Sem cama. Ou melhor, sem móveis. Sem eletrodomésticos. Sem piso. Mas com plantas e água reutilizada. É a casa do porto-alegrense Patricio Campanha, que aparece no segundo episódio de Muquiranas Brasil. Aos 36 anos, ele segue uma tendência "sobrevivencialista" e se classifica como um "minimalista radical".
O capítulo foi disponibilizado na Max em 18 de julho, quando a série documental estreou na plataforma de streaming. É a primeira temporada da versão brasileira de Extreme Cheapskates (título original), produção americana que estreou em 2012.
O reality show traz ao público o estilo de vida de pessoas que economizam ao extremo. Além de Patricio, outras duas gaúchas já passaram pelo programa até o momento: Glaucia Rangel, de Canoas, no episódio 5, e Laila, de Gravataí, no episódio 6.
— Foi bem marcante, positivamente falando. Foi uma oportunidade que me deram de mostrar meu estilo de vida, e isso me abriu portas. Estão até falando de me convidar para algum outro programa. Estou aberto a novas possibilidades — relata o gaúcho.
Morador da Lomba do Pinheiro, zona leste de Porto Alegre, Patricio apresentou o seu lar e seus hábitos no programa. A casa é composta por hortas verticais, utilizando recipientes descartados (garrafas PET, pneus, entre outros) como vasos. Para a saúde das plantas, ele instalou teto transparente e distribuiu espelhos quebrados colados com barro argiloso nas paredes que restaram, que refletem a luz que atravessa o telhado de plástico, para atingirem as plantas.
São poucas paredes: boa parte da casa foi derrubada. Também não há piso, que foi quebrado — segundo Patricio, assim obtém mais contato com o chão e não precisa varrê-lo, o que ajuda a economizar. Para que não haja erosão, ele inseriu pneus no solo.
Não há móveis ou eletrodomésticos. Patricio dorme dentro de uma barraca com colchão, que também serve de mosquiteiro para evitar contato com insetos. Ele garante que ali não entra terra e que, periodicamente, a barraca é higienizada.
O gaúcho costuma tomar banho gelado, mesmo no inverno, em uma caixa d’água. Aliás, a sua toalha é cortada em quatro partes. Tanto a descarga do vaso sanitário quanto a água da limpeza vem de um sistema de reaproveitamento, instalado na máquina de lavar de seu pai — que também é vizinho dele.
Sem geladeira, Patricio não costuma consumir carne em casa. Sem fogão, ele cozinha num forno à lenha. Ele compra alimentos no atacado, com um preço menor, para estocá-los.
A participação no programa foi gravada em 2022. Atualmente, a casa passa por reforma, com a construção de um porão — onde ele pretende estocar alimentos e montar a sua barraca.
Patricio recorda que foi selecionado para o Muquiranas Brasil por meio das redes sociais. Inicialmente, o gaúcho sentia receio, temia que pudesse ser mal interpretado. Porém, foi convencido que poderia ajudar pessoas com o seu exemplo de vida mais simples. Mostrando que é possível ser feliz economizando recursos.
Minimalismo radical
A adesão de Patricio ao minimalismo radical (movimento antagônico ao consumismo, que se concentra no que é fundamental para viver) aconteceu após uma maré de azar, em 2010. Na mesma semana, o seu empreendimento faliu, o cachorro morreu e a ex o deixou.
Com a separação, Patricio conta que acumulou dívidas e ficou negativado. Para poder pagar o que devia, decidiu vender os móveis e eletrodomésticos da casa. Quando a situação se estabilizou, ele avaliou se precisava comprar tudo de novo.
— Achei melhor não. Já estava acostumado a viver de forma mais simples. Ia para o trabalho, curso e voltava para dormir. Para mim, estava confortável — atesta.
Em compensação, Patricio começou a cultivar plantas. Primeiro no pátio e, depois, dentro de casa. Foi quando a residência começou a passar por transformações, incluindo o telhado transparente.
— Era inverno quando instalei, o sol até esquentava um pouco dentro de casa. À noite também era bom, eu via a lua e as estrelas. Só que no verão, virava uma sauna (risos) — diverte-se. — Então, criei estratégias, abri mais portas e janelas para ficar mais arejado. Hoje em dia, já não é mais tão quente quanto antigamente.
Logo após a adesão ao estilo de vida minimalista, Patricio conheceu o sobrevivencialismo — movimento de pessoas que constantemente preparam-se para situações de emergências —, o que para ele se encaixou. Segundo o gaúcho, ele passou a ser mais responsável pela própria vida, sabendo se virar nas dificuldades do dia a dia, seja algum caos social, um conflito ou situação de desemprego. Ele frisa que não se prepara só financeiramente, mas também mentalmente e fisicamente.
— O que adianta o cara ter um bunker cheio de enlatado se a cabeça não está legal? Quero ter as minhas coisas estocadas para minimizar a chance de eu passar fome — sentencia.
Patricio alega que está sempre se preparando para ser menos dependente do sistema. Mas ao mesmo tempo em que leva uma vida rústica, é apaixonado por tecnologia — em sua casa, há tomada para carregar o celular. Ele está sempre se informando sobre inteligência artificial e anseia por drones que automatizem as atividades cotidianas.
Aliás, Patricio está sempre fazendo cursos. Segundo relata, ele procura se informar sobre coisas essenciais para a vida, preparando-se para situações difíceis, financeiras ou emocionais.
Entre os certificados de cursos que acumula estão tecnologia pneumática, economia pessoal, noções em contabilidade e instalações elétricas industriais. Atualmente, ele realiza curso técnico em enfermagem, curso de bombeiro civil, estuda desenvolvimento de games, massoterapia, entre outros. Patricio tem interesse em cursar a faculdade de Psicologia, mas está em dúvida se não iria preferir Enfermagem.
Por outro lado, o porto-alegrense reconhece que o seu estilo de vida talvez afaste as pessoas. Tanto que se prepara com antecedência para a situação de envelhecer sozinho.
— Já tentei me relacionar, mas as pessoas querem mudar o meu jeito ou que eu seja "normal". Não vou deixar de ser feliz para agradar alguém — explica.
Ele reflete sobre o convívio social:
— Diferentemente de uma pessoa extrovertida, que se energiza com a exposição social, eu me desgasto. Ao mesmo tempo, como sou um ser humano, preciso de um contato social. Nesse espectro, sou um pouco mais introvertido. Não significa que eu não quero falar com as pessoas, mas sim, que prefiro ter mais tempo para mim.
Porém, Patricio sente que evoluiu com o minimalismo radical. Alega que economizou tempo, energia e dinheiro. Ou, em outras palavras, economizou vida.
— É impressionante como a gente gasta com coisas que são só perda de vida. Hoje em dia, tenho tempo para fazer as coisas que amo, ficar com as pessoas que amo, tenho tempo para investir em mim e realizar meus sonhos — garante.
Em julho, Patricio deixou o emprego que tinha como operador de máquinas computadorizadas para focar no seu próprio empreendimento. E, pelo que ele conta, o Muquiranas Brasil deu uma forcinha:
— De certa forma, a TV fez propaganda do meu negócio. Teve gente entrando em contato comigo, querendo os meus serviços de hortas verticais sob medida, jardins verticais sob medida, além dos serviços de reaproveitamento de água.