"Máscara de biotina", "booster de biotina" ou "cápsulas de biotina" são alguns dos produtos que estão disponíveis no mercado, muitos deles prometendo unhas mais fortes, cabelos menos quebradiços e redução na queda dos fios. A substância, também conhecida como vitamina H ou B7, também caiu no gosto de influencers, que têm relatado supostos benefícios do seu uso. Mas será que funciona mesmo?
Segundo a dermatologista Giselle Martins Pinto, que é especialista em doenças capilares, o tema merece cautela, pois ela tem resultados comprovados apenas em casos pontuais – não é indicada para todas as pessoas e seu uso indiscriminado pode provocar danos, como veremos a seguir.
A biotina participa do funcionamento de enzimas importantes para o metabolismo, chamadas carboxilases. Elas ajudam na absorção de diversos nutrientes importantes para a beleza, como glicose, aminoácidos e ácidos graxos.
— Essas enzimas que dependem da ação da biotina são responsáveis por uma melhor qualidade de cabelo, de unha, de pele. Então ela tem toda uma participação em vários setores da dermatologia — afirma a médica.
Reforço na alimentação
A dermatologista ressalta que a biotina está presente em diversos alimentos. Sendo assim, uma dieta variada, rica em nutrientes, tende a ser suficiente para fornecer ao indivíduo a quantidade necessária da vitamina B7.
Carnes vermelhas e brancas, ovos, amendoim, batata doce são alguns dos alimentos mais ricos na substância. Sendo assim, são raros os casos em que o organismo apresenta deficiência a ponto de precisar de suplementação.
Segundo a especialista, evidências científicas mostraram que, em alguns casos pontuais, como quando o paciente sofre de patologias, como as síndromes das unhas frágeis ou do cabelo “impenteável”, a suplementação via oral (não há indícios de efeito com produtos de uso tópico) sob orientação profissional poderia ser eficaz. Mas são exceções, de forma que Giselle defende que a reposição de vitamina B7 deveria estar obrigatoriamente atrelada à prescrição médica.
— Para haver benefício é preciso ter um diagnóstico anterior, porque, em geral, as pessoas não precisam tomar biotina. Especialmente, se tratando dos cabelos, a gente não tem evidência científica de que a suplementação traria um ganho no controle de queda ou na melhora do diâmetro dos fios. Ou seja, não tem sentido acreditar que suplementando com biotina eu vou controlar algum tipo de alopecia (perda capilar) — alerta.
Pós-covid 19
Um dos motivos que tem feito crescer a busca por soluções para os fios são os danos momentâneos em pessoas que tiveram covid-19. Porém, quanto ao uso da biotina como tratamento pós-coronavírus, explica a dermatologista, também não existem trabalhos contundentes que apontem resultados positivos com a suplementação.
Sobre os produtos presentes na internet ou na prateleira de farmácias e de lojas de cosméticos, Giselle afirma:
— A gente sabe que, no mercado, muitas vezes influenciados por setores de marketing, estão estimulando a suplementação dessa substância com o intuito de melhorar o cabelo, mas sem embasamento científico nenhum.
Aposta arriscada
Em consultório, nos últimos anos, Giselle vem observando um aumento no número de casos de pacientes que chegam para atendimento já tomando biotina por conta própria — e que relatam não estar obtendo os resultados que achavam que teriam.
O uso sem necessidade, em doses inadequadas e sem acompanhamento médico pode ser arriscado à saúde. E pode, inclusive, acarretar em sobrecarga no funcionamento do fígado.
— É um medicamento que pode ainda alterar muitos exames laboratoriais, dar diagnósticos errôneos, com falsos positivos e falsos negativos. Para exames da tireoide, por exemplo, suplementos contendo biotina têm que ser removidos alguns dias antes da coleta. No meu entendimento, o grande problema do uso por conta própria é que as pessoas acham que vão melhorar tomando a vitamina, e isso acaba atrasando-as de procurarem um dermatologista que, de fato, auxilie em diagnosticar a causa do seu problema — detalha a especialista.
No que tange a questão da pele, ela explica que existem estudos correlacionando o uso de biotina e o tratamento da dermatite seborreica e da acne comedogênica, mas somente em pacientes que já apresentavam deficiência de biotina.