Claudia Schumacher é mixologista e iniciou sua carreira em bares nos Estados Unidos, onde morou por um tempo. Hoje ela está trabalhando em Porto Alegre como consultora e dá cursos de drinks – inclusive na Casa Destemperados – para quem quer aprender um pouco mais sobre a prática.
De que forma as tuas vivências nos Estados Unidos te trouxeram inspirações para a mixologia?
Foi nos Estados Unidos que aprendi tudo sobre mixologia e investi nessa carreira. Eu me mudei para Nova York em 2008 para fazer faculdade de moda. Comecei a trabalhar num bar para ajudar a pagar as contas e comecei a conhecer bartenders, o mundo da coquetelaria e da mixologia e me apaixonei! Larguei a faculdade e comecei a investir nessa carreira com cursos, seminários, degustações. E ali a paixão despertou de vez e minha carreira começou.
Quais lugares tu trabalhaste lá?
Em Nova York trabalhei no Rum House, Empellon, Salvation Taco, Lamb's Club, Mulberry Project, Peacock Alley no Waldorf Astoria, Maysville, Lucey's Lounge entre outros. Esses foi onde mais aprendi com grandes bartenders e mentores como Frank Caiafa, Henry Lopez, Abdul Tabini, Clif Travers, Sasha Petraske. Em Nova Orleans abri dois bares com meu grande amigo e mentor Max Messier, que hoje produz uma linha de xaropes chamada Cocktail and Sons e está famosa em todos EUA. Com ele fizemos as cartas de drinks e o programa de bar do Square Root e do Fulton Alley.
De onde tu tiras criatividade para criar drinks autorais?
Normalmente me inspiro em clássicos variando os ingredientes, faço substituições e vou testando e brincando com sabores e texturas. Adoro ir ao mercado público e passar horas por lá pesquisando frutas, temperos, ervas e especiarias. O pessoal de algumas bancas já me conhece e adoram quando apareço em busca de novidades.
Como é ser mulher e mixologista?
Confesso que é um desafio. É um mercado ainda predominantemente masculino e nos EUA mesmo sofri muito preconceito e discriminação de colegas e donos de bares por acharem que por ser mulher eu não tinha competência nem talento suficiente para fazer esse trabalho. Piadinhas machistas eram constantes. Mas nós mulheres bartenders nos unimos e criamos um grupo onde denunciávamos discriminação e abusos no local de trabalho. Foi uma grande revolução e ali causamos muitas polêmicas, inclusive um grande e famoso bartender dos EUA, que fez uma piada machista, foi afastado da companhia devido ao seu comportamento inapropriado diante de mulheres talentosas.
Tu acreditas que tem mais mulheres entrando para o mundo da coquetelaria?
Sim, acredito e dou a maior força. Acho que temos que mostrar que somos tão talentosas e capazes quanto os homens para fazer esse trabalho perfeitamente.
Um drink americano preferido?
O Old Fashioned. Um clássico lá do início da evolução da coquetelaria americana que é simplesmente delicioso e simples de fazer. Sempre julgo um bar pela qualidade do seu Old Fashioned. Se um bartender não sabe fazer um bom, certamente tem muito a aprender.
Nos conta a história de um drink que seja curiosa?
O Ramos Gin Fizz, que foi criado em 1880 por Henry C. Ramos, nascido em Indiana mas morou e exerceu a profissão em Nova Orleans. Quando foi criada, a receita dizia que o bartender precisava bater o drink por 12 minutos, pra criar aquela famosa espuma que parece um cupcake em cima do copo. Até hoje é um drink que requer tempo, mas com técnicas mais modernas nos tempos de hoje, não precisamos mais enfrentar a maratona de 12 minutos batendo o cocktail. É um drink delicioso e refrescante com gin, sucos de limão siciliano e Tahiti, clara de ovo, creme de leite , triple sec e água de flor de laranjeira.
Qual o pior emprego que já tiveste?
Casa Lever em Nova York onde meu chefe era a pessoa mais machista e grosseira com quem tive que lidar no meio. Estava lá há apenas um mês e depois de vários comentários desagradáveis ao longo do tempo, peguei minha bolsa, agradeci a oportunidade e falei que não sou mulher de ser tratada daquela maneira e saí porta afora.
Uma harmonização preferida?
Whiskey com bittters e amaros. Gin com frutas cítricas, vermelhas e temperos.
Uma receita de drink inesquecível?
Um dos meus drinks preferidos, o El Colibri, criado por um bartender de San Francisco, o Vince Lundi, que na época trabalhava em Nova Orleans quando morei lá. Eu amei tanto esse drink quando encontrei num livro de receitas que resolvi colocar no menu do Bar Tonique, onde trabalhei, e foi o maior sucesso. Um dia o Vince entra no bar (eu não o conhecia ainda), pede o cardápio e abre o maior sorriso ao ver a criação dele na nossa lista. Me chamou e se apresentou como criador do drink, agradeceu por eu ter colocado o coquetel dele no menu e disse que se sentiu muito honrado. O coquetel é de tequila com licor de cassis, mel e
limão siciliano. Simples, mas absolutamente delicioso. Viramos grandes amigos aquela noite e, claro, tomamos muitos El Colibris juntos.
Um ingrediente que estraga qualquer bebida?
Refrigerantes. Tirando a tônica e a Coca-Cola no clássico Cuba libre, acho que refrigerantes tiram todo balanço e harmonização de qualquer drink pois se destacam demais e acabam mascarando o sabor do destilado.
Um lugar para degustar bons drinks em Porto Alegre?
Tenho saído pouco em Porto Alegre em função de minhas viagens e trabalhos então tenho vários bares pra conhecer. Os que fui e gostei são o Olivos e o Vasco da Gama 1020. E as noites que faço no Mini Bar com cocktails clássicos e exclusivos dias vezes por mês são sempre sucesso!