Comida de rua não é apenas uma opção rápida e barata para comer em dias corridos, é também um símbolo da gastronomia local. Para conhecer de verdade a cultura de um lugar, é imprescindível provar suas comidas típicas. Na França, por exemplo, os crepes fazem sucesso entre os turistas, assim como na Itália, onde ninguém pode ir embora sem provar um gelato.
No Brasil, devido à colonização, cada Estado tem sua própria gastronomia, e as iguarias de rua se diferem de acordo com cada região — do pastel de feira ao churrasquinho na saída do jogo de futebol.
Alguns pratos ultrapassaram fronteiras e, hoje, fazem parte do país todo. É o caso do acarajé de Maria Célia Ribeiro, a baiana que há 20 anos faz sucesso no Brique da Redenção, em todos os domingos.
A cozinheira veio para Porto Alegre em 1997 devido à crise da Vassoura-de-Bruxa, uma praga que se disseminou pelo sul da Bahia e destruiu grande parte das lavouras de cacau da região, que, na época, era a principal fonte de renda da população. Maria Célia, que morava no Interior, conta que escolheu Porto Alegre por ter receio de morar em grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Ela, que já tinha experiência de mais de 20 anos em cozinhas de restaurantes, veio para a capital gaúcha com o intuito de servir o seu acarajé, muito vendido nas ruas da Bahia.
— Imaginava que, por já ter sido tema de vários programas de televisão e ser muito famoso, todo mundo já conhecesse e tivesse provado. Mas, quando cheguei aqui, de cem pessoas, apenas duas sabiam o que era — conta.
Célia, como gosta de ser chamada, afirma que, na época, apenas as classes mais altas tinham conhecimento do que era o acarajé ou já haviam provado por viajarem Brasil afora, porém, esses não frequentavam as barraquinhas de rua em Porto Alegre.
Além da difícil tarefa de convencer o paladar gaúcho de que a iguaria baiana era muito saborosa, Célia também enfrentou dificuldades para encontrar os insumos adequados para preparar o bolinho de feijão-fradinho. Alguns ingredientes vêm diretamente da Bahia, como o azeite de dendê, o cumaru e os temperos especiais. Já o camarão seco, Célia teve que adaptar para o fresco, uma vez que a vigilância sanitária não permite transportar o insumo.
— Hoje, tenho clientes que dizem que o meu acarajé é melhor do que o que eles encontram na Bahia — conta orgulhosa.
Outra comida muito comum de se encontrar nas ruas de Porto Alegre é o bom e velho cachorro-quente.
São muitas variações do lanche. Com salsicha, linguiça, aberto, prensado, com muita maionese ou apenas o básico, com pão, salsicha e molho.
Clássico da cidade, o Cachorro do R completou 60 anos em 2022. A carrocinha foi criada por Osmar Labres, que, na época, era carpinteiro e viu nas imediações do Colégio Marista Rosário a possibilidade de abrir o próprio negócio.
Com a receita original do molho da família, seguida rigorosamente até hoje, Osmar foi conquistando cada vez mais clientes fiéis.
Após o seu falecimento, os filhos José, Fernando e Raquel passaram a cuidar do negócio, mas José faz questão de ressaltar que eles apenas administram e mantêm o legado do pai.
— A carrocinha pertence aos nosso público. Temos profissionais atendendo, mas não existe padronização, o lanche é feito de acordo com a vontade do cliente, como se ele estivesse se servindo na própria cozinha — explica.
Faça chuva ou faça sol, o Cachorro do R está sempre no mesmo endereço, na Praça Dom Sebastião, das 10h30min à meia-noite, todos os dias. Para José Labres, a carrocinha é um encontro de gerações. Pais e mães, que levavam seus filhos para comer o lanche, hoje, levam seus netos e seus bisnetos.
O negócio conta com apenas uma loja física, que serve como central de montagens para o delivery e é onde fica a padaria. O administrador conta com orgulho que, mesmo durante a pandemia, o serviço de entrega e de takeaway foi o que manteve o Cachorro do R em pé e com todas as contas em dia.
— Na época, alguns clientes ligavam para comprar de 50 a cem lanches e nos orientavam a doar aos mais necessitados. Isso nos deu forças para passar por todo esse período difícil e seguirmos com a operação aberta até hoje — relembra o proprietário.
Quando questionado sobre o motivo de manter o serviço na rua e não investir em mais lojas físicas, o filho de Osmar não hesita ao dizer que a carrocinha se tornou uma referência e que faz parte do legado deixado pelo pai.
— É nela que nossos clientes encontram o saudosismo da infância, de momentos que ficaram na memória. A carrocinha é mais do que uma marca, é acolhimento.
Tanto Maria Célia quanto José afirmam que o segredo para manter os negócios ao longo de todos esses anos, além de oferecer uma comida com muito sabor e preço justo, é fazer com que o cliente se sinta parte, atendendo sempre com um sorriso no rosto. É receber o cliente como um amigo.
A verdade é que por trás de todo negócio de rua há muita história, muita dedicação e, sobretudo, muito sabor.
Viva as comidas de rua!
Descubra outros lugares em Porto Alegre:
CACHORRO-QUENTE
DOG DO FORMIGA
Praça Júlio de Castilhos, no bairro Independência
Fone: (51) 98907-0992
De segunda-feira a sábado, das 11h às 19h
@dogdoformiga
PASTEL DE FEIRA
PASTEL DA EPATUR
Na Feira Modelo EPATUR (Largo Zumbi dos Palmares), no bairro Cidade Baixa
Aos sábados, das 6h às 13h
CHURRASQUINHO
CHURRASQUINHO DO POLACO
Av. João Pessoa, 11, no bairro Centro Histórico
Fone: (51) 98622-1233
De segunda a sábado, das 11h à meia-noite Aos domingos, das 17h à meia-noite