Já ouviu falar de “Sephora Kids”? O termo viralizou nas redes sociais após crianças e pré-adolescentes “invadirem” grandes lojas de cosméticos para experimentar combos de produtos disponíveis para teste, convocando os pais a comprarem na intenção de usá-los para o seu skincare.
Sim, skincare virou assunto de criança. No TikTok, há uma infinidade de jovens influencers que mostram suas rotinas diárias de cuidados com a pele, dão dicas de maquiagem e exibem suas penteadeiras repletas de produtos de beleza. Nessa dinâmica, o que tem inquietado pais e dermatologistas é que muitos dos produtos favoritos deles têm em suas fórmulas ativos pensados para peles muito mais maduras, como ácidos, esfoliantes e tecnologias antienvelhecimento.
De acordo com a Rochele Durgante, dermatologista da Clínica Dominique, em Porto Alegre, a pré-adolescência e a adolescência são fases da vida em que os jovens querem se descobrir e se sentir pertencentes, membros de uma tribo, como, por exemplo, desta tribo do autocuidado:
— É uma forma de tentar melhorar a autoconfiança. Soma-se a isso o fato de que nesse momento algumas começam a ter acne e cravinhos por causa das mudanças hormonais, e algumas até relatam medo de ter rugas, mas é uma questão que não faz sentido porque estão no auge do colágeno, então é melhor ir com calma.
De acordo com a médica, os cuidados faciais têm que ser feitos desde sempre, mas é indispensável adequar os produtos conforme a idade. A hidratação é um passo que pode ser feito já nos primeiros anos de vida, contanto que se use os cremes adequados à faixa etária e ao tipo de pele.
Mas quando é hora de começar uma rotina de cuidados mais elaborada?
Segundo a dermatologista, somente depois dos 12 anos e sempre com acompanhamento dermatológico. Já para as crianças entre seis e 12, período em que é comum acontecer o despertar para a vaidade e o autocuidado, Rochele defende que o skincare adequado consiste em apenas três etapas: limpeza, hidratação e proteção solar.
Qualquer etapa, além dessas, não é recomendada e deve ser feita somente em casos específicos de problemas de pele, com avaliação médica. Logo, produtos com ácido glicólico, retinol, ácido hialurônico, vitamina C e outros ativos da moda não são indicados para crianças.
Skincare de seis a 12 anos
De acordo com a dermatologista, a limpeza adequada é feita com sabonetes líquidos específicos ao público infantil (como o Johnson) ou então sabonetes sem sabão (Syndet), os quais não são adstringentes e, portanto, limpam sem retirar a camada de gordura natural da pele, que a protege.
O segundo passo é a hidratação, que pode ser feita com hidratantes infantis ou faciais convencionais, desde que estes tenham apenas a ação de hidratação, sem a presença de outros ativos que possam sensibilizar, provocar alergia e irritação.
— Existem produtos que podem ser usados por adultos e crianças, como é o caso de alguns hidratantes para pele atópica, sensível e outros. São produtos que não são exclusivamente infantis, mas que foram testados nesse público e autorizados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – afirma Rochele.
Já o protetor solar deve ter fator de proteção de pelo menos 30 e, idealmente, de 50, e ser específico para a faixa etária. Para uma proteção eficaz, é importante aplicar a quantidade correta, equivalente a uma colher de chá.
— Às vezes a gente coloca um pinguinho na testa, um pinguinho na bochecha, espalha e acha que está protegido, mas para chegar naquele fator da embalagem, é preciso mais do que isso — adverte a profissional.
Skincare de 12 a 16 anos
Dos 12 anos em diante, a puberdade vem com tudo e as modificações hormonais podem fazer a oleosidade da pele e do cabelo aumentar. É um momento em que o PH facial muda, ficando um pouco mais parecida com a do adulto, explica a dermatologista, por isso, já é possível utilizar protetores solares voltados ao público maduro. A limpeza e a hidratação devem permanecer iguais a como era feito na infância.
Outros produtos e ativos que ainda não estão liberados para esses jovens só podem ser adicionados ao skincare com orientação médica. Isso porque, nessa idade, dermatologistas já costumam recomendar itens com alguns tipos de ácidos, como o glicólico e o salicílico, que ajudam na renovação celular e a amenizar cravos, mas utilizá-los por conta própria pode acarretar em problemas:
— O problema maior é que as jovens usam tudo junto, fazem uma mistura, em quantidades erradas. Por exemplo, enquanto o protetor solar deve ser usado na quantidade de uma colher de chá, a de glicólico equivale a um grão de ervilha, mas, muitas vezes, elas não têm esse conhecimento e colocam muito produto. E aí sensibiliza a pele, dá alergia, irrita, pode causar mancha e piorar alguma condição que a adolescente já tem.
Maquiagem tem idade?
É clássico que, em algum momento da infância ou da pré-adolescência, a filha comece a pedir para usar os blushes, sombras coloridas e os batons da mãe. Rochele entende que a questão da maquiagem é cultural e que a família deve decidir o momento certo de começar, mas, do ponto de vista da dermatologia, recomenda-se que até os 12 anos sejam utilizadas makes infantis, que são removíveis com água e não demandam demaquilante:
— Essas maquiagens foram testadas na Anvisa para alergias, sensibilização nos olhos, irritação na pele, então representam menos risco à criança. A partir dos 12 anos já pode utilizar as maquiagens de adultos, mas sempre adequadas ao seu tipo de pele. E como é uma fase de alteração hormonal, com presença de cravos, optem por protetores solares com cor, que ajudam a prevenir o surgimento de manchinhas de acne.