Além de ter formação em Engenharia Química, Sady Homrich, baterista da banda Nenhum de Nós, é um grande conhecedor e apaixonado pelo mundo cervejeiro.
Como se iniciou o seu interesse pelo mundo cervejeiro?
Sempre gostamos da cerveja em família. Depois que entrei na faculdade de Engenharia Química, em 1981, me interessei mais sobre o assunto e logo coloquei as mãos na massa, ou seja, nas panelas. Sou cervejeiro caseiro desde 1983. Alguns anos mais tarde, formamos a banda e a partir daí comecei a viajar e a conhecer de perto a realidade cervejeira do interior do Brasil. Depois, vieram os treinamentos sensoriais, as palestras, as consultorias, os festivais, os concursos... até chegar na TV como jurado do programa Eisenbahn Mestre Cervejeiro, que vai ao ar no Multishow e na Globo, tendo recém encerrado sua terceira temporada.
Como você percebe o atual cenário cervejeiro no Estado?
Temos perto de 200 cervejarias e grande parte está equivocada achando que o caminho mais fácil está nos grandes centros. Essa concentração é nociva, pois o excesso de concorrência provoca aviltações de mercado. Quando entenderem que a melhor saída é criar novas frentes, em médio prazo, teremos uma cerveja artesanal mais democrática. Ainda têm
potencial para crescer, mas precisam se profissionalizar e organizar para fazer frente à árdua tarefa de reduzir custos.
Quais as principais característicasque uma cerveja precisa ter para ser considerada boa?
Para começar, precisa ser honesta, ou seja, conter o que está descrito no rótulo. A partir daí, independentemente de quem esteja degustando ou de qual seja o estilo, a cerveja tem que dar prazer para quem a toma. Sempre tento prová-las perto de onde são fabricadas, pois muitos estilos ficam com as qualidades mais evidentes quando as cervejas são frescas. Gosto muito do conceito #bebalocal.
Qual a sua harmonização favorita?
Essa é difícil. Vou sugerir três maneiras de harmonizar: churrasco com münchner dunkel, por complementação dos tostados do malte e da carne; fondue de chocolate meio amargo com frutas secas e weizenbock, por semelhança entre o
adocicado dos seus componentes; e queijo de mofo azul com american IPA, por corte, no qual o amargo do lúpulo ameniza a potência do mofo azul e vice-e-versa.
Você tem um estilo de cerveja favorito?
A preferência por determinado estilo não é um conceito absoluto, é transitivo. Têm épocas em que prefiro algo mais limpo, equilibrado; depois de um tempo, o paladar pede algo mais radical. Tenho curtido muito american pale ale nos últimos meses.
Uma dica de rótulo para quem está começando a beber cerveja e um para quem quer experimentar novos sabores.
Para a iniciação, sugiro uma cerveja leve, de sabor equilibrado, como a Abadessa Export (Pareci Novo, RS), com ótima seleção de maltes. Para desvendar novos e desafiadores sabores, a potente Lohn Carvoeira (Lauro Miller, SC), estilo Russian Imperial Stout com adição de funghi secchi e cumaru.
É possível harmonizar música e cerveja?
Totalmente! Assim como a música, a cerveja pode gerar um estado de espírito e ambos podem harmonizar por complementação ou por contraste. Tenho um projeto chamado Degustação Acústica que trabalha bem dentro desse tema.
Uma viagem gastronômica inesquecível.
Acho que ainda estou por fazer, mas Belém do Pará foi revelador com sua diversidade de sabores!
Um bar para beber boas cervejas.
Na Capital, o Bier Markt Vom Fass. No Interior, a Taberna MF, em Gramado.
Qual seria sua última refeição antes de morrer?
Camarão do Laranjal com leite de coco e pimenta acompanhado de uma Bamberg Camila Camila Bohemian Pilsner. Ou
aquele churrasco com dunkel que citei.