Olelê, olalá. Não foi pelo meu trabalho, nem por herança, nem pela Mega Sena, mas o fato é que fui dormir remediada e acordei rica. Ricaça mesmo. Não magnata, a nova condição de vários professores, escritores, jornalistas, cientistas, estudantes, estudiosos e leitores que têm muito mais que eu. Alguns desses viraram verdadeiros Trumps – só na riqueza, nada a ver com a política. Tudo por conta de suas estantes cheias de livros, por suas milhares e milhares de páginas lidas e pelas milhares esperando a vez.
O que fez com que tantos dessem esse salto na pirâmide social não foi a declaração do Imposto de Renda, mas a declaração do nosso ministro da Economia – ao menos, ele ainda o era até a entrega desta página. Quando defendeu taxar o livro sob a alegação de que pobre não compra livro, e que o produto é consumido apenas pela elite, Paulo Guedes criou milionários instantâneos pelo país a fora. Você tem livros? Seus problemas acabaram. Esqueça o salário parcelado, cortado ou atrasado. Esqueça as contas por pagar e o SPC sempre rondando. Vá ao supermercado e, na falta de dinheiro na carteira, dê um carteiraço. Diga que você tem livros em casa e leve aquele sonhado filé mignon com alarme na moral.
A gente brinca para não cair de cama, arrasada, chorando. Vamos aos fatos.
O livro é isento de impostos no Brasil desde a Constituição de 1946 por uma emenda apresentada por ninguém menos que Jorge Amado, deputado federal à época. A Constituição de 1988 manteve o dispositivo como forma de desenvolver o mercado, a leitura e os leitores. Agora, em busca de onde puxar mais dinheiro, Paulo Guedes quer tributar o livro em 12%. Livreiros e editores não têm dúvida: a se confirmar o imposto, a quebradeira vai ser ainda maior que a causada pela pandemia.
É simples de entender. Junto com o imposto sobre o livro, e seu consequente encarecimento, vem a diminuição das vendas, o fechamento de mais livrarias, a falência de mais editoras, o encolhimento do mercado para os autores e novos desempregados para engrossar as estatísticas. São mais pobres para não consumir nem livro, nem produto algum. Não é que Paulo Guedes está certo?
Não custa lembrar que o ministro aumentaria, e muito, a arrecadação se taxasse templos religiosos, jatinhos, iates, lanchas, jet skis, grandes fortunas, heranças etc, etc, etc. Se ele insistir mesmo em cobrar imposto do livro, esse “produto da elite”, todos nós que economizamos os trocados para aumentar a biblioteca poderemos resgatar aquele meme clássico da Carolina Ferraz – que eu, pessoalmente achei que não teria a oportunidade de usar nessa vida.
Eu sou rica! Eu sou rica!
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Agora a Noite dos Museus, que durava uma tão disputadíssima quanto especialíssima noite porto-alegrense, dura o tempo que a gente quiser.
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