A jornalista Sara Bodowsky, editora do Roteiro da Sara, viajou recentemente a Madrid, na Espanha, onde visitou o restaurante El Botín, conhecido como o mais antigo do mundo, e conta como foi a experiência
Tinha passado a manhã nos arredores da Plaza Mayor, no centro de Madrid, para chegar tranquila no almoço do El Botín, que fica a alguns metros dali. O entorno já é digno de muita curtição – sugiro um café da manhã no Mercado de San Miguel com pinchos, bocaditos e, por que não, já degustando uma taça de um cava ou até mesmo champanhe. Os espanhóis bebem desde muito cedo e até muito tarde. Uma dica: mesmo que você esteja ao lado da Plaza Mayor, evite os restaurantes internos. A vista é maravilhosa, mas a comida é cara e sem sabor. Do outro lado dos paredões, existe um outro mundo, delicioso e muito mais barato.
Não sou a maior fã de lugares superturísticos, mas quando fiquei sabendo que Madrid tinha aquele que era conhecido como o “restaurante mais antigo do mundo”, botei na cabeça que ia almoçar no El Botín (ou Restaurante Sobrino de Botín, como escrito na fachada).
Tinha ouvido que era superconcorrido, mas a reserva, pela internet, foi tranquila. Talvez porque fosse uma terça-feira, ou porque eles têm quatro opções de horários para o almoço e quatro para jantar. Funciona de segunda a segunda, e só fecha nas noites de Natal e Ano-Novo.
O prato mais popular do El Botín é o cochinillo assado. Mas, prepare-se: os corações mais delicados podem se sentir divididos. Eu fiquei sabendo só após o almoço. Mas acho que mesmo assim, comeria – é meu trabalho provar sabores e pratos típicos também. O cochinillo é um porco de apenas 21 dias, que foi alimentado só com leite. A história é triste, mas o sabor é incrível. A carne é tenra, e o prato vem servido com batatas. O cochinillo segoviano, assim como o cordeiro (outro assado muito procurado por lá), chega em carregamentos três a quatro vezes por semana ao restaurante. Por dia, são servidas entre 700 a 800 pessoas no El Botín.
Para a entrada, pedi um gazpacho – sopa fria espanhola que lá ainda é temperada com pimentão, tomate e cebolas picados ao gosto do cliente na mesa pelo garçom. O prato principal foi meia porção de cochinillo. O suficiente, afinal é muito bem servido. E é muito saboroso.
Não pedi sobremesa (não sou a maior fã de doces), mas, para acompanhar, foi necessária uma taça de vinho tinto de Rioja “da casa”. Isso é o bacana de viajar, mesmo sozinha, por países como Espanha, com história e tradição na produção de vinhos: a taça de vinho da casa dificilmente vai te decepcionar. O total ficou em aproximadamente 35 euros.
A dica, quando chegar ao El Botín, é pedir um lugar no subsolo, se você é daqueles que curtem reviver a história. Não tem como escolher o andar ao fazer a reserva pela internet. Mas chegue cedo e peça onde quer ficar. Eu fui parar na entrada da adega, incrível! O lugar não é mais usado com esse propósito porque não foi pensado, na sua construção, centenas de anos atrás, para ter controle de temperatura e umidade como as adegas modernas. Mas achei ali algumas garrafas de 30 e 40 anos que me deixaram curiosa. De qualquer maneira, é uma experiência inesquecível.
A HISTÓRIA DO BOTÍN
Em 1590, quando o Rei Felipe III transferiu a corte espanhola temporariamente para Valladolid, o proprietário do edifício onde hoje está o El Botín pediu autorização para funcionar como albergue dos integrantes dos cortejos reais que não se hospedavam nos palácios da Plaza Mayor, alguns metros distante. Em 1725, nesse lugar, o sobrinho da esposa do cozinheiro Jean Botín abriu uma pousada e é dessa data o forno, utilizado até hoje. É daí que se inicia a contagem do
Guinness, considerada como a fundação do restaurante. Nas hospedarias, nessa época, só se podia cozinhar o que o hóspede trazia, para não fazer concorrência com casas de comida e restaurantes. Dizem que o pintor Francisco de Goya trabalhou por lá lavando pratos, em 1765. No início do século 20, assumiu o restaurante a família que ainda hoje
está no comando do lugar, abrindo mais dois andares (além do térreo e do subsolo) para os clientes e fechando a hospedaria.
Reservas e informações em www.botin.es
*Sara Bodowsky é comunicadora da Rádio Gaúcha e editora do blog Roteiro da Sara (radiogaucha.com.br/RoteirodaSara)