Olha que loucura, fomos colocados no paredão e nos vimos obrigados a redescobrir nossa própria intimidade. Por uma série de motivos, acabamos mexendo em coisas que ficavam lá no fundo de umas gavetinhas e que a gente fingia não ver. Nem isso escapou da quarentena de ninguém, tenho certeza.
Falo de coisas físicas, das quinquilharias de casa, e de coisas comportamentais também, aquelas pautas guardadas no final da pilha nos escaninhos das nossas cabeças. Essas são as piores de lidar, que a gente vai empurrando com a barriga pra ver se somem. Mas tem umas teimosas, não adianta. Parece que quanto mais tentamos nos livrar, mais rápido elas sobem para o topo da fila. Que na terapia, certamente a recomendação seria de enfrentar esse monstro de uma vez por todas.
Sempre tem aprendizado nessas situações, mesmo que seja da pior maneira. Porque daí o cara já tá contrariado, de saco cheio e angustiado por ter que estar lidando com um troço chato que dá frio na barriga.
Muitos restaurantes precisaram mexer nos armários emocionais e revirar até aquelas caixas que evitavam abrir. Foi assim que todos eles entraram definitivamente na era do delivery, querendo ou não. Dos mais puristas aos mais descolados. Aquilo que anteriormente era visto apenas como oportunidade de escalonar mais as vendas usando a mesma estrutura de cozinha, acabou se tornando uma necessidade vital.
Vamos combinar que foi uma das coisas boas que aconteceu nessa fase tão turbulenta. Poder comer no conforto das nossas casas os pratos preferidos dos restaurantes mais queridos é um sonho sendo realizando. Com um sentimento especial de estar contribuindo para que eles se perpetuem. Que ruim que teve que ser assim, mas pelo menos acabou sendo.
Por se tratar de um caminho sem volta, o grande desafio agora é evoluir nisso e pensar numa forma bem autêntica de proporcionar uma experiência que vá além da conveniência. Mas vamos devagar, já abrimos gavetas demais por enquanto, tudo tem seu tempo. Vai dar tudo certo!