*Texto por Luiz Américo Camargo, crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso
Nem a exclusividade de um night club privado, nem um hotel 5 estrelas: mas uma tradicional brasserie. Emmanuel Macron, o favorito na eleição presidencial francesa deste domingo, celebrou sua vitória no primeiro turno, dias atrás, na mais do que centenária La Rotonde.
Muitos criticaram: será que espocar o champanhe agora não seria prematuro? Outros tantos não deixaram barato: o atual (e desprestigiado) presidente, François Hollande, selecionou o mesmo endereço para comemorar seu triunfo, em 2012. Não daria azar? Mas o fato é que o jovem provável presidente foi extremamente clássico na sua escolha.
Não tenho nada a ver com o pleito na França, mas, aqui, neste espaço, já comentei como o Brexit e a vitória de Donald Trump poderiam afetar um mundo de livre circulação – de pessoas, negócios, cultura e... gastronomia. Seria um grande pesar ver até a França, pátria dos que gostam de pães, vinhos, queijos, chocolates e todo um riquíssimo receituário, se fechando para o mundo – um movimento que seria representado pela candidata Marine Le Pen.
Mas quero discorrer um pouco mais sobre a escolha de Macron. O La Rotonde fica no 6ème arrondissement, região de muitas brasseries icônicas. Suas mesas já receberam de Picasso e Hemingway a Lenin. Referências históricas à parte, é um endereço para um ótimo steak tartare, para ostras frescas, crustáceos sempre confiáveis e uma boa variedade de vinhos, a preços pagáveis. E numa charmosa casa art-déco, diga-se. Sempre vale a visita.
Para além de modismos ou de ostentações, considero positivo que alguém ligado ao poder marque posição em valorizar aquilo que os parisienses, em particular, mais souberam legar à civilização ocidental: a fruição de comida bem feita, de vinhos generosos, de um belo ambiente, temperada por conversação estimulante. Que essa mensagem siga em frente, encantando não só gourmets e viajantes, mas todos aqueles que têm apetite pela democracia.
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