Ele viveu a ascensão, passou pelo declínio e agora está em retomada. O gim teve sua época áurea nos anos 1920, durante o período do Art Déco, quando era personagem principal de drinks como Martinez, Dry Martini, South Side e White Lady. A partir dos anos 1980, passou por uma fase obscura, quando foi considerado ultrapassado. Há pouco mais de cinco anos é que as receitas com gim começaram a ser resgatadas, principalmente na Europa.
— O gim-tônica praticamente se tornou a bebida típica da Espanha, onde passou a ser cultuado e difundido, principalmente em Madri — explica Edgard da Costa, um dos proprietários da Companhia Tradicional de Comércio, de São Paulo, e fã da bebida. — Os chefs espanhóis começaram a bebê-lo e associá-lo à gastronomia, servindo em copos de conhaque e adicionando ingredientes que iam muito além da simples rodela de limão.
Originário da Holanda, onde foi concebido como espécie de remédio, e posteriormente disseminado na Inglaterra pelas tropas britânicas, o gim é uma bebida forte e complexa, porém muito versátil e conhecida principalmente por ser aromática.
— A bebida precisa necessariamente conter zimbro (uma frutinha visualmente semelhante ao mirtilo, porém com aroma de pinho), senão não é gim — esclarece Mahara Soldan, uma das sócias do Capone Drinkeria, bar de drinks em Porto Alegre. — Cada destilaria, porém, tem sua própria receita, que pode incluir diferentes especiarias, frutas e até mesmo caramelo, tornando infinitas as possibilidades e combinações.
Além de voltar com força em bares e restaurantes espanhóis, o gim viu seu consumo ser impulsionado por outros fatores, segundo Paulo Freitas, bartender e representante do gim Tanqueray no Brasil.
— O aumento no consumo se deu principalmente pelas edições de luxo da bebida, que começaram a aparecer no mercado e trouxeram ao público rótulos diferenciados. Além disso, a partir do final da década de 2000, depois de passar por uma época considerada a idade das trevas pelos bartenders, houve uma retomada na coquetelaria que, com drinks mais criativos e complexos, tornou-se um braço da gastronomia — conta.
NO INÍCIO
A bebida que deu origem ao gim que conhecemos hoje chamava-se Genever e era destilada de cereais, mais rústica e com teor alcoólico maior. Começou sendo vendida como um composto medicinal na Holanda, como tratamento para problemas estomacais, entre outras doenças. Como a bebida era muito amarga, passou-se a adicionar o zimbro para que ficasse mais agradável ao paladar. O gim, porém, ficou conhecido mesmo na Inglaterra.
— Mais tarde, com a Inglaterra em guerra com os Países Baixos, o hábito do gim foi levado pelos ingleses para casa, onde se desenvolveu o London Dry Gin, versão mais conhecida atualmente — explica Mahara Soldan.
OS TIPOS MAIS CONHECIDOS DE GIM
Genever ou Dutch Gin: Produzido na Holanda e na Bélgica, é um gim mais rústico. É destilado quatro vezes e pode levar caramelo em sua composição. Com a retomada do gim na Europa, pequenas destilarias estão surgindo, então inúmeras marcas podem ser encontradas por lá. No Brasil, porém, não há importação deste estilo.
London Dry: É o estilo mais difundido e utilizado no Brasil. Deve ser produzido com infusão de zimbro e não pode conter essências e adoçantes. As marcas mais conhecidas são Bombay Saphire, Tanqueray e Beefeater. Rótulos como Monkey 47, London N°1 e Bulldog são diferentes e divertidos, porém mais difíceis de encontrar.
Plymouth: Este gim é necessariamente fabricado na cidade britânica de Plymouth. Tem características terrosas e amadeiradas, pois recebe muita infusão de raízes. A marca mais conhecida leva o mesmo nome do estilo, porém é bem difícil de ser encontrada no Brasil.
New American ou Estilo Internacional: É o nome dado a todos os outros estilos que não seguem as regras tradicionais ou aquelas citadas acima. Um exemplo é o Hendrick's Gin, que chegou recentemente ao mercado brasileiro e que leva pepino e pétalas de rosa na infusão.
O GIM NO BRASIL
Na Europa, a cultura do gim já está bastante difundida, inclusive com pequenas destilarias e bares especializados em drinks com a bebida. No Brasil, a tendência demorou a chegar, mas aos poucos é possível perceber as mudanças — o público tem demonstrado simpatia dos consumidores por marcas alternativas, importadas, premium e artesanais.
— Notamos no Capone que houve um aumento do interesse pelo gim, bem como um crescimento nas vendas das marcas premium. A moda vai e vem, trazendo de volta bebidas há pouco tempo consideradas ultrapassadas. O gim é muito versátil e pouco conhecido no Brasil, essa onda vai longe — aposta Mahara.
Em São Paulo e em Porto Alegre, bares como Astor e Capone têm se empenhado em criar drinks que valorizem o gim, destacando aromas e sabores da bebida. O Bar Astor, em São Paulo, tem uma carta dedicada exclusivamente ao gim-tônica, criada por Edgard da Costa, da Companhia Tradicional de Comércio. O projeto já está na terceira edição e teve sucesso imediato desde quando começou, em 2012. O Capone Drinkeria, em Porto Alegre, comandado por Mahara Soldan e Bianca De Lazzari, tem sete rótulos de gim na carta e cinco drinks feitos com a bebida no cardápio. Além de diferentes receitas e adaptações que fazem a pedido dos clientes.
* Conteúdo produzido por Juliana Palma