Sim, são muitos os leitores que escrevem para esculachar os colunistas. A razão costuma ser a mesma, discordância política. Uma opinião mal digerida e pronto, abrem-se as comportas do inferno. Lá vem chumbo grosso. Palavras grossas, melhor dizendo – no significado e no português. Só pode ser a emoção do embate que faz com que os xingadores surrem os colunistas e, de brinde, as regras mais elementares da gramática em seus e-mails e comentários.
O respeito é possível até quando a gente discorda.
Deixa para lá. Meu assunto hoje é muito mais agradável, querido, lindo, simpático, doce, gentil e delicado: os leitores que escrevem e-mails agradáveis, queridos, lindos, simpáticos, doces, gentis e delicados para os colunistas. Não necessariamente concordando com o que leram, mas argumentando com uma educação que anda meio perdida nesses dias.
Quando um e-mail assim chega, alegra o dia e faz o trabalho da gente valer a pena. Acho que falo também pelos meus colegas, muitos dos quais enfrentam agressões bem piores, caso dos que escrevem diariamente sobre política e futebol. Como qualquer leitor, também me irrito com certas coisas que aparecem em certas colunas. Mas daí a xingar quem escreveu, vai uma grande diferença. Aqui em casa, felizmente, não tem filial do gabinete do ódio.
Alguns e-mails viram amizades de caixa postal. Quando a Silvia fica muito tempo sem escrever, ela que enfrenta essa longa pandemia isolada com a filha Sabrina, eu me preocupo. Espero que as duas já estejam vacinadas. O Mauro diz que tem um stupidphone, mas confessa ser um infiel. Os mesmos e-mails que manda para mim, envia para outras – e outros. Viva o poliamor colunístico. Não sou ciumenta dos meus leitores.
No domingo das mães, a Isabel contou que aquele era o primeiro dia que passaria sem a mãe dela. Pior que essa falta vai ficar para sempre, Isabel, em todos os domingos e também nas segundas, terças, quartas etc (e a gente vai continuar firme mesmo assim). O José de Souza Mendonça mandou um e-mail que elogiava a coluna das mães, e fez isso de um jeito que me emocionou. Mais ainda quando resumiu a boa convivência em uma frase: “Não concordo com muita posição política tua, mas isso faz parte, essa divergência é o que dá graça à vida”. Exato, perfeito, é isso. O respeito é possível até quando a gente discorda.
Com o Nestor Luiz Trein, que mora em Estância Velha, troquei alguns e-mails dos mais gentis até que, há algumas semanas, a esposa dele precisou vir a Porto Alegre para uma consulta. O Nestor pediu meu endereço e deixou na portaria, além do livro O Pai do Voltér, escrito por ele, um doce de laranjinha e geleias feitas pelo casal, com frutas do jardim da família. Sem falar em um sacão de bergamotas que foi devidamente degustado ao sol, como deve ser. Entre os que xingam e a doçura – literal – dos Trein, eu lá vou perder meu tempo com azedume?
Enquanto isso a CPI da Covid avança, a vacinação segue devagar e quem tem empatia continua se cuidando, e cuidando dos outros, para a situação não piorar mais. Lá fora o mundo anda feio, mas dentro da minha caixa postal ainda existe alegria e esperança.
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Que tal uma dose de Shakespeare no seu dia? A maravilhosa professora Katrhin Rosenfield gravou uma minissérie para a Mínima Produtora, material precioso para os fãs e admiradores do bardo, mas também um convite para iniciantes se maravilharem com a produção shakespeareana. Para ouvir: gzh.rs/shakespeareplaylist.