Faz mais ou menos uns três anos que tomei uma das decisões mais difíceis da minha vida: fechei o meu restaurante, o Roberta Sudbrack. Curiosamente: RS, como os clientes o chamavam. O RS marcou uma época, foi muito à frente do seu tempo, ousado, poético e fiel aos seus conceitos e filosofia. Acreditávamos no que estávamos fazendo. Fazíamos tudo com muito amor, crença e entusiasmo.
No RS, semente de quiabo era coisa séria muito séria. Maxixes, bananas, chuchu, jaca, macaxeira, fruta pão, jerimum... Tudo isso era assunto muito sério no RS. Um Brasil profundamente simples e cotidiano, que se expressava ali, de maneira muito franca, através desses ingredientes, de uma grande pesquisa e de muita reflexão. Um Brasil moderno, ainda que nunca tenha deixado de pousar seus pés no quintal do interior, no cheirinho do fogo de lenha e nos tachos grandes de doces. Um lugar atemporal e, ainda assim, profundamente conectado com o mundo.
O mundo? O mundo ainda era aquele que a gente conheceu. As pessoas viajavam muito e conheciam restaurantes mundo a fora. Viajar que já era uma das coisas mais fantásticas que se podia fazer na vida, ficava melhor ainda com aquela sensação boa, aquele friozinho na barriga, que sentíamos ao chegar no restaurante que queríamos conhecer.
As pessoas ainda se abraçavam! Imagine só? Trocavam beijinhos... No Rio são dois. Em São Paulo era só um. Em Porto Alegre, na minha época, ainda eram três, mas agora já me perdi! As pessoas saíam para jantar. Se arrumavam, sentavam-se perto umas das outras, se tocavam. Dividiam pratos. Experimentavam o vinho na taça um do outro. Dormiam abraçadinhos. Iam à praia! Andavam descalço. Trocavam aperto de mãos... Foi neste mundo tão distante que o RS nasceu. E neste mesmo mundo, que ele percebeu, que já tinha cumprido o seu papel. E que por isso mesmo, era hora de andar um pouco para trás... O resto desta história vem acompanhada de uma mudança profunda e estrutural. Para onde vamos? Conto na nossa próxima conversa.