* Por Natália Frighetto, enóloga e sommelier da Casa Destemperados
Prática milenar, a assemblage, como é chamada pelos franceses, nasceu com o objetivo de aperfeiçoar os vinhos. A mistura da fruta preta do merlot, com estrutura média e acidez equilibrada, com as frutas vermelhas e a presença de taninos dos cabernets resultam em um vinho mais complexo e intenso de aromas e sabores, além de oferecer um corpo e persistência maiorem boca.
Até o início da produção de vinhos no novo mundo, os rótulos europeus se destacavam muito mais pelas regiões produtoras do que pela variedade de uva. Bourdeaux, na França, por exemplo, é mundialmente conhecida e famosa pelos seus vinhos, e consequentemente conhecida pelo corte bordalês. O blend entre cabernet sauvignon, cabernet franc e merlot conquistou os enólogos e os apaixonados pela bebida. A Appellation D’origine Contrôlée (AOC) permite outras 13 variedades de uva como caménère e malbec, além da presença das brancas sauvignon blanc e semillon na composição do corte bordalês.
Mas, não é apenas em vinhos tintos que ocorre a assemblage. A produção de champagne, espumantes e cavas também utiliza dessa técnica. O objetivo é o mesmo: buscar o que de melhor a safra produziu naquele ano e unir com as outras variedades, para dar equilíbrio. Por exemplo, na elaboração de espumantes, geralmente se utiliza as uvas chardonnay e pinot noir – uma branca e outra tinta. Desse blend pode-se gerar espumantes brancos e rosés, produtos mais frescos e jovens, como também vinhos mais encorpados e intensos.
No entanto, muitos críticos afirmam que o corte acaba não valorizando o terroir do local de produção, e que isso ocorre somente com o vinho varietal (produzido com apenas uma casta). Opiniões à parte, grandes vinhos do mundo se compõem com a assemblage para aprimorar aquilo que a safra produziu. Mais cor de uma variedade, mais aromas frutados de outra, para juntos compor um produto ícone.
Essa prática de misturas, inclusive, é utilizada em uísques e até mesmo nos azeites. Uma variedade mais frutada, como a Koroneiki, pode ser misturada com uma oliva menos persistente, como a Arbosana, gerando um azeite incrível. São produtos diferentes, mas que utilizam da técnica da assemblage para buscar sua melhor composição.