Estava aqui pensando no que gostaria de fazer quando esse pesadelo da pandemia acabar, Outro dia, depois de 8 meses confinada, só abrindo exceção para ir e voltar do Sud, o pássaro verde – meu restaurante que também segue fechado, atendendo apenas com delivery – marquei com uma amiga, uma conversa num café.
Foi um pastelão, para dizer o mínimo! Chega a garrada d’água! Pesadelo. Você não sabe se abre a garrafa, joga álcool 70% spray, ou se, joga álcool 70% spray e abre a garrafa. E depois de abrir, o que fazer?
Já inventaram algum teste para verificar se água está segura para consumo depois de abrir? Será que eu já tenho isso na bolsa? Mais assustador ainda é quando chega o copo! E agora, meu Deus? O que eu faço? Finjo que está tudo bem e que não percebi que o garçom trouxe o copo segurando com mãos na borda? Na borda!
Abro a bolsa disfarçadamente, onde, há 8 meses, mora um compartimento secreto, que foi ficando cada vez maior, com aparatos moderníssimos de limpeza. Abro o compartimento sem chamar muito atenção, afinal, não quero constranger o garçom que tem sido tão gentil, e retiro um sachê de álcool isopropílico 70%. Eu sei, esse tipo de álcool é para limpeza de celulares e afins, mas é o que temos no momento! Pass discretamente na borda do copo e, aí sim, estou pronta para tomar a minha primeira água fora de casa em oito meses!
Sirvo a água no copo, faço aquele sorriso de vitória, bebo a água e, por pouco, não cuspo em cima da minha amiga! Álcool isopropílico não tem um sabor muito simpático, acabei de descobrir! O que se segue é uma sequência digna de Charles Chaplin, com a chegada o cafezinho!
Desisto e vou para casa convicta de que ainda não estou prestada para emoções tão fortes, como tomar uma água e um cafezinho fora de casa. Chego então à conclusão de que a primeira coisa que eu quero fazer, quando tudo isso passar, é pegar um avião - esterilizado, por favor – ir para Porto Alegre, abraçar a Luca e a Lelê, minhas afilhadas tão amadas. Juntar a família toda, sentar no Komka e comer churrasco com as mãos! Tomar refrigerante direto no casco! E comer sagu dividindo a mesma colher com todo mundo!
Será que é sonhar demais?