para a minha faixa etária ser espetada com alegria na fila da vacinação.
Quer dizer: eu sabia racionalmente. Mas todos os dias abria o jornal com medo de ler alguma notícia do tipo “vacinação suspensa por falta de insumos” ou “quem não se vacinou ainda vai fazer um tratamento preventivo à base de óleo de fígado de bacalhau”. Do jeito como as coisas se deram até aqui, a única certeza é a incerteza.
Não foi o que aconteceu. No meu dia, batata: pessoas nascidas no longínquo 1963, ou antes, favor comparecerem a um dos pontos de vacinação para receber a primeira dose. Ocasião que mereceu um banho caprichado, uma ajeitada melhor na cara pálida de tanto ficar em casa e até uma roupinha mais arrumada. Há que se estar preparada para receber um presente desses.
Chovia e acabei indo a um dos drive-thrus, o filho na direção. Isso sempre me comove: depois que já levamos tantas vezes os nossos pequenos para tomar vacina, agora são eles, adultos, que fazem questão de nos acompanhar. Bom é que a grande maioria dos pais, se chorar, é de alegria – diferente dos pitocos, que lutavam com todas as suas forcinhas para escapar da agulhada. E botavam a goela no mundo antes, durante e depois dela.
Ao menos no drive-thru em que estive, uma grata surpresa foi ver um pessoal muito jovem do Exército organizando a coisa toda, a entrada no estacionamento, as filas, o preenchimento da ficha e até, no meu caso, a injeção propriamente dita. Quem me vacinou foi uma sargento chamada Jeniffer, e ela fez isso com tanta leveza que eu não senti nada. Pico, só o da adrenalina. O pessoal do SUS estava lá, firme, e se não fossem as regras do distanciamento, a vontade era a de sair abraçando geral, agradecendo por estarem carregando a nossa saúde nas costas.
Chegando em casa, uma surpresa. O Sergio Braseiro, leitor de São Marcos, no interior de Uruguaiana, tinha me mandado de presente duas caixas com laranjas, bergamotas, geleias, farturas argentinas maravilhosas, produtos que saíram do sítio Santa Rita, atravessaram o Estado e chegaram na minha casa como se colhidos e feitos na hora. Daí fiquei pensando. Cheguei até aqui sem adoecer, com trabalho e com os meus leitores queridos que nunca me abandonam. Se você me encontrar reclamando por aí, pode me marcar com a hashtag ingratidão.
Se não fossem as regras do distanciamento, a vontade era a de sair abraçando geral, agradecendo por estarem carregando a nossa saúde nas costas.
Minha segunda dose é no fim de agosto, quando – espero – quase toda a minha família, e todos os acima de 30, estarão imunizados também. Vai faltar pouco para a esperança picar toda a população. Agora é continuar de máscara, com o álcool em punho e os protocolos também, porque um tem que cuidar de todos. Pessoal da aglomeração bem que podia enfiar isso na cabeça.
Se uns e outros continuarem sem ajudar, mas ao menos pararem de atrapalhar, ali na frente a gente sai dessa feito um alegre, lindo e animado bando de jacarés.